A maior lição das Olimpíadas

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Todos sabem que os Jogos Olímpicos eram o evento mais importante da Grécia antiga, realizados a cada quatro anos em Olímpia em homenagem a Zeus, o deus supremo do panteão grego. 

Foram realizadas 293 Olimpíadas consecutivas durante mais de mil anos, de 776 A.C. a 393 D.C., envolvendo participantes de todo o mundo antigo.  A Grécia como país não existia: havia mais de 1.000 cidades-estados independentes, que governavam a si mesmos e frequentemente guerreavam entre si.  Atenas, Corinto, Delfos, Esparta, Tebas etc. obedeciam a uma “trégua olímpica” que durava até três meses.    

Naquela época os eventos esportivos eram associados a rituais fúnebres de heróis e mortos em batalha.  Vejam a importância: segundo a lenda, os jogos olímpicos teriam começado para comemorar a vitória de Zeus sobre Cronos, um dos Titãs – gigantes que governavam o Olimpo antes dos Deuses.  Os Titãs foram então condenados a viver em Tartarus, uma espécie de inferno para deuses na antiguidade.         

Há registros de 45.000 espectadores (homens, escravos e estrangeiros), em alguns dos principais Jogos Olímpicos.   Os atletas competiam nus.  Mulheres não podiam assistir nem competir.  Vendedores de comida, artesãos, músicos, poetas, políticos e filósofos aproveitavam ao máximo as multidões para divulgar seus produtos ou ideias.  Hoje em dia também é assim.

O ponto máximo do ritual olímpico era o abate de 100 bois.  Aparentemente havia picanha para quase todos.   Curiosamente, bois também serviam como padrão de troca naquela época: não valiam apenas votos.  Segundo a Ilíada de Homero, o pai de Odisseu pagou 20 bois por sua serva doméstica Euriclea.  Um caldeirão de bronze valia um boi; uma escrava habilidosa valia quatro bois; uma armadura de bronze nove bois. 

Um boi de 500 kg vale hoje no Brasil cerca de R$ 4 mil.  Dividindo o custo de 100 bois pelo tamanho da audiência, isso daria um custo aproximado de 9 Reais por cada voto de cada um dos 45.000 assistentes de uma Olimpíada antiga.  Uma pechincha em termos de marketing político.  Mas as coisas ainda não funcionavam assim.      

Os antigos Jogos Olímpicos foram oficialmente abolidos em 393 d.C. pelo Imperador Romano Teodósio I.  Ele quis promover o cristianismo e proibiu todas as celebrações pagãs, incluindo as Olimpíadas.  Cerca de 1500 anos depois, apenas em 1896 os Jogos Olímpicos modernos foram reiniciados por iniciativa do francês Barão de Coubertin.  Muitas coisas mudaram, outras continuam iguais.

De 1896 a 2024, as Olimpíadas geraram vários escândalos e controvérsias.  Os Jogos foram cancelados durante as duas guerras mundiais, houve muitos boicotes de vários países por razões políticas, houve atletas que trapacearam, usaram drogas, atletas profissionais se dizendo amadores, juízes acusados de parcialidade.  Em Munique, 1972, dois corredores americanos criaram polêmica ao fazer a saudação black power como protesto político e saíram vaiados do estádio.  Em uma das partidas mais controversas na história dos jogos, a final do basquete masculino em 1972, o time dos EUA parecia vencer o jogo contra o time soviético, mas os três segundos finais foram repetidos três vezes até que os soviéticos venceram.  Mas o caso mais dramático foi sem dúvida o assassinato de 11 atletas israelenses por terroristas palestinos do Setembro Negro também em Munique.

Em 2024, na França de um Presidente Macron que queria salvar a Amazônia, temos triatletas que ficaram doentes depois de nadar na poluição do rio Sena, temos a polêmica dos boxeadores trans competindo como mulheres, e, claro, a infeliz ideia do diretor artístico Thomas Jolly de misturar o banquete dos deuses ou a santa ceia com a cerimônia de abertura.  A ideia de abrir Paris ao mundo teria sido muito mais universal sem essa desnecessária provocação da contracultura.     

A natureza humana não parece ter melhorado muito.  Como sempre, em qualquer grande concentração de pessoas em qualquer lugar, encontramos a imensa diversidade da fauna humana em toda a sua beleza ou bestialidade.  As Olimpíadas não celebram mais os deuses pagãos há pelo menos 17 séculos.   Mas sempre temos aqueles que não perdem uma oportunidade para misturar religião, politicagem e esporte.  Uma pena.  O esporte, por definição a atividade mais saudável que existe, acaba virando pano de fundo para tantas atividades insalubres.

No meio de tanta insanidade, a maior medalha das Olimpíadas de Paris em 2024 deveria ser conferida ao lindo abraço entre a judoca brasileira Beatriz Souza e a judoca israelense Raz Hershko, respectivamente medalhas de ouro e de prata no judô categoria acima de 78 kg.  Por várias razões:  judô literalmente significa o “caminho da gentileza”.  Nota-se o respeito e o carinho entre as duas atletas, uma mulher negra e uma mulher branca abraçando histórias de vida diferentes, mas complementares.

Israel no meio de uma guerra contra os terroristas que simplesmente querem destruir o país, com a cumplicidade da “esquerda” e do extremismo islâmico mundial.  O Brasil no meio de outra guerra não-declarada na qual uma sargento do exército chora em Paris por sua vitória, certamente lembrando de todos os desafios que encontrou e venceu para se afirmar no esporte.  Israel, acusado injustamente por antissemitas do mundo inteiro de ser um regime de segregação racial (”apartheid”) é na verdade um país extremamente democrático e diverso, onde mais de 60% da população não é branca, 20% dos israelenses são árabes e ali se organiza a maior parada LGBT+ da Ásia e Oriente Médio.     

No abraço salutar das judocas não há a preocupação de politizar o momento, não há a hipocrisia de converter a vitória de uma e a derrota de outra em politicagem barata.  São duas mulheres vencedoras e honradas que sabem colocar a glória do esporte acima de qualquer conotação social, política, religiosa ou cultural.  As duas demonstram grandeza, firmeza de caráter e nos lembram da forma mais simples e profunda possível que, apesar de tudo, o espírito humano pode se elevar acima do tempo e do Olimpo ao permanecer eterno.

Obrigado, Beatriz.  Obrigado, Raz.  Usando o caminho da gentileza, vocês ensinaram uma importante lição ao mundo.       

Jonas Rabinovitch. Arquiteto urbanista com 30 anos de experiência como Conselheiro Sênior em inovação, gestão pública e desenvolvimento urbano da ONU em Nova York.  

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