Uma mensagem nos escombros

Ler na área do assinante

“Existe uma distância tão grande entre como se age e como se deveria agir que aquele que despreza o mundo real para viver num mundo imaginário encontrará antes sua ruína do que sua salvação”. (Maquiavel - O Príncipe).

Há uma sensação diária de derretimento do país. Uma espécie de cansaço que envolve todos os habitantes. Parece que todos nós vagamos em meio aos destroços de uma guerra invisível procurando respostas para o caos em que nos encontramos. Esclarecimentos. Sim, carecemos de explicações. Tateamos em meio às ruinas e procuramos algo que nos dê esperança. Uma mensagem em meio aos escombros ou uma explicação. Como chegamos a esse ponto?

Talvez a explicação seja Paul Joseph Goebbels. Ele foi Ministro da Propaganda na Alemanha Nazista entre 1933 e 1945. Era um dos gênios do mal que assessoravam Adolf Hitler. Tinha uma capacidade extraordinária de oratória em público. Era fanático e antissemita. Divulgava que havia uma conspiração internacional judaica e isso o levou a apoiar o extermínio dos judeus no Holocausto.

Doutor em Filologia, em 1924 aderiu ao Partido Nazista. Em 1926, foi nomeado Gauleiter (líder distrital) por Berlim, onde começou a interessar-se pela utilização da propaganda para promover o partido e o seu programa. Em 1933 foi nomeado Ministro da Propaganda de Hitler e obteve o controle absoluto da imprensa, arte e informação. A Alemanha foi inundada por peças de propaganda que exaltavam os nazistas afirmando que eles eram amorosos, dedicados e cuidavam dos filhos da pátria. Hitler era o grande pai que jamais deixava faltar o que quer que fosse aos filhos queridos. Goebbels, astuciosamente infiltrava princípios nazistas nas propagandas do Estado e dessa forma modelava a moral do povo alemão.

Algo parecido acontece hoje na Venezuela e no Brasil.

Em 1943, Goebbels pressionou Hitler e este introduziu medidas que ele chamou de “guerra total”, isto é todas as forças da Alemanha deveriam participar da guerra, sem exceção. Em 23 de julho de 1944, Hitler nomeou-o Plenipotenciário do Reich para a Guerra Total.

Com o avanço dos aliados a guerra chegava ao fim. Em 30 de abril de 1945 Hitler cometeu suicídio. “De acordo com o seu testamento, Goebbels era o seu sucessor como Chanceler da Alemanha; este, apenas esteve um dia no seu novo cargo. No dia seguinte, Goebbels e a sua mulher suicidaram-se, depois de terem matado os seus seis filhos com cianeto”.

Golbbels deixou para a posteridade 11 princípios de propaganda. Modernamente esses princípios são combinados aos princípios marxistas de tomado e conservação do poder. Eles são aplicados sobre as populações dos países em peças de propaganda e para que funcione, são combinados entre os poderes.

Eis os 11 princípios de Goebbels em ação:

1º. Princípio da simplificação e do inimigo único.

Consiste em escolher um oponente e depositar sobre ele todos os males e os defeitos possíveis. Não importa se são verdadeiros ou não. Veja a aplicação do principio:

- O inimigo é Bolsonaro. Ele representa todo mal que existe sobre a terra. Bolsonaro destruirá a democracia, aniquilará todos os privilégios alcançados pelos socialistas. Isto significa que a “boca livre”, o “quem indica” e o também “quero o meu”, e as regalias de todos os tipos serão extintas. Ele precisa ser detido.  Bolsonaro é genocida. Bolsonaro é contra a ciência. Bolsonaro é militar e todos os militares são corruptos, são maus, são tirânicos, basta ver 64. Bolsonaro é um autocrata, ele quer instalar uma nova ditadura no Brasil. Bolsonaro precisa ser preso, tem que ser eliminado. Ele recebeu presentes de outros chefes de estado, joias. Presentes.  Não roubou, mas é ladrão; não matou, mas recebeu uma facada que quase lhe tirou a vida, mesmo assim é assassino; é um genocida, mas comprou 600 milhões de vacinas durante a pandemia. Bolsonaro tem que ser eliminado.

2º. Princípio do método de contágio:

Esse principio consiste em acusar de perversidades todos os que tem simpatia pelo opositor e reuni-los em um grupo que divulga dia e noite todas as iniquidades do líder. Eles foram contagiados, contaminados pelo condutor. Os acusadores, imediatamente, inventam uma alcunha para denominar o grupo, aqui: Bolsonaristas. Eles possuem todas as qualidades negativas impingidas ao suposto líder. São bárbaros. Destruirão tudo. Vão pilhar o governo. Destruir as instituições. Vão instalar o mal, destruir o governo do “amor”, destruir “as urnas eletrônicas”, aplicar um golpe de estado ou a abolição violenta do Estado Democrático de Direito.

Não interessa se você pertence ou não a esse grupo, basta ter simpatia, basta não comungar das roubalheiras cometidas pelos atuais detentores do poder, em governos passados ou neste governo. Você também foi infectado. Deve ser punido.

3º. Princípio da Transposição.

A aplicação desse principio acontece quando os malfeitos acontecidos em diferentes governos no passado são traspostos para o presente. Mesmo que o oponente não tenha qualquer identificação com as acusações. Ao inimigo devem ser imputados todos os crimes possíveis e outros delitos devem ser inventados. Coisas como um cartão de vacina se tornam acusações gravíssimas. Uma palavra colhida em qualquer parte é uma tentativa de golpe de estado. Um telefonema.  Um e-mail. Uma foto ou um filme que você assistiu com amigos estabelecem vínculos com o grupo e são bases de acusações através de arranjos fantásticos inventados pelos acusadores.

4º. Princípio da Exageração e desfiguração.

Aqui a oposição é a mãe de todos os delitos. Os acusadores transformam pequenos incidentes em grandes crimes. E se esses crimes não aconteceram ainda irão acontecer. São uma grave ameaça a sociedade. Ao desfigurar o líder exagerando e difundindo noticias falsas criam medo e insegurança. O causador de todos esses males deve ser eliminado. Basta ver o vídeo divulgado milhares de vezes por todos os setores da imprensa com a cabeça de Bolsonaro decapitada. Isto não era suficiente. Era preciso fazê-la de bola, chutá-la, jogar futebol com ela, afinal o grupo que divulga o “amor” também precisa se divertir. E a maior diversão seria chutar a cabeça do capitão que fazia oposição ao grupo de corruptos que se apossaram da nação.

5º. Princípio da Vulgarização.

O Merchandising deve ser o mais raso possível. Deve conter elementos fáceis de ser entendidos pelo povão.  O principio da vulgarização estabelece que a grande massa deve fazer o mínimo de esforço para entender a mensagem. A propaganda deve ter efeito imediato.  O entendimento da mensagem exige que o inimigo do regime faça ações torpes, vulgares, tolas e quase inacreditáveis para o nível mental de todos aqueles que são torpedeados pela propaganda. O exemplo mais claro é a acusação contra Bolsonaro de genocídio. De genocida. Sem que a população tivesse qualquer explicação sobre o que é genocídio.  Notem o fato e a acusação propagada: um vírus desconhecido, uma pandemia onde não existiam vacinas, e mortes. Esse é o fato.  Eis a acusação propagada: Por que não acusa-lo pelas mortes?  Por que não culpa-lo, já que não existiam culpados? Então, da noite para o dia, Bolsonaro tornou-se o culpado pelas mortes causadas por um vírus desconhecido.

O principio da vulgarização não permite que a verdade venha à tona. E mesmo que ela venha o acusado já está manchado.

6º. Princípio da Orquestração.

Esse principio, como o nome já afirma, necessita de que todos, como uma grande orquestra, façam ressoar as mensagens negativas sobre o acusado. Todos devem repeti-la incessantemente. Em pequenas doses, diferentes atores repetem o enredo.  Os boatos mentirosos são ecoados em distintos setores da sociedade onde pessoas conversam: igrejas, bares, mercados... E de repente tudo se transforma em noticia. E o “Consórcio de Imprensa” repete “ad nauseam” os boatos que se transformam em noticias: golpistas, adoradores de pneus, contra a ciência. As associações servem para assassinar os conceitos que as pessoas com pouco conhecimento possuem do assunto. Apenas a manchete serve: Golpistas!!!

Pronto, a corrupção da verdade está estabelecida. Afinal, para onde o zé-povinho se vira uma voz ecoa em seus ouvidos fazendo com que os débeis conceitos adquiridos sejam substituídos por outros.

7º. Princípio da Renovação.

Os boatos fantasiosos sobre o adversário do sistema devem sempre ser atualizados e quando forem respondidos e desmentidos, devem ser substituídos por outros. Como ondas que não param eles devem sempre ser renovados para que os receptores sintam que o inimigo é visível, violento e não cessa de cometer crimes. Cada boato deve superar o anterior. Afogado em informações falsas que se repetem constantemente, o homem comum não tem tempo para raciocinar ou confrontar os fatos.

Um exemplo claro é o do jornalista Ruy Castro, da Folha, que todos os dias inventava coisas sobre Bolsonaro. Eis um dos títulos de seus textos publicados na Folha: “Golpista, genocida ou ladrão?” 6 de setembro de 2023. Em outro texto, datado de 26 de janeiro de 2021, cujo título era “Novos xingamentos contra Bolsonaro”, ele afirmava:

“Desde sua posse, Jair Bolsonaro já foi chamado de cretino, grosseiro, despreparado, irresponsável, omisso, analfabeto, homófobo, mentiroso, escatológico, cínico, arrogante, desequilibrado, demente, incendiário, torturador, golpista, racista, fascista, nazista, xenófobo, miliciano, criminoso, psicopata e genocida. Os autores dessas desqualificações são cidadãos comuns que escrevem mensagens para os jornais, produzem memes e entopem as redes sociais. Está tudo registrado e seria divertido ver o governo processar tal multidão”.

Para desmentir o jornalista basta pensar quem são esses “cidadãos comuns” que ele afirma que escrevem, mas não mostra a fonte. São mesmos comuns ou são todos petistas/socialistas/comunistas de carteirinha e ligados aos que assaltaram a nação recentemente? Ele não diz onde colheu a informação, mas basta olhar os blogs vermelhos que toda informação está lá.

O Principio da Renovação é aplicado todos os dias pelos jornalistas militantes.

8º. Princípio do Verossímil.

Esse princípio se utiliza do argumento de que todos aceitaram a informação falsa divulgada. E funciona assim: as redes de rádio, tv e jornais, buscam especialistas que interpretam as informações e dão diferentes opiniões sobre ela. Há uma fragmentação de opiniões, mas todas tem um mesmo alvo, um mesmo objetivo: o inimigo que ameaça o sistema. Os grandes meios de comunicação promovem esses debates, mas o truque é fazer com que os assistem a pantomima fantasiada de verdade não percebam a falsidade da informação debatida.

Um exemplo claro é a viagem de Filipe Martins, ex-auxiliar de Bolsonaro, que foi preso acusado de viajar aos Estados Unidos na comitiva presidencial. Todas as provas mostravam que ele estava em Curitiba. Mas para tornar verossímil a narrativa espelhada com estardalhaço em todos os jornais, o ministro Alexandre de Moraes manteve Filipe preso, ilegalmente, durante 6 meses.

Nesta sexta, segundo a CNN, Morais determinou a soltura do ex-assessor

9º. Princípio do Silêncio.

Tudo o que houver de verdadeiro e de sucesso sobre o fictício inimigo do sistema deve ser silenciado. Nenhuma noticia ou argumento que beneficie o adversário deve ser divulgado. É preciso ocultar todo e qualquer esclarecimento que possa favorecer o adversário. Ele é o inimigo. É diabólico. E assim deve ser tratado. A trama da ocultação deve envolver diferentes órgãos e contar com a cumplicidade de seus chefes.

Um exemplo do emprego desse principio é o fato de que Bolsonaro quando exercia a Presidência (em 4 anos) entregou mais de 420 mil títulos de terra beneficiando agricultores.  Esse número é maior que os dois mandatos, entre 1995 e 2002, de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e dos governos petistas de Lula e Dilma, entre 2003 e 2016.

O fato deve ser escondido, deve permanecer oculto, pois isso desbanca a argumentação da Reforma Agrária e das invasões de terras promovidas pelo MST. Além de tudo o exercito de Stédile seria desativado.

10º. Princípio da Transferência.

Esse principio é sempre lembrado e aplicado pelos petistas. Ele afirma que há um ódio ancestral dos brancos contra os pretos. Dos brancos contra os índios. Dos brancos ricos contra os pobres. E isso é assim porque sempre foi assim. Alguns, em sua explanação abastada de patetices chegam a afirmar que o culpado dos pobres serem pobres são os ricos. Se os ricos desaparecessem todos os pobres se tornariam ricos...

Esses argumentos infantis visam despertar nas pessoas ingênuas sentimentos de ódio, de desprezo, de vingança. Então a palavra da moda vem à tona: preconceito. Todos os que conseguiram ter sucesso por mérito pessoal são preconceituosos. Gritam que há preconceito contra as esquerdas porque as esquerdas lutam pelos pobres, mas não dizem que onde as esquerdas tomaram o poder todos os países se tornaram ditaduras. Também não informam que essas esquerdas amorosas, onde se instalaram, assassinaram mais de 100 milhões de pessoas que não aceitavam a ideologia dos comunas.

Janja, a mulher de Lula, disse que ressignificaria o papel de primeira dama, pois todos os que não eram da seita petista tinham preconceitos contra os projetos de inclusão social, contra as cotas e contra os nordestinos. E foi gastar o dinheiro dos pobres brasileiros que ela tanto defende em Paris. Essa é a ressignificação que as esquerdas sempre fazem para beneficiar os pobres: discursos falsos. E quando metem a mão no dinheiro dos pobres que pagam impostos vão para os países capitalistas que eles tanto criticam, passear, hospedar-se em hotéis luxuosos e desfrutar de tudo aquilo o capitalismo oferece.

Notem que ao usar o principio da transferência e acusar todos aqueles que trabalham e conseguiram algum sucesso de preconceituosos, desperta-se naquele que recebe essa mensagem aversão a outros seres humanos. Ódio contra tudo e contra todos. Assim Bolsonaro foi esfaqueado.

11º. Princípio de Unanimidade.

O Principio da Unanimidade fecha o ciclo perverso que norteia aqueles que se utilizam dessas ferramentas para enganar os demais. Nele os outros dez princípios descritos agrupam-se e convergem para espancar aquele que não concorda com o sistema corrupto estabelecido. Aqui todos são unanimes em afirmar que o ilusório inimigo é o mal absoluto. E o mal deve ser eliminado. Todos estão de acordo que algo deve ser feito. Essa licença para extirpar o mal deve ser dentro e fora da lei. É o uso e o abuso de todos os instrumentos legais e ilegais que o Estado possui. É a licença para matar. Exterminar. Afinal, há uma unanimidade entre todos de que alguém quer fazer cessar os privilégios dos que estão no poder e esse alguém deve ser afastado a qualquer preço.

Um exemplo à vista de todos é a perseguição sem tréguas ao ex-Presidente, seus assessores e a todos aqueles que participaram dos protestos que acabaram em depredação dos prédios públicos. Todos são chamados de golpistas e estão sendo condenados por cinco crimes: abolição violenta do Estado Democrático de Direito, dano qualificado, golpe de Estado, deterioração do patrimônio tombado, associação criminosa. A todos multas milionárias são aplicadas, além de penas que vão a 17 anos de cadeia.

Disse, no inicio do texto, que todos nós vagamos em meio a escombros e que procuramos uma mensagem e uma explicação. A explicação são os princípios de Goebbels. A mensagem, bem a mensagem positiva está no fato de compreendermos a explicação e nunca mais depositar um voto de confiança em quem assaltou o país.

Um Feliz Dia dos Pais!

Foto de Carlos Sampaio

Carlos Sampaio

Professor. Pós-graduação em “Língua Portuguesa com Ênfase em Produção Textual”. Universidade Federal do Amazonas (UFAM)

Ler comentários e comentar