Às Urnas, Cidadãos!! Às Urnas??

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“Para o triunfo do mal só é preciso que os bons homens não façam nada”. (Edmund Burke).

Em 1789 o povo francês saiu às ruas cantando a Marselhesa, hino da pátria que varreu com cantos e atos terríveis a Monarquia absolutista da França e inspirou outros países a fazerem o mesmo com todas as monarquias. Assim dizia a canção que incitava a defesa da pátria e o fim das injustiças nas duas primeiras estrofes em tradução livre:

Allons enfants de la Patrie, (Avante, filhos da Pátria,)
Le jour de gloire est arrivé! (O dia da Glória chegou!)
Contre nous de la tyrannie, (Contra nós da tirania,)
L'étendard sanglant est levé, (O estandarte ensanguentado se ergueu)
Entendez-vous dans les campagnes (Ouvis nos campos)
Mugir ces féroces soldats? (Rugir esses ferozes soldados?)
Ils viennent jusque dans vos bras (Vêm eles até os vossos braços)
Égorger vos fils, vos compagnes! (Degolar vossos filhos, vossas mulheres!)
Aux armes, citoyens, (Às armas, cidadãos,)
Formez vos bataillons, (Formai vossos batalhões,)
Marchons, marchons (Marchemos, marchemos!)
Qu'un sang impur (Que um sangue impuro)
Abreuve nos sillons! (Banhe o nosso solo!).

Em julho de 2024 o povo Venezuelano cansado de tanto sofrer nas mãos do Ditador Maduro vislumbrou a oportunidade de se libertar e saiu às ruas brandindo, não armas, pois o primeiro ato que qualquer ditador faz ao se apossar do poder é criar leis e justificativas para tomar as armas dos cidadãos, mas títulos eleitorais que permitiam ao povo violentado em seus direitos expressar sua vontade contra a forma de governo e quem deveria governar.

Era uma arapuca.

E a armadilha havia se configurado meses antes do pleito: Maduro negou direito a voto a cerca de 4,5 milhões de venezuelanos que vivem exilados, (o regime de Maduro já expulsou cerca de 8 milhões de venezuelanos), a maioria dos que queriam voltar ao país para votar representam cerca de 20% do total de eleitores do país. 

Maduro impediu Maria Corina Machado de se candidatar; prendeu ativistas da oposição; censurou a mídia. Impediu a substituta de Maria Corina se candidatar. E finalmente cedeu e González Urrutia se tornou candidato.

Maduro ameaçou o país com um banho de sangue se não vencesse as eleições. Mesmo com toda pressão o povo não cedeu. Todas as pesquisas antes da eleição mostraram que o candidato da oposição, González Urrutia, tinha uma vantagem de pelo menos 25 pontos percentuais em relação a Maduro. 

Uma pesquisa pré-eleitoral da consultoria ORC deu a González Urrutia 60% dos votos, contra 14,6% de Maduro.

Pesquisa realizada no dia das eleições pela Edison Research, a respeitada empresa que realiza pesquisas para as principais redes de televisão dos Estados Unidos e de outros países, concluiu que González Urrutia obteve 64% dos votos, enquanto Maduro obteve apenas 31%. 

A pesquisa de boca de urna da Edison Research entrevistou 6.846 eleitores em 100 centros de votação em toda a Venezuela.

Todas as pesquisas de boca de urna mostraram vitória de Urrutia. 

O vice-presidente executivo da Edison, Rob Farbman, à estação de rádio colombiana FM mostrou que “foi basicamente uma vitória esmagadora de González (Urrutia) e da oposição”, acrescentou ele.

Como eu disse, era uma armadilha. Maduro montou uma farsa. O TSE boliviano se chamou CNE e na noite das eleições, além de atrasar o primeiro anúncio dos resultados por seis horas, proibiu os representantes da oposição de acessar os centros de contagem do Conselho Nacional Eleitoral.

Então o CNE anunciou o resultado: Maduro venceu com 51% dos votos.

Jorge Tuto Quiroga, ex-presidente boliviano, convidado e impedido de observar as eleições junto com outros presidentes, que não conseguiram entrar no país, disse:

- “Este foi o maior roubo eleitoral da história moderna da América Latina”.

Mas a trama de Maduro tinha falhas. E a falha veio do lugar mais inesperado: as Urnas Eletrônicas. Na Bolívia, diferente do Brasil, as Urnas Eletrônicas emitem comprovante de voto que são depositados em uma urna. Além disso, após o resultado cada sessão eleitoral emite e as Atas de Votação perante todos os presentes que são impressas e distribuídas.

A oposição, espertamente, esperou e recolheu as Atas de Votação. Quando o CNE percebeu, já era tarde. 80% das Atas já estavam nas mãos da oposição. É por isso que Maduro foi empossado antes da contagem final dos votos. Mesmo assim o que resta e que vai ser adulterado não cobre a diferença de votos alcançados por Urrutia.

As Atas nas mãos da oposição, segundo Corina Machado, mostram que González Urrutia obteve 70% dos votos, contra 30% de Maduro.

A OEA (Organização dos Estados Americanos) emitiu um comunicado no dia 30 de julho de 2024, acompanhando os países da comunidade internacional que não reconhecem a vitória do ditador venezuelano:

O texto aponta que o regime de Maduro zombou da comunidade internacional ao não cumprir a promessa que fez em 2013. Na ocasião, o ditador se comprometeu a auditar 100% das atas eleitorais do país, o que não foi cumprido. 

Eis o que disse a OEA:

- “Comunicado do Gabinete do Secretário-Geral sobre o Processo Eleitoral na Venezuela e Relatório da Secretaria para o Fortalecimento da Democracia/Departamento de Cooperação e Observação Eleitoral
30 de julho de 2024.
A pior forma de repressão, a mais vil, é impedir o povo de soluções através de eleições. A obrigação de cada instituição na Venezuela deveria ser garantir a liberdade, a justiça e a transparência do processo eleitoral. O povo tinha que ter as máximas garantias de liberdade política para poder expressar-se nas urnas e proteger os direitos dos cidadãos a serem eleitos. 
Ao longo de todo este processo eleitoral assistimos à aplicação por parte do regime venezuelano do seu esquema repressivo complementado por ações destinadas a distorcer completamente o resultado eleitoral, colocando esse resultado à disposição das mais aberrantes manipulações. Continua até hoje.  
O regime de Maduro zombou de atores importantes da comunidade internacional durante estes anos e mais uma vez entrou num processo eleitoral sem garantias, mecanismos e procedimentos para fazer cumprir essas garantias. O manual completo de gestão fraudulenta do resultado eleitoral foi aplicado na Venezuela na noite de domingo, em muitos casos de forma muito rudimentar.
Tem-se falado em auditoria ou recontagem de atas de material eleitoral que não teve as menores condições de segurança e controle. Da mesma forma, devemos ter em mente que, no que diz respeito às auditorias, o regime está pelo menos 11 anos atrasado, quando se comprometeu com a UNASUL (em reunião em 18 de abril de 2013 em Lima) a auditar 100% das atas do processo . eleição de 14 de abril de 2013. É óbvio dizer que nunca foi cumprida. É óbvio que uma nova zombaria seria inadmissível.
Tendo em conta que o comando da campanha da oposição já apresentou a ata pela qual teria vencido as eleições e o Madurismo, incluindo a CNE, ainda não conseguiu apresentar a ata pela qual teria vencido, o que neste momento seria risível e patético se não fosse trágico; Neste contexto, é imperativo conhecer a aceitação por parte de Maduro dos recordes da oposição e, consequentemente, aceitar a sua derrota eleitoral e abrir o caminho para o regresso à democracia na Venezuela. Não o fazer, exigiria novas eleições, mas neste caso com a presença das MOE da União Europeia e da OEA e uma nova CNE para reduzir a margem de irregularidade institucional que assolou este processo.
O peso da injustiça sobre o povo da Venezuela continua, que as pessoas são vítimas mais uma vez da repressão, sem dúvida a característica governamental mais relevante, fruto de uma gestão ineficiente que semeou as mais graves crises humanitárias e migratórias que já ocorreram. a região.
Não faz muito tempo, o secretário-geral Luís Almagro expressou que 'nenhuma revolução' pode deixar as pessoas com menos direitos do que tinham, mais pobres em valores e princípios, mais desiguais nas instâncias de justiça e representação, mais discriminadas sobre onde está seu pensamento ou seu norte político.”

Após a farsa das eleições ser desmascarada, Maduro endureceu o regime. Segundo o Estadão:

-“O Ministério Público da Venezuela, comandado pelo chavista Tarek William Saab, atualizou nesta quarta-feira, 31, o número de presos para 1.062 desde o início das manifestações contra os resultados eleitorais de domingo. O procurador, porém, não divulgou cifras de mortos, o que, segundo a organização Foro Penal, já está em 11”.

- “A líder da oposição na Venezuela, Maria Corina Machado, afirmou nesta 4ª feira (31.jul.2024) que ao menos 16 pessoas morreram em protestos contra a reeleição do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro (Partido Socialista Unido da Venezuela, esquerda). Disse ela em publicação no X (ex- Twitter):

- “Agora, depois da retumbante e inapelável vitória eleitoral que nós, venezuelanos, alcançamos em 28 de julho, a resposta do regime é assassinato, sequestro e perseguição”, afirmou.

No fim da publicação, Corina se solidarizou com os familiares das vítimas de violência. Ainda disse que a oposição teria mais um motivo para lutar contra o governo de Maduro.

- “Aos familiares dos assassinados, aos presos, aos perseguidos, aos feridos por defenderem a vitória eleitoral de 28 de julho, envio-lhes a minha palavra de solidariedade e a minha convicção de que vamos consolidar a vitória que obtivemos. Eu já disse a vocês que vamos até o fim e vamos até o fim! Agora temos um novo motivo: o sacrifício que vocês fazem e fizeram”, afirmou.

O amiguinho de Maduro, Lula, perguntado sobre os acontecimentos na Venezuela, disse, para o espanto de todos, em uma entrevista para a Rede de TV Matogrossense que “não viu nada de grave, nada de assustador”. 

E continuou:

- “Tem uma briga, como vai resolver essa briga? Apresenta a ata. Se ata tiver dúvida entre oposição e situação, oposição entra com recurso e vai esperar na Justiça tomar o processo. Aí vai ter a decisão, que a gente tem que acatar”, disse. Não passa de má-fé”.

A Justiça na Venezuela é controlada por Maduro. Os Juízes são controlados por Maduro. A Suprema Corte é controlada por Maduro. A quem a oposição poderia recorrer? 

O Exercito é controlado por Maduro. O CNE, a Procuradoria da República, todos obedecem a ordens de Maduro e Lula, cinicamente, diz a oposição deve entrar com recurso.

O PT, aliado incondicional de Maduro soltou uma nota reconhecendo a eleição de Maduro:

- “O PT reconheceu nesta segunda-feira a reeleição do presidente venezuelano Nicolás Maduro, após a homologação dos resultados pelo Conselho Nacional Eleitoral sob protestos da oposição e de diferentes países, que contestam a lisura do pleito. Em nota assinada pela executiva nacional, o partido classificou o processo eleitoral do país vizinho como uma "jornada pacífica, democrática e soberana" e disse que espera que o governo eleito "continue o diálogo com a oposição". Por meio do comunicado, a sigla manteve o alinhamento com o governo de Maduro, sustentado historicamente pela legenda e também por sua presidente, a deputada federal Gleisi Hoffmann”.

Ao reconhecer Maduro como eleito o PT participa da farsa eleitoral. Rápidos em pedir punição para os depredadores dos prédios públicos em Brasília que Lula, o TSE e o PT chamam de golpistas no Brasil, Lula e o PT não se envergonham de apoiar o golpista Maduro na Venezuela.

Quanto ao TSE brasileiro o ditador Maduro disse em discurso que o sistema eleitoral de seu país:

- "É o melhor do mundo".

E comparou-o com o do Brasil, acusado por ele de não auditar as eleições.

- "Aqui temos 16 auditorias. Em que outra parte do mundo fazem isso? [...] No Brasil não auditam um único registro", disse para uma multidão apoiadora do chavismo.

O “consórcio de imprensa”, voz oficial de Lula, imediatamente afirmou que Maduro não tinha provas de suas afirmações.

Imediatamente o TSE brasileiro começou uma grande propaganda das Urnas Eletrônicas em todos os canais de televisão gastando milhões e mostrando como são seguras as urnas, como são fortes, como são lindas, como o brasileiro deve ser sentir seguro em utilizar urnas que não imprimem votos. Tudo isso não parece ser coincidência.

Incomodado, Barroso, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), fez palestra na Academia Brasileira de Letras (ABL), no Rio de Janeiro, nesta terça-feira (30), e disse, segundo a Gazeta do Povo, que o que aconteceu nas eleições presidenciais da Venezuela não tem chance de acontecer no Brasil.

Segundo o ministro, o sistema eletrônico de votação mantido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) garante a segurança e a confiabilidade das eleições brasileiras.

O Ministro esqueceu-se de dizer que as urnas eletrônicas brasileiras, que nenhum país do mundo adota, mas ele afirma que são as melhores do mundo, não imprimem votos para serem colocados em uma urna à parte e serem confrontados com a versão impressa da máquina de votação, como fazem todos os sistemas eletrônicos de votação em todo mundo. E fez uma revelação que deixa todos nós de cabelo em pé:

- “O Supremo atuou intensamente contra o voto impresso no Brasil, que sempre foi o caminho da fraude de uma maneira geral. Isso que está acontecendo na Venezuela hoje, não tem nenhuma chance de acontecer no Brasil [...] A votação é eletrônica, o código-fonte é aberto. Um ano antes, todo mundo pode visualizar. Observadores estrangeiros, imprensa, polícia, todo mundo pode olhar. As urnas nunca entram em rede. Elas não são ‘hackeáveis’”, garantiu o ministro.

A confissão é clara: O supremo atuou intensamente contra o voto impresso no Brasil!! E agora, deputados? E agora, Senadores?

Após a reação do TSE, Maduro voltou a criticar a Corte eleitoral brasileira e disse que o Tribunal ficou incomodado com uma versão “deturpada” da sua fala, mas que falou a “verdade”.

- “O sistema eleitoral venezuelano é o sistema mais seguro que se conhece. Dezesseis auditorias. Que ninguém se incomode no mundo, porque esses dias eu disse em relação a um país e se incomodaram. O Tribunal Eleitoral do Brasil se incomodou com uma versão deturpada que publicou o [jornal] O Globo, no Brasil. Mas eu disse uma verdade. Onde fazem 16 auditorias? Em nenhum lugar”, afirmou Maduro durante ato com embaixadores e observadores da eleição convidados por ele.

Então ficamos assim: o Brasil tem o melhor sistema eleitoral do mundo, segundo Barroso e a Venezuela tem o melhor sistema eleitoral do mundo, segundo Maduro. Alguém acredita?

Disse Guzzo, em artigo para o Estadão intitulado: “Lula mostra quem realmente é ao tratar como normal a eleição fraudada na Venezuela”.

- “O que Lula e a extrema esquerda sob o seu comando estão dizendo, porque se sentem confiantes para dizer, é que todo mundo vai ter de ficar quietinho e obedecer ao resultado que o TSE vai declarar daqui a dois anos para a eleição no Brasil.
Lula ficou ao lado de Cuba, Rússia e Irã no apoio à fraude de Maduro - mais China, Coréia do Norte e outros paraísos da democracia mundial. Não está ligando a mínima para a folha corrida da turma em que enfiou o Brasil; é junto com esses mesmos, na verdade, que ele quer ficar para sempre.
Quem não gostar que vá se queixar no Comando do Exército, no Supremo e no TSE; o último que foi reclamar lá, na eleição de 2022, saiu com uma multa de 22 milhões de reais no lombo, para não incomodar mais a “normalidade democrática”. É isso que Lula está afirmando com a sua declaração de amor à trapa, feita com sangue, do companheiro Maduro”.

Ao marchar sem armas, diferente do povo francês que cantava a Marselhesa, apenas com os títulos eleitorais nas mãos, confiando nas palavras de ditadores perversos que controlam todos os setores do país, inclusive as urnas eletrônicas, o povo da Venezuela foi esbulhado em sua boa-fé e a humanidade ficou mais pobre.

Finalizo lembrando que um semi-analfabeto, que nunca leu um livro e se diz comunista, comanda no Brasil os destinos de duzentos e dez milhões de pessoas.

E na Venezuela, um ex-motorista de ônibus detém o poder sobre a vida de trinta milhões de almas.

Os dois são unha e carne. A atuação nefasta desses dois sem-noção sobre seus povos envergonha qualquer ser humano que possua mais de dois neurônios em seu cérebro.

Bom final de semana a todos.

Foto de Carlos Sampaio

Carlos Sampaio

Professor. Pós-graduação em “Língua Portuguesa com Ênfase em Produção Textual”. Universidade Federal do Amazonas (UFAM)

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