Encontro do MST expõe novo “código de ética” linha dura do PT

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Uma mensagem não tão estranha, porém assustadora, evidenciou uma grande mudança na postura da esquerda brasileira. Para quem acompanha o cenário e a escalada do autoritarismo do judiciário, somado às mudanças na Polícia Rodoviária Federal e ao teste de alinhamento ideológico na mesma instituição, com o governo Lula, é claro que não se trata apenas de uma simples postura eleitoral temporária. 

Dirigentes do Partido dos Trabalhadores (PT) e marketeiros envolvidos nas últimas campanhas eleitorais da legenda se reuniram em um evento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) para discutir e orientar como os candidatos a vereadores, prefeitos e vice-prefeitos devem se portar para atrair o eleitorado. Até aí, tudo bem. É época de pré-campanha, e esse movimento é considerado normal entre todos os partidos que estão qualificados a lançarem candidaturas em todo o território nacional. 

O que chamou a atenção foi o discurso do presidente da Fundação Perseu Abramo, Paulo Okamotto, presente na reunião acompanhado da presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann. 

Okamotto revelou uma conversa que teve com Lula em particular, onde o presidente manifestou preocupação com o distanciamento entre o PT e suas bases sociais e defendeu que o partido precisa de parlamentares que sirvam ao partido, e não o contrário. Segundo Okamotto, Lula vibrou ao ouvir que ele falaria com os membros do MST. 

Em outras palavras, Lula coloca o partido como prioridade, à frente dos deveres parlamentares de servir o povo, respeitar o estado democrático de direito e a própria constituição. Para aqueles que não conhecem a história recente e não sabem como funcionam os estágios de instalação de regimes autoritários e ditaduras, a matéria pode parecer alarmista e sensacionalista. 

Mas é aqui que mora o “pulo do gato”. Essa observação fácil, quase como um pedido, soado como uma ordem e nitidamente como um recado direto que trata da postura que o político de esquerda deverá adotar de agora em diante, partiu de Paulo Okamotto e não da presidente nacional do PT e deputada federal, Gleisi Hoffmann. Entra em cena a figura dos “leões de chácara”, os “faz-tudo”, “aqueles que sujam as mãos”. E projeto de ditadura que se preze, óbvio, que é necessário a figura do carrasco por procuração. 

Mas o que há de tão perigoso em Lula enfatizar que o partido está acima de qualquer outro propósito dos parlamentares eleitos pela legenda? O problema reside não só na mudança de postura, mas em todo o contexto das narrativas, ações e movimentações do líder comunista empossado, antes e depois de assumir a presidência. Principalmente também no contexto geral das ideologias autoritárias que resultaram em regimes verdadeiramente violentos e perseguidores.

Historicamente, ditadores comunistas enfatizavam a lealdade ao partido como essencial para a unidade, disciplina e eficácia do regime. Líderes como Josef Stalin, Mao Zedong e Kim Il-sung destacavam a necessidade de fidelidade incondicional ao Partido Comunista, considerando-a crucial para a luta contra inimigos internos e externos. A disciplina partidária era fundamental, com Mao, por exemplo, enfatizando a obediência absoluta às decisões do partido para a construção do socialismo. 

A luta contra o revisionismo era vista como uma defesa da pureza ideológica, e líderes como Nikita Khrushchev combatiam desvios dos princípios leninistas. A propaganda e os sistemas educacionais eram utilizados para inculcar a lealdade ao partido, enquanto textos como o "Livro Vermelho" de Mao disseminavam os princípios do marxismo-leninismo. Deslealdade era severamente punida, como exemplificado pelos Grandes Expurgos de Stalin, onde milhões foram perseguidos, presos ou executados por suspeita de traição. A lealdade era promovida como um compromisso ideológico necessário para a construção de uma sociedade socialista justa, e a repressão brutal era frequentemente usada para reforçar essa lealdade. 

Mas quem é Paulo Okamotto? Figura histórica do PT e amigo pessoal do atual presidente Lula, Okamotto é visto dentro da legenda, principalmente pelos “cabeças brancas” da sigla partidária, como uma espécie de “leão de chácara” ideológico e ultra protetor das convicções do mandatário majoritário da causa, Lula. 

Histórico de Paulo Okamotto: 

Em 1981, Okamotto trabalhava como fresador de ferramentaria na Inbrac, em Diadema. Ele integrou a diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC em 1981, no primeiro mandato de Jair Meneguelli, como diretor de finanças. Cumpriu mais dois mandatos como segundo secretário e diretor do departamento jurídico. 

Em 1989, trabalhou como tesoureiro da campanha presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva, na primeira eleição presidencial direta no Brasil depois de 29 anos. Ele também foi presidente do diretório estadual do PT de São Paulo. 

Em 1990, junto com Lula, Paulo Vannuchi, Clara Ant, companheiros do sindicato, intelectuais e lideranças da sociedade civil, participou da criação do Instituto Cidadania, do qual seria responsável pela gestão administrativa e, em 2001, presidente. 

Em 2003, assumiu a diretoria de administração e finanças do Sebrae. Em 2005, foi eleito presidente da entidade, cargo que ocuparia até 2010. 

Em 2011, foi um dos fundadores do Instituto Lula e desde então é o presidente do instituto até hoje. 

Em 4 de março de 2016, em São Paulo, Okamotto foi levado por agentes da Polícia Federal (PF), mediante mandado de condução coercitiva, para prestar depoimento na sede da PF, durante a 24ª fase (denominada Aletheia) da Operação Lava Jato, que investiga casos de corrupção na Petrobras. Entretanto, foi absolvido da acusação de lavagem de dinheiro relacionada ao pagamento das despesas de armazenamento do acervo presidencial do Presidente Lula.

Em fevereiro de 2023, assumiu a presidência da Fundação Perseu Abramo. 

CORRUPÇÃO, AMEAÇA E LEALDADE 

Mensalão: Em 2005, já como presidente do SEBRAE, Okamotto foi acusado nas CPIs dos Bingos e do Mensalão por pagar dívida de R$ 30 mil do então presidente Lula, sem declarar a origem da quantia, levantando suspeita de origem ilícita. Em fevereiro de 2006, a CPI dos Bingos aprovou a quebra de seu sigilo bancário para apurar a origem do pagamento, mas, contrariando a CPI e a expectativa em geral, Okamotto conseguiu por ordem judicial impedir a quebra. Até hoje, o caso continua sem solução. 

Ameaças contra Marcos Valério: Em 2012, durante o julgamento do mensalão, Marcos Valério afirmou que lhes enviavam o "faz-tudo de Lula", Paulo Okamotto: "a função dele é me acalmar". Em 2013, foi arquivada investigação contra Paulo Okamotto, por ameaça de morte feita contra Marcos Valério em 2005. 

Amizade com o ex-presidente Lula: Desde 2005, a mídia brasileira costumeiramente se refere a Paulo Okamotto como amigo muito próximo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em 2011, quando Lula teve diagnosticado um tumor na laringe, Paulo Okamotto disse à mídia que o presidente estava reclamando de rouquidão. Em 2012, Paulo Okamotto e Clara Ant foram citados como representantes do Instituto Lula pelo jornal "Poder Online". Em 2014, a revista Veja o descreve como "uma espécie de anjo da guarda e faz-tudo do ex-presidente, o responsável por manter a vida de Lula em ordem e longe dos holofotes da imprensa".

Foto de Daniel Camilo

Daniel Camilo

Jornalista e estudante de Direito e Ciências Políticas. Conservador de Direita e Nacionalista. Em 2022, concorreu ao cargo de deputado federal pelo Estado de São Paulo. Atualmente, está dedicado à escrita do seu primeiro livro, "Academia do Analfabeto Político”, uma obra que tem ênfase na ética política e no comportamento analítico do cidadão enquanto eleitor.

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