Javier Milei x Governo Lula: Será possível separar as relações diplomáticas e ideológicas das relações comerciais e econômicas?

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O presidente argentino Javier Milei vem sendo criticado pelos meios de comunicação e pelo governo brasileiro por não demonstrar consideração e "senso diplomático" ao se recusar a pedir desculpas pelas declarações consideradas inadequadas durante o período eleitoral argentino e por não comparecer pessoalmente à reunião da cúpula do Mercosul.

Para alguns, isso é visto como um deboche desnecessário e uma péssima estratégia de relacionamento com o Brasil, o país que mais consome, exporta e faz negócios com a Argentina na América Latina.

Para outros, a análise é distorcida, e o comportamento do recém-eleito presidente argentino é interpretado como o cumprimento de sua promessa de não se relacionar mais do que o necessário com países governados pela esquerda, especialmente aqueles que exaltam o comunismo e têm como mandatários pessoas que são ou eram relacionadas com corrupção.

Em uma visão mais ampla, “Milei não desafia Lula. O presidente argentino mostra que tem palavra e compromisso com o movimento que acreditou nele e o elegeu”.

No geral, vamos concordar, vindo de um presidente eleito na América Latina, isso é algo inédito. E se torna algo surreal e, ao mesmo tempo, curioso, pois a economia da Argentina depende muito da economia do Brasil e, principalmente, dos laços históricos e da relação comercial, especialmente com o governo brasileiro, independentemente da ideologia política.

Outra questão intrigante é o relacionamento com os chineses, que também são de esquerda e comunistas na prática autoritária estatal.

Será que Milei terá a mesma atitude com Xi Jinping e o Partido Comunista Chinês?

Corajoso, curioso e bem arriscado.

Apesar de a China ter deixado o posto de segundo parceiro comercial da Argentina, ainda é a terceira maior força financeira externa do país. No começo de 2024, a China foi ultrapassada em volumes de negócios pela União Europeia.

Apesar das relações entre Milei e o país asiático terem esfriado desde então, a ministra das Relações Exteriores da Argentina, Diana Mondino, buscou em abril uma maior aproximação com a China para destravar créditos congelados no final de dezembro de 2023. No entanto, estamos vendo e presenciando na história regional que a relação comercial pode sobreviver aos “micros” incidentes diplomáticos, independentemente da dependência econômica entre países ideologicamente antagônicos.

Um exemplo prático desse comportamento arriscado, porém comum, são as relações entre potências mundiais, como, por exemplo, os Estados Unidos e a China, Índia e China, e Rússia e a União Europeia, e os próprios Estados Unidos, antes da invasão da Ucrânia.

Foto de Daniel Camilo

Daniel Camilo

Jornalista e estudante de Direito e Ciências Políticas. Conservador de Direita e Nacionalista. Em 2022, concorreu ao cargo de deputado federal pelo Estado de São Paulo. Atualmente, está dedicado à escrita do seu primeiro livro, "Academia do Analfabeto Político”, uma obra que tem ênfase na ética política e no comportamento analítico do cidadão enquanto eleitor.

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