Nas recentes eleições legislativas francesas, o cenário político foi sacudido por resultados surpreendentes e reveladores. Apesar da direita, representada pelo Reagrupamento Nacional (RN) de Marine Le Pen, ter conquistado 37% do voto popular, o sistema de segundo turno e as coalizões de outros partidos resultaram em uma distribuição desigual dos assentos na Assembleia Nacional.
O sistema eleitoral de dois turnos na França favorece a formação de coalizões e acordos políticos, muitas vezes prejudicando partidos que, apesar de terem alta votação no primeiro turno, não conseguem converter esses votos em assentos proporcionalmente. A Frente Popular (NFP), que inclui setores desde a esquerda moderada até a extrema esquerda, obteve 26% dos votos e garantiu 177 assentos. Já a coalizão de Emmanuel Macron, Ensamble (Ens.), ficou com 148 assentos com 22,3% dos votos. O RN, apesar de seu expressivo apoio popular, ficou com 142 assentos, mostrando a eficácia do conluio entre a esquerda e o centro para marginalizar a direita.
A trajetória do RN nas últimas décadas é impressionante. De nenhum assento em 1993, o partido passou a 1 assento em 1997, zerando novamente nos anos seguintes até alcançar números maiores a partir de 2012. Em 2017 eram 8 assentos, que cresceram para 89 em 2022, e agora, 142 em 2024. Este crescimento não pode ser ignorado e indica um fortalecimento contínuo da direita na França.
Marine Le Pen, após a divulgação dos resultados eleitorais, expressou sua preocupação:
“A França ficará totalmente bloqueada com três grupos que têm mais ou menos a mesma influência na Assembleia Nacional. Estamos a perder mais um ano, mais um ano de imigração não regulamentada, mais um ano de perda de poder de compra, mais um ano de explosão da insegurança no nosso país."
O cenário político francês, com 208 deputados de partidos de direita contra 177 da coalizão de extrema esquerda, indica uma configuração de poder altamente fragmentada. A incapacidade de formar uma maioria clara sugere que a governabilidade será um desafio, potencialmente levando a um aumento da insatisfação popular. Com a eleição de 208 deputados de partidos de direita, existe uma significativa presença conservadora no parlamento, o que aponta para uma possível mudança nas próximas eleições presidenciais.
A análise da distribuição dos assentos ressalta a complexidade do sistema político francês e a habilidade das coalizões em influenciar os resultados. A acusação de "conluio marxista" nas eleições reflete a tensão política e ideológica no país.
Os resultados eleitorais de 2024 indicam um fortalecimento significativo da direita na França, mesmo sem a maioria dos assentos na Assembleia Nacional. A fragmentação e a necessidade de coalizões fazem com que o país enfrente grandes desafios de governabilidade. No entanto, o crescimento notável do RN sugere que Marine Le Pen e seus aliados estão se tornando uma força cada vez mais dominante na política francesa, com implicações profundas para os próximos anos.
Carlos Arouck
Policial federal. É formado em Direito e Administração de Empresas.