Turismo humanitário. A face construtiva do caos!

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Aos poucos, a vida vai sendo retomada, a estrutura vai sendo remontada. E para receber o turismo deve demorar para voltar a ser como o conhecemos, mas, neste momento, o turismo humanitário é um convite à solidariedade, ao altruísmo. E este turismo tem uma luz divina para nortear seus caminhos por terras gaúchas.  

Você pode não encontrar mais, neste momento, belas flores, árvores frondosas, construções artísticas ou nativas. Você, com o cenário que encontrará, poderá andar saltitante por poças de águas sujas ou enlameadas. Às vezes, simplesmente, não verá um buraco no asfalto porque ele estará coberto por água contaminada ou por lama. Não vai mais encontrar crianças brincando em parquinhos, outros turistas visitando monumentos ou espaços culturais.

Nos muitos municípios do Rio Grande do Sul atingidos pelas enchentes, vai se deparar com vozes lamuriosas pela saudade de entes queridos que se foram deste plano ou por pura tristeza. Encontrará cidadãos cambaleantes pelo cansaço na luta empreendida para salvar vidas. Almas feridas, aos montes. 

Mas vislumbrará uma importante visão da alma humana, ali, bem na sua frente, a cada esquina cruzada, a cada voluntário ajudando o próximo, a cada prato de comida doado.

Sua face de turista em busca dos conhecimentos históricos, por prazeres quase lúdicos, será transformada em turismo humanitário.

E é assim que passará a perceber muitos que arriscam sua própria vida para salvar outra. Profissionais como médicos doando seu conhecimento e experiência para cuidar e pelo menos minimizar o sofrimento dos vitimados. Aqueles, psicólogos, psicanalistas e psiquiatras, que cuidam das cicatrizes emocionais das pessoas castigadas pelo desastre e suas marcas. Daqueles que tiram parte do pão de sua mesa para dividir com seu compatriota. Daquele senhorzinho carregando um tijolo, apenas um tijolo, com as dificuldades impostas pela idade, mas que ajuda a limpar uma casa em ruínas.     

E quase sem notar, no meio do caos, estará ajudando um irmão, estará deixando o seu legado humanitário. E quando chegar no conforto da cama que lhe estiver disponível, poderá verter uma lágrima capaz de lavar sua alma. Uma aura iluminada estará no seu entorno e entenderá por que foi escolhido pelo destino de Deus para estar ali. Silenciosamente, vai se lembrar de um sorriso daquele com quem dividiu sua magnanimidade ao proferir palavras de esperança ao pé do ouvido dele. Verá o brilho nos olhos de um cidadão que nunca viu na sua vida, apenas por colocar suas mãos nos ombros dele ou dar-lhe um abraço caloroso. O que dizer das crianças, então? De tecidos entulhados no lamaçal pode fazer uma bola de meia e dar para elas, e dado uns passos para retornar, pode ouvir um grito de GOL e sentirá, que por um breve momento, foi você que fez voltar a vibração da alegria da vida para eles.

Até nos cuidados dos animais... lembre-se sempre da resiliência do cavalo Caramelo no topo de um telhado que ainda não havia sido coberto pelas águas. 

E assim, você, pode crer, vai quase levitar por causa dos seus atos. Por mais simples que sejam.

A temporada do turismo humanitário está aberta, e é logo ali, no Rio Grande Sul!

Deixo para vocês meu fraternal abraço!  

Para ser um turista humanitário acesse: https://www.acurabrasil.org/

Foto de Alexandre Siqueira

Alexandre Siqueira

Jornalista independente - Colunista Jornal da Cidade Online - Autor dos livros Perdeu, Mané! e Jornalismo: a um passo do abismo..., da série Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa! Visite:
  http://livrariafactus.com.br

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