Certa vez, na campanha pela reeleição de Marcio Lacerda uma redatora passou a assessorar Andrea Neves com muita frequência. Competente, dedicada, solícita, a redatora ganhou a simpatia da chefe. Mas esta não é dada a emoções efusivas. Prefere a discrição.
Numa das conversas, a redatora contou que tinha recebido um livro autografado de Ziraldo mas que, talvez na pressa da fila de autógrafos, o escritor tinha trocado o seu nome. Andrea fingiu não ter notado.
Passados alguns dias, Andrea encontra Ziraldo e traz um outro exemplar do livro, dessa vez corrigido e com o nome certo. A redatora provavelmente terá um lugar de carinho em seu coração permanentemente reservado para Andrea Neves.
Apesar da fama de trator impiedoso, portanto, Andrea Neves era dada a afagos, demonstrações de carinho e, em conversa com interlocutores, costumava frequentemente tocá-los no braço, nos ombros e tratá-los por nomes carinhosos.
Na maior parte das vezes, era afável, educada, um amor de pessoa. Mas sabia exercer o poder como ninguém.
Certa vez, na campanha pela eleição de Márcio Lacerda, no segundo turno, deu pela falta do seu celular. Mobilizou toda a equipe para procurar, reza a lenda que até mesmo a P-2, a divisão secreta da Polícia Militar, foi convocada a participar. Até que alguém resolveu colocar o guizo no pescoço do gato: ‘Andrea, você já olhou na sua bolsa?’. Sim, o celular nunca tinha saído de onde sua dona o havia colocado.
A mulher mais poderosa de Minas era assim: dura, impiedosa, cruel quando julgava necessário. Mas também sabia ser doce, educada, sedutora, como manda o manual da boa política. Por isso, ela era incomum.
Wilson Bentos