Herança do fundador das Casas Bahia se transforma em conflito sem precedentes na Justiça
04/06/2024 às 06:07 Ler na área do assinanteA batalha pela herança de Samuel Klein, fundador das Casas Bahia, persiste na Justiça mesmo dez anos após sua morte, ocorrida aos 91 anos. Seus três filhos reconhecidos e os herdeiros de um suposto quarto filho discutem a inclusão desse novo herdeiro e a real extensão dos bens a serem divididos.
Os principais envolvidos na disputa são Saul, Michael e Eva, filhos de Samuel, além dos herdeiros de Moacyr Ramos — que faleceu em 2021, aos 45 anos, e cuja paternidade é objeto de investigação judicial.
Moacyr buscava comprovar sua filiação a Samuel Klein, baseando-se em um relacionamento que sua mãe, Rita de Cássia, teve com Klein aos 17 anos. A ação de paternidade, iniciada em 2011, está suspensa pela recusa dos Klein em realizar o exame de DNA voluntariamente.
Quando Samuel Klein morreu, em novembro de 2014, Michael estimou o patrimônio do pai em R$ 500 milhões, segundo a “Bloomberg Línea”. Desse total, R$ 300 milhões eram referentes à participação nas antigas Casas Bahia e R$ 200 milhões a imóveis e outros bens. Após a venda da empresa ao Grupo Pão de Açúcar (GPA) em 2009, a família manteve a propriedade dos imóveis e recebe aluguéis de centenas de lojas no Brasil.
Questionamentos sobre o patrimônio
Os advogados de Saul contestam o valor do inventário, alegando que mudanças no contrato social e transferências de cotas para empresas dos filhos de Michael reduziram o patrimônio de Samuel. Eles estimam que o valor real dos bens pode atingir R$ 3 bilhões. O processo está parado na 4ª Vara Cível de São Caetano do Sul (SP).
A Via Varejo, empresa que administra Casas Bahia e Pontofrio, tem valor de mercado próximo a R$ 690 milhões, conforme o fechamento de sexta-feira, 24. A herança não afeta diretamente a empresa, listada na Bolsa sob o ticker BHIA3.
Os herdeiros e suas funções
Michael Klein, ex-CEO da Via Varejo, atualmente se declara acionista passivo, investindo em concessionárias de veículos de luxo e administração de imóveis logísticos. Saul Klein foi diretor-comercial das Casas Bahia e vendeu sua participação para Michael em 2009. Ele também foi presidente de honra do São Caetano e posteriormente da Associação Ferroviária de Esportes até 2020. Eva Lea Klein, mais reservada, reside nos EUA e detém 5% das ações do Grupo Casas Bahia.
Movimentações patrimoniais sob suspeita
Os advogados de Saul questionam a autenticidade das assinaturas de Samuel em contratos de mudança de controle da empresa entre 2002 e 2009, sugerindo que essas operações beneficiaram Michael e Eva, além dos netos Rafael e Natalie. A defesa de Saul estima que, se comprovada a fraude, mais de R$ 1 bilhão deverão ser reintegrados ao patrimônio a ser dividido.
Em 2009, Samuel declarou R$ 2,1 bilhões no Imposto de Renda e deixou um testamento doando R$ 883 milhões para cada um dos três filhos. Esses valores são incompatíveis com a herança declarada em 2014. Há um pedido de rastreamento de bens nos Estados Unidos e na Nova Zelândia.
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