Heróis, Macunaíma e um pouco de história... Lula espalha desinformação e produz mais uma fake news
02/06/2024 às 21:02 Ler na área do assinante“Oh, o homem é um deus quando sonha, mas um mendigo quando reflete; e, quando o entusiasmo acaba, ele fica ali parado, como um filho desgarrado, expulso da casa paterna, observando o miserável centavo que a compaixão jogou em seu caminho”. (Hölderlin -1797).
Um herói é quase sempre o filho da união de um deus ou uma deusa com um ser humano: um semideus. Também pode ser um mortal divinizado após sua morte. Ou pode ser um individuo que tenha realizado feitos notáveis e demonstrou nesses feitos coragem, abnegação, tenacidade. Pode ser ainda um ser humano que suporte amarguras, desgraças, que arrisca a vida pelo dever ou em benefício de outrem ou faz coisas impossíveis.
O fato é que o sujeito que hoje dirige o destino da Terra dos Papagaios afirmou para seus fanáticos seguidores, em alto e bom som, na cidade de Araraquara em 27 de maio de 2024:
- "Todo país tem um monte de herói, este não tem (...). Eu achava que era preciso mudar", disse o petista lembrando que fez "coisas impossíveis" pelo país. “Neste país, vocês perceberam que a gente não tem herói? Todo país tem um monte de herói, esse não tem. Só tem Tiradentes”, disse o petista.
A plateia começou então a gritar o nome de Lula. E ele não teve dúvida, dizendo que “eu achava que era preciso mudar” esse preocupante quadro de inexistência de um herói tupiniquim.
Todo herói, sabe-se, tem poderes para fazer o que é impossível aos meros mortais. Lula continuou o discurso: “E, pois bem, nós ganhamos as eleições (…). E, aí, a gente começou a tentar fazer coisas impossíveis de fazer”. (Revista Veja - Por Robson Bonin, 27/05/2024).
Pois é, ao se oferecer a “fazer coisas impossíveis de fazer”, Lula, o “analfa-predestinado”, candidatou-se a herói do Brasil.
Os gregos tinham entre seus heróis Hércules, Perseu e Aquiles. Eles realizavam feitos em nome da glória e da honra. Não estavam em busca de riqueza, orgulho e fama.
Heróis, geralmente, travam guerras. Nessas batalhas ele protege seus seguidores e dizima implacavelmente seus inimigos.
Em nossos tempos modernos surgem os super-heróis. Esses indivíduos, quando não vêm de outros planetas, sofrem mutações genéticas em laboratórios ou nascem com atributos extraordinários que outros humanos não possuem: voam, leem pensamentos, derretem montanhas com raios lançados pelo olhar, possuem força descomunal. Eis alguns exemplos: Hulk, Super-Homem, Mulher-Maravilha, Batman, Homem-Aranha.
Existem ainda heróis históricos de cada país. Estes são de carne e osso.
Como Lula não é afeito a leitura e seu conhecimento é mais ou menos comparado ao de uma barata, bem ali, perto de onde ele governa, na Praça dos Três Poderes, existe o Panteão da Pátria Tancredo Neves, lá existe um livro com páginas de aço que lista os 72 heróis e heroínas do Brasil, oficialmente reconhecidos. É chamado de o "Livro dos Heróis e das Heroínas da Pátria", e reúne nomes que entraram para a história nacional.
As duas primeiras pessoas a receberem os títulos de heróis da pátria foram Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes e Deodoro da Fonseca, primeiro presidente do Brasil e, até o presente momento, a última pessoa a ser homenageada foi César Lattes, em abril de 2024.
Os critérios para que uma pessoa seja considerada herói ou heroína são subjetivos e podem variar com a época. Por isso, alguns heróis oficiais talvez ficassem de fora se a lista seguisse parâmetros atuais. Eis alguns nomes registrados no livro de aço:
- Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, Marechal Manuel Deodoro da Fonseca, Dom Pedro 1º, Marechal Luís Alves de Lima e Silva, duque de Caxias, Francisco Alves Mendes Filho (Chico Mendes), Coronel José Plácido de Castro, Almirante Joaquim Marques Lisboa, marquês de Tamandaré, Almirante Francisco Manuel Barroso da Silva, barão do Amazonas, Alberto Santos Dumont...
Não, Lula não consta em nenhuma lista. Além de se oferecer para ser herói da pátria e afirmar que a pátria não tem nenhum herói, com exceção de Tiradentes, Lula, o “Çábio”, espalha desinformação e produz mais uma fake news.
Os ciosos Supremos que prendem os brasileiros por divulgarem noticias falsas, deveriam ir em busca de Lula e obriga-lo a desculpar-se perante o povo por divulgar mais uma mentira entre as milhares que já espalhou.
Em 1928, Mário de Andrade, um dos nomes mais notáveis da Literatura Brasileira, publicou o livro intitulado “Macunaíma, o Herói sem nenhum caráter”.
Ele inicia assim a obra:
“No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói da nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índia tapanhumas pariu uma criança feia. Essa criança é que chamaram de Macunaíma.”
Macunaíma é o herói brasileiro. Ele é o herói sem nenhum caráter. Mário de Andrade, através de Macunaíma, tenta descrever o brasileiro tal como ele se apresenta: não tem valores, não tem moral, é preguiçoso e mentiroso.
Macunaíma nasce índio, depois se transforma em negro e por último vira branco.
Mário de Andrade classificou a obra como uma rapsódia. Nela procurou reunir todos os mitos, lendas e contos brasileiros. A mitologia indígena, os costumes dos vários estados, a linguagem típica de cada região, os ditos populares, a culinária. Todo esse material foi embaralhado, não como fato histórico, mas como um resumo de fatos sociais, “causos”, lendas folclóricas, tradições. O livro nasceu dessa mistura. Além de misturar e combinar tudo, Mário ainda inventou historias e adicionou às existentes.
A primeira geração modernista, a qual pertencia Mario de Andrade, tentava criar uma literatura de cunho nacional, livre da colonização, da dominação econômica, da cultura e de formas de pensamento que os povos colonizadores submetem os países colonizados. Mário queria a afirmação do nacional em oposição ao que vem do estrangeiro, tentava construir as raízes da nação e sua cultura a partir de dentro, do mundo esquecido pelas elites, procurava extrair das entranhas do país chamado Brasil a sua verdadeira identidade.
Disse o critico Alfredo Bosi sobre Macunaíma:
“O desejo não menos imperioso de pensar o povo brasileiro, nossa gente, percorrendo as trilhas cruzadas ou superpostas da sua existência selvagem, colonial e moderna, à procura de uma identidade que, de tão plural que é, beira a surpresa e a indeterminação; daí ser o herói sem nenhum caráter”. (Bosi, Alfredo. Céu, inferno, p. 188).
Macunaíma é uma obra satírica. Ela subverte valores, deprecia a cultura europeia, rompe tradições, se insurge contra os acontecimentos, mistura linguagens, transforma pessoas em animais, plantas, objetos inanimados ou astros celestiais e vice-versa. O real e o fantástico se misturam. Tudo é contado a partir da perspectiva do herói sem nenhum caráter. Ele tinha um bordão que repetia sempre nas situações que exigissem trabalho:
- “Ai, que preguiça”!
Ele conta a historia de outro jeito, às vezes de modo engraçado, às vezes de modo cruel. As ações mais condenáveis são tidas como atos heroicos. São aventuras com seres lendários do folclore brasileiro, como anhangá e curupira. Ou personagens do mundo indígena, como Vei (a Sol) e Ci (a Mãe do Mato). Em uma das aventuras, Ci, (a Mãe do Mato) é agarrada e dominada pelos irmãos para que Macunaíma faça sexo com ela.
- “Os manos vieram e agarraram Ci. Maanape trançou os braços dela por detrás enquanto Jiguê com a murucu lhe dava uma porrada no coco. E a icamiaba caiu sem auxílio nas samambaias da serrapilheira. Quando ficou bem imóvel, Macunaíma se aproximou e brincou com a Mãe do Mato. Vieram então muitas jandaias, muitas araras-vermelhas tuins coricas periquitos, muitos papagaios saudar Macunaíma, o novo Imperador do Mato-Virgem”. (Macunaíma, p. 25).
A obra-prima Macunaíma nos fornece algumas pistas do por que Lula, o semi-analfabeto condenado-descondenado, se tornou presidente.
O povo brasileiro é essa mistura descrita por Mário de Andrade: o índio miscigenado com o negro e misturado com o branco. Nosso caráter é diluído. Nossa história foi feita pelos outros.
Da descoberta até a Independência (300 anos) fomos Colônia de Portugal. Quem nos libertou em 1822 foi um português que estava no trono. Depois do grito de Independência o português continuou no trono. A transformação de Reino do Brasil para República não teve participação do povo. Não teve revolução. Dormimos monarquistas e acordamos republicanos.
Os que se apossaram do poder se mostraram piores do que os que governavam. Segundo os livros de historia sofremos nove golpes de Estado que ocorreram no Brasil desde a independência: A Noite da Agonia (1823); Golpe da Maioridade (1840); Proclamação da República (1889); Golpe de 3 de Novembro de 1891; O curioso caso de Floriano Peixoto; Revolução de 1930; Estado Novo (1937); Deposição de Getúlio Vargas em 1945; Golpe de 1964.
Houve, ainda, mais de 20 tentativas frustradas de golpe, sendo que as mais importantes são: a Cabanada (1832–4); Revolução Praieira (1848–50); Primeira Revolta da Armada (1891); Segunda Revolta da Armada (1893–4); Revolta dos 18 do Forte de Copacabana (1922); Revolução Constitucionalista (1932); Intentona Comunista (1935); Levante Integralista (1938); a Conspiração contra a posse de JK, frustrada pelo Movimento de 11 de Novembro (1955); Revolta de Jacareacanga (1956); Revolta de Aragarças (1959).
De golpe em golpe, de revolta em revolta, segundo o site da Câmara dos Deputados, desde o Império, o Brasil teve sete cartas constitucionais. A constituição de 1988, em vigor, é a sétima adotada no país, as anteriores são de: 1824, 1891, 1934, 1937, 1946 e 1967.
Das sete constituições, quatro foram promulgadas por assembleias constituintes (1891, 1934, 1946 e 1988), duas foram outorgadas - uma por D. Pedro I (1824) e outra por Getúlio Vargas (1937) - e uma aprovada pelo Congresso por exigência do regime militar (1967).
Atualmente nossa Constituição de 1988 é a vontade do Supremo. O Legislativo e o Executivo só agem se o Supremo aprovar. O povo elegeu os homens que estão no Legislativo e no Executivo. Mas não elegeu nenhum dos advogados que estão no Supremo. E, diga-se de passagem: esses advogados que hoje se dizem “Supremos” e mandam no Brasil, foram ali alocados porque eram “amigos” do Presidente, defendiam partidos políticos aos quais pertenciam os senadores que nele depositaram confiança. Um deles era advogado pessoal do atual Presidente.
É o espirito de Macunaíma influenciando o Brasil no século XXI.
Esse pequeno resumo de nossa historia mostra bem o nosso caráter. É “macunaímico”. Dispersivo. Sem valores. Mas divulgamos aos outros que somos inteligentes. A verdade é que não gostamos de trabalho, somos mentirosos, mas somos metidos a espertos.
Roubamos até os que estão em desgraça. Basta ver os ladrões que roubam as pessoas que perderam seus pertences na tragédia do Rio Grande do Sul.
Em 1925 Albert Einstein visitou a Argentina, o Uruguai e o Brasil para divulgar seus trabalhos científicos e encontrar as comunidades judaicas. O material dessa viagem foi reunido no livro “Os Diários de Viagem de Albert Einstein”, (Editora Record). São constrangedoras suas opiniões sobre o Brasil:
- “Aqui sou uma espécie de elefante branco para eles, e eles são macacos para mim”... Brasil é “quente e úmido demais para se efetuar qualquer trabalho intelectual. Todos me dão a impressão de terem sido amolecidos pelos trópicos”...
Antes da viagem escreveu para um amigo:
- “Não tenho vontade de encontrar índios semiaculturados usando smoking”.
Fantasiamos, assim como Macunaíma, que somos heróis. Confundimos a realidade com as coisas que imaginamos.
Talvez, por isso, 210 milhões de brasileiros, em sua grande maioria alienados, sejam governados por um semi-analfabeto que tem orgulho de ser comunista.
Disse Mário de Andrade sobre o livro Macunaíma:
- “O brasileiro não tem caráter, porque não possui nem civilização própria, nem consciência tradicional e Macunaíma é um herói surpreendentemente sem caráter”.
Bom final de semana a todos.
Carlos Sampaio
Professor. Pós-graduação em “Língua Portuguesa com Ênfase em Produção Textual”. Universidade Federal do Amazonas (UFAM)