Andrea Neves costumava entrar pela porta do Centro Administrativo, a sede do Governo de Minas, sempre com o Iphone colado ao ouvido.
Parecia sempre ocupadíssima, falando com um interlocutor desconhecido. Aos conhecidos que cruzavam com ela, no entanto, transmitia desprezo, arrogância, distanciamento.
Quando se dirigia às pessoas numa reunião falava em tom baixo, os ‘s’ sibiliando como ‘x’, resultado de sua longa juventude no Rio de Janeiro. Lá, ela foi a primeira pessoa ao chegar no fatídico Puma que os militares queriam explodir no Riocentro e que acabou destroçando a virilha de um capitão e o levando para a História e para o outro mundo. Era então uma militante de esquerda que (parece) chegou a filiar-se ao PT. Ganhou proeminência quando o irmão Aécio se aproximou do poder.
Sempre foi ela quem dirigiu a comunicação dele. Sempre foi a ela o verdadeiro marqueteiro por trás dos vários que se revezaram nas campanhas do irmão. Olhava seus subordinados como se fossem transparentes.
Inteligente, culta, mimava os artistas mineiros, sobretudo o Clube da Esquina. O tom suave da voz não conseguia esconder a dureza impiedosa das reprimendas. Era temida. Para alguns, justificadamente. Mas não era, como alguns diziam, quem mandava no irmão. Era uma espécie de mãezona, a irmã mais velha que às vezes tentava controlar os excessos do adolescente tardio.
Mas os dois tinham poderes equivalentes, às vezes discutiam, ele discordava dela, ela nem sempre concordava com ele. Mas encontravam um meio termo. Ela era o agente. Ele era o superstar.
Wilson Bentos
da Redação