A Cruz e a Liberdade: O Risco da Nova Política Antimanicomial

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A sombra de uma nova política antimanicomial paira sobre as instituições psiquiátricas, reconfigurando os destinos dos internados que antes se refugiavam no isolamento dos manicômios judiciários.

Dentre eles, figuras como Dyonathan Celestrino, o infame "Maníaco da Cruz," personificam o temor enraizado na sociedade sobre o impacto potencial dessas transformações.

Com base na Resolução 487/2023 do Conselho Nacional de Justiça, o fechamento dessas instituições até agosto próximo tornaria obrigatória a transferência de pacientes para a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), dentro do Sistema Único de Saúde (SUS).

A medida visa reparar décadas de tratamentos desumanos e inadequados, priorizando projetos terapêuticos individualizados para cada interno.

No entanto, os obstáculos à implementação permanecem claros.

Como será possível conciliar o propósito nobre de reintegração com a realidade complexa de pacientes que oferecem riscos significativos à segurança pública?

Celestrino, cujo perfil psicopata já demonstrou uma propensão inabalável para a violência, permanece no Instituto Penal de Campo Grande (MS) após avaliações psiquiátricas comprovarem que ele não possui estabilidade para viver em sociedade.

A transferência para os serviços da RAPS levanta questões: pode o SUS oferecer segurança e acompanhamento adequados para pacientes que desafiam os padrões tradicionais de cuidado?

Os temores ressoam pelos corredores da Comissão de Segurança Pública, onde parlamentares como o senador Sergio Moro pedem um debate mais amplo para garantir que as mudanças não prejudiquem a segurança nacional.

Diante desse novo desafio, a resposta coletiva buscará equilibrar o direito ao tratamento humanizado com a necessidade de resguardar a sociedade daqueles que ainda carregam a marca da cruz sobre suas intenções.

A nova política não é isenta de mérito, mas o debate se faz urgente.

Como realocar pacientes sem sacrificar a segurança pública, evitando a libertação de bandidos perigosos para convívio aberto, mas vulnerável, na sociedade?

Foto de Dener Dias

Dener Dias

Jornalista, músico e compositor. Autor do livro-reportagem Poeira Branca. 

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