A guerra dos “Universiotários” ou Os avisos que os radicais manipulados deram ao mundo

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“Sou reacionário. Minha reação é contra tudo que não presta”. (Nelson Rodrigues).

O mundo que pensa ainda se encontra estarrecido. Os humanos que possuem mais de dois neurônios estão de queixo caído. Olham para o país mais desenvolvido do mundo, o país das liberdades e pensam: Columbia! A Universidade de Columbia? Não pode ser. Mas é.

Eis um pequeno resumo dessa extraordinária Instituição de Ensino e porque ela provoca tanta admiração nas pessoas letradas:

“Columbia é a mais antiga instituição de ensino superior do estado de Nova Iorque, a quinta mais antiga dos Estados Unidos, e uma das nove Universidades Coloniais fundadas antes da Revolução Americana. Uma das oito universidades que compõe a prestigiosa Ivy League (as outras sendo Harvard, Princeton, Yale, Pensilvânia, Cornell, Dartmouth e Brown), foi fundada no ano de 1754 como King's College por intermédio de carta régia de Jorge II da Grã-Bretanha e rebatizada como Columbia College em 1784, visto o caráter patriótico do nome, um nome alternativo para América.
Desde sua fundação, a instituição têm formado inúmeros cidadãos de destaque na história do país e do mundo. Além disto, figura até aos dias atuais como uma das mais seletivas instituições de ensino superior dos Estados Unidos. Contando com taxa de admissão de 5,8%, a Universidade de Columbia mantém-se como a terceira mais seletiva universidade do país e a segunda mais seletiva das universidades integrantes da Ivy League.
Ex-alunos notáveis de Columbia incluem 5 Pais Fundadores dos Estados Unidos – entre os quais, um autor da Declaração de Independência e um autor da Constituição dos Estados Unidos; 9 juízes da Suprema Corte dos Estados Unidos; 43 Prêmios Nobel; 20 bilionários; 39 vencedores dos Prêmios da Academiae;29 chefes de Estados, incluindo 3 Presidentes dos Estados Unidos.
No campo das ciências e tecnologia, Columbia formou os seguintes profissionais: o fundador da IBM, Herman Hollerith; o inventor da rádio FM, Edwin Armstrong; Francis Mechner; Hyman G. Rickover, um dos desenvolvedores do submarino nuclear; Kai-Fu Lee, o fundador da Google China; e os cientistas Stephen Jay Gould, Robert Millikan, Ali Javan e Mihajlo Pupin; os filósofos Irwin Edman e Robert Nozick; o economista Milton Friedman; e a psicóloga Harriet Babcock e o Escritor e Poeta Allen Ginsberg”.

Pois é, a prestigiosa Universidade que seleciona e admite apenas 5,8% dos candidatos que lá pretendem estudar, agora descobre que em seu bojo militam “revolucionários de araque”, que não passam de fedelhos cheios de preconceitos.

Esses pseudos-revolucionários que montaram o “Acampamento de Solidariedade de Gaza” na Universidade de Columbia, na cidade de Nova York no mês de abril, exigiam que parassem imediatamente a guerra; exigiam que as suas universidades se afastassem de Israel devido à sua ofensiva retaliatória em Gaza, e queriam o apoio ao grupo terrorista Hamas. Eles têm a complacência dos jornais de esquerda. Os analistas desses jornais afirmam que os estudantes são sempre radicais e citam a guerra do Vietnam como exemplo.

Eles invocam o comportamento dos antigos estudantes da Columbia que ocuparam o Hamilton Hall e outros edifícios da Universidade em abril de 1968.

Ocorre que esses estudantes fizeram isso para se opor à Guerra do Vietnã onde os Estados Unidos lutavam diretamente. Eles não queriam que os americanos fossem para o Vietnam e também lutavam contra os planos da universidade de construir um ginásio nas proximidades do Harlem, que os estudantes argumentavam que seria efetivamente segregado . Depois de uma semana de protestos, a polícia entrou e prendeu 700 estudantes.

Não, os estudantes dos anos 60 não militavam em favor de um grupo terrorista como o Hamas. Não pediam a destruição de Israel. Sua luta era contra a guerra americana e contra a segregação que a Universidade pretendia fazer.

Esse comportamento idiota e abusivo dos estudantes de 2024 tem uma causa. Eles são produtos da cultura acadêmica atual. Suas intolerâncias e seus preconceitos nasceram dentro dos muros das Universidades incentivados por professores que deixaram de lado o estudo dos grandes problemas da terra e se dedicaram a temas triviais.

O colunista Ross Douthat, escreveu um artigo publicado no jornal The New York Times e traduzido pelo jornal brasileiro Estadão onde explica que: o problema está no currículo das universidades, naquilo que os jovens são obrigados e estimulados a ler nas Instituições de Ensino Superior.

Ele cita como exemplo o programa sobre “Civilização Contemporânea”, a porção do currículo básico que lida majoritariamente com a ciência política. As leituras pré-século 20 seguem padrões tradicionais (Platão, Aristóteles, Agostinho; Hobbes, Locke, Rousseau), com complementos específicos que diversificam a lista: mais escritores islâmicos da Idade Média, Christine De Pizan simultaneamente a Maquiavel, uma série de leituras sobre a conquista das Américas, a Declaração de Independência e a Constituição do Haiti e a Declaração dos Direitos dos Cidadãos dos EUA.

Mas, então, diz ele, chega o século XX e tudo se transforma:

“De repente o escopo se estreita, restringindo-se a preocupações progressistas e somente a essas preocupações: anticolonialismo, sexo e gênero, antirracismo, meio ambiente. Frantz Fanon e Michel Foucault. Barbara Fields e o Coletivo Combahee River. Reflexões sobre o comércio escravagista transatlântico e como a mudança climática é um ´déjà vu colonial.´”

Embora algumas dessas leituras valham a pena, o foco exclusivo nessas questões, em detrimento de outros problemas ou mesmo de outras perspectivas para abordar os referidos problemas mostra evidentemente um “conjunto de compromissos ideológicos muito específicos”. Para compreender o mundo posterior a 1900, explica Ross Douthat, os alunos de Columbia só leem textos de uma perspectiva da esquerda contemporânea:

“Nas leituras do século 20 presentes no currículo de Columbia, a era do totalitarismo simplesmente se dissipa, deixando a descolonização como o único grande drama político do passado recente. Não há Orwell nem Solzhenitsyn; nem os ensaios de Hannah Arendt sobre a Guerra do Vietnã; e os protestos estudantis nos EUA estão no programa, mas não 'As Origens do Totalitarismo' nem 'Eichmann em Jerusalém'.
Também estão ausentes leituras que trariam à luz ideias que a esquerda contemporânea tem combatido: não há nada sobre neoconservadorismo, certamente nada sobre conservadorismo religioso e também não há nenhuma análise sobre o liberalismo em todas as suas variantes. Não há Francis Fukuyama, nenhum debate sobre o “fim da história” [...] E nenhuma leitura coloca foco em aspectos tecnológicos ou espirituais do presente nem oferece críticos culturais com alguma perspectiva não progressista — nada de Philip Rieff, nem Neil Postman, nem Christopher Lasch”.

Esse estreitamento, por sua vez, deixa aos estudantes uma lista igualmente estreita de respostas para a energia mundialmente transformadora que eles são constantemente exortados a aceitar. Conservadorismos de qualquer tipo estão naturalmente fora de questão. Manejos centro-esquerdistas também soam como vender a si mesmo. Não há nenhum caminho claro para lidar com muitos dos principais dramas do nosso tempo: a competição civilizatória renovada, as pressões da existência digital e a alienação existencial.

A mudança climática é onipresente, mas o ativismo ambiental deve ser mesclado de algum modo com ação anticolonial e antirracista.

Mas na verdade é bastante difícil traçar um mapa de preocupações anticolonialistas em um mundo no qual a Europa Ocidental envelhece e declina e populações colonizadas no passado agora vivem em suas maiores cidades, onde o lócus do poder mundial transferiu-se para a Ásia, em que os regimes mais tirânicos e imperialistas são não ocidentais e não brancos.

Você tem inevitavelmente de mistificar um pouco as coisas, descobrindo perpetuamente a chave oculta para entender o século 21 nas relações de poder do passado distante.

Mas se você estiver disposto a simplificar e aplainar a história — especificamente a história do século 20 — é mais fácil fazer essas preocupações caberem na questão Israel-Palestina. Com sua posição incomum no Oriente Médio, sua fundação relativamente recente, sua relação próxima com os EUA, seus assentamentos coloniais e sua ocupação, Israel acaba figurando como bode expiatório para pecados de finados impérios europeus e regimes supremacistas brancos.

Provando o que disse o articulista do New York Times, que você leu acima, sobre o que ensinam os professores da Columbia e de outras Universidades, o jornal New York Post, publicou em 12 de outubro de 2023:

- “Mais de 100 professores da Universidade de Columbia assinaram uma carta defendendo os estudantes que apoiaram a “ação militar” do Hamas em Israel no início deste mês.
Os professores escreveram na carta de segunda-feira que os estudantes acreditam que a paz e a segurança permanecerão ilusórias “a menos que a ocupação ilegal do território palestino termine e a responsabilização por essa ocupação ilegal seja alcançada”, o que eles afirmam “não ser uma opinião radical ou essencialmente controversa, ”observando que é apoiado pelas Nações Unidas e por várias organizações de direitos humanos”.

Quando mais de 100 professores fazem uma carta de apoio a um grupo terrorista que atacou Israel, a única coisa que podemos concluir é que eles estão sendo ensinados a odiar e estão sendo expostos a uma leitura reducionista da realidade em um mundo extremamente complexo: “a mudança climática é onipresente, mas o ativismo ambiental deve ser mesclado de algum modo com ação anticolonial e antirracista. ”Esse é o limitado horizonte de análise no qual o jovem universitário de Columbia e de outras universidades está sendo formado. Trata-se de um “estreitamento intelectual e histórico dramático” cheio de consequências.

O que está por trás dos atuais protestos antissemitas nas maiores universidades do mundo é a vitória momentânea de determinadas ideias, de uma visão de mundo empenhada em encontrar inimigos e que agora “agarra-se a Israel com uma sensação entusiástica de vingança”, que cede facilmente ao ódio. Esse espírito de vingança do nosso tempo é audacioso e desavergonhado porque acredita poder se passar por virtude.

Esse é o ponto enfatizado pela escritora Joanna Williams em seu artigo “How anti-Semitism became a virtue on American campuses” (Como o anti-semitismo se tornou uma virtude nos campi americanos), publicado na Spiked.

Ao comentar o caso das ex-reitoras de Harvard e da Penn – que, interpeladas no Congresso americano mostraram-se relutantes em reconhecer que apelar ao genocídio de judeus violava os códigos de conduta institucionais – Joanna Williams destaca que, com frequência, o antissemitismo não é contestado pelos gestores universitários e que, tendo em vista esse endosso acrítico, os protestos estudantis “são menos um desafio à ideologia da elite e mais uma demonstração prática de valores institucionais”.

Assim surgem as ideias de “diversidade”, “equidade” e “inclusão” sob a sigla (DEI) que se tornou, segundo a autora, a ortodoxia universitária, mas, paradoxalmente, estas políticas supostamente antirracistas não estendem a proteção aos judeus:

“É tentador gritar hipocrisia, mas isso tira o foco. Não é verdade que a política de identidade que alimenta as iniciativas da DEI simplesmente tenha um ponto cego para o povo judeu. É muito pior, ao classificar os judeus como “hiper-brancos” e, portanto, racialmente privilegiados, a política de identidade na verdade legitima a intolerância antijudaica”, explica a colunista da Spiked.

E continua:

“Desde o início da sua educação, os estudantes de hoje absorveram uma compreensão grosseira de que as pessoas podem ser classificadas em diferentes grupos de acordo com a cor da pele, gênero e sexualidade, sendo que cada grupo tem um estatuto distinto como privilegiado ou oprimido. Exercícios inspirados na teoria crítica da raça, concebidos para levar as crianças a verificarem os seus privilégios, acompanham aulas de história que encorajam os alunos a insistirem apenas na vergonha das antigas potências coloniais. Em vez de considerar os ganhos da era dos direitos civis, os alunos são ensinados a ver a injustiça racial como um continuum sem fim, que vai da escravatura às leis Jim Crow e termina com o assassinato de George Floyd”.

Segundo a autora, as instituições de elite da América absorveram essa mensagem. Os seus estudantes, doutrinados na visão de que o mundo pode ser dividido entre opressores e oprimidos, foram ensinados a odiar o seu país. Notem que, em várias das manifestações recentes, bandeiras dos Estados Unidos foram queimadas pelos próprios estudantes americanos ou arrancadas de seu mastro e substituídas por bandeiras da Palestina. Essa loucura é a consequência de anos de internalização de uma cultura de ressentimento e culpabilização do Ocidente. É nesse quadro de ódio difuso e demência coletiva que se inserem as atuais manifestações estudantis antissemitas:

“Neste contexto, alinhar-se com os palestinos e demonstrar hostilidade a Israel faz todo o sentido. Permite que os alunos se identifiquem com um grupo oprimido e se distanciem da sua própria nação e cultura. Não é surpreendente que tal sentimento possa facilmente descambar para o antissemitismo. Os estudantes têm sido iludidos ao pensar que quanto mais extremas forem as suas exigências para a abolição de Israel, e quanto mais vil for o seu ataque aos judeus, melhor demonstrarão a sua própria virtude. Terrivelmente, o antissemitismo passa a ser visto como uma posição moralmente virtuosa”.

O processo de assimilação dessa doutrina antiocidental perpassa todos os âmbitos culturais e pretende retroagir nas conquistas da civilização, abrindo cada vez mais espaço para a mentalidade revolucionária.

O espírito transgressor dos jovens precisa de outros estímulos. É preciso saber conduzir e canalizar o ímpeto juvenil para causas verdadeiramente nobres. Odiar a própria civilização, clamar pelo extermínio de um povo e pela aniquilação de um país soberano definitivamente não deveria ser uma causa pela qual lutar.

Eu finalizo afirmando:

Essa é a lição que nos deixa esse episódio infame e faz soar o alarme sobre os jovens manipulados por professores nas Universidades de todo o mundo, tornando-os “universiotários” e mostrando que as mentes daqueles onde foram plantadas as sementes da radicalização dão frutos violentos e impensáveis.

Bom final de semana a todos.

Os dados contidos no texto foram retirados dos artigos:

-https://nypost.com/2023/10/30/metro/columbia-professors-sign-letter-defending-students-who-supported... (Mais de 100 professores de Columbia assinam carta defendendo estudantes que apoiaram a “ação militar” do Hamas).

-https://oantagonista.com.br/analise/mein-kampus-a-loucura-antissemita-nas-universidades/

-https://www.spiked-online.com/2024/04/22/a-howl-of-rage-against-civilisation/ (Um uivo de raiva contra a civilização).

https://www.estadao.com.br/internacional/como-a-leitura-universitaria-explica-o-radicalismo-de-estud....

Foto de Carlos Sampaio

Carlos Sampaio

Professor. Pós-graduação em “Língua Portuguesa com Ênfase em Produção Textual”. Universidade Federal do Amazonas (UFAM)

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