Prezado Sr. Ministro (em letras maiúsculas, porque tenho respeito por hierarquias, ainda que o senhor não o merecesse).
Suas palavras, ao justificar a liberação de um dos muitos réus envolvidos nos escândalos deste país (já adianto que pouco me importa de quem se trata, pois seja de esquerda ou de direita, para mim, dá na mesma) fizeram-me pensar no texto que lhe dedico agora.
O senhor invocou os 100 anos de tradição do Supremo Tribunal Federal (STF), mas esqueceu-se de se comportar como a régia tradição demanda de um juiz.
Explico melhor. Em todas as suas frases para justificar o que, talvez, até seja injustificável, o senhor provocou seus colegas de profissão, contrários ao seu pensamento e decisão, levianamente dizendo que por serem jovens cometem “…..quase que uma brincadeira juvenil. Não têm experiência institucional e nem vivência institucional”.
Pergunto-lhe: ser jovem implica em desconhecer as Instituições? Ser jovem, independentemente do conhecimento, representa fazer brincadeiras juvenis? Quer então o senhor dizer, que os jovens não podem ser levados a sério, porque são inexperientes?
Talvez, o senhor devesse rever seus conceitos sobre ser jovem e profissional. Afinal, é na força da juventude e no seu conhecimento que um futuro melhor, em qualquer lugar do mundo, é alavancado. Um mundo sem jovens é um mundo sem perspectivas, em que os mais experientes ficarão sem herdeiros para trilhar seus passos ou inovar, almejando um futuro melhor. Ser jovem é sonhar e não ser corrompido pelo sistema!
Como professora universitária e médica realizo-me quando os jovens que comigo se formaram ou trabalham extrapolam a dimensão do conhecimento que compartilhei com eles. Sucesso deles, felicidade minha! É lamentável que o senhor tenha essa pobre percepção da juventude, ainda que os “tais jovens” a quem se referiu não sejam assim tão juvenis, como quis o senhor transmitir.
A sua fala foi muito mais de “um idoso experiente encurralado em uma competição, esta sim, infantil”, isso para não usar palavras pejorativas. O triste é que os prejudicados somos todos nós: Brasil.
O senhor, nessa necessidade de auto-firmação, ainda que detento de posição tão superior (Freud, inclusive explicaria muito bem seu comportamento), esqueceu-se, apenas, de um pequeno detalhe: a Instituição, essa que o senhor diz ter tradição de 100 anos, não é o senhor e um grupo similar de alguns de seus colegas, tão patetas quanto, mas a Constituição que a norteia.
Quem constrangeu o STF? Os jovens de Curitiba ou o senhor com sua soberba posição de pavão que quer dar uma lição ao Brasil?
Se dar uma lição ao Brasil, partindo de um membro da Corte Suprema, ao usar linguagem “não juridiquês” é isso, me perdoe, mas a Instituição está realmente aloprada e, a tradição foi enterrada pelo próprio senhor. Quem sabe, vossa “excelência” não prossegue agora, fazendo “um Requiem para o STF”, até que jovens alcancem essa posição, por meio de verdadeira meritocracia?!!!! Seria ótimo, a lição seria dada aos que aí chegaram por indicação de padrinhos poderosos. Afinal, precisamos que jovens tomem as rédeas da Ética e da Moral jurídica!
Enquanto isso, o povo que pensa está cansado desses shows de oligofrenia de “experientes idosos”, com comportamento de antigos e ditatoriais “coronéis”.
Ministro, os tempos mudaram, só para sua informação! E que venham os jovens, pois se mais se unirem, vocês cairão!
Isabel Correia
Médica, cirurgiã, especialista em nutrição, professora titular do Departamento de Cirurgia da UFMG, bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq.
Fonte: Nutrição e Vida
da Redação