Assim seria a oitiva de Lula no sonho do abobalhado Zanin

06/05/2017 às 09:58 Ler na área do assinante

Até que a defesa do Lula é bastante modesta e parcimoniosa.

Depois de arrolar 87 testemunhas (a lei fala em 8), pretende agora apenas que o depoimento da semana que vem se transforme em comício, seguindo uma tradição iniciada no velório de d. Marisa.

Quer que a câmera não fique focada só no ex-presidente, como se ele fosse um investigado, um suspeito ou (toc toc toc) um réu. Alega que assim fica parecendo um interrogatório, e todos sabemos que se trata apenas de uma entrevista, um bate papo.

Quer que a câmera oscile entre Lula e os que perguntam, para que "sejam avaliadas a postura do juiz, do órgão acusador, dos advogados e de outros agentes envolvidos no ato, inclusive para fim de valoração da legitimidade do atos pelas superiores instâncias".

E quer também levar suas próprias câmeras e marqueteiros.

Acho digno. 

Justo. 

E acho pouco.

Tinha que exigir que Lula ficasse na cabeceira da mesa.

Na cadeira mais alta.

Não aquela do Moro, mas uma que ele já usou, no Palácio do Planalto.

Acima dele, um holofote. 

Atrás, uma bandeira (do PT, naturalmente).

Moro, mero figurante, ficaria num canto, numa cadeira mais baixa. 

Sem encosto.

Poderia haver um ruflar de tambores antes de cada resposta.

Uma trilha sonora, tipo "Carruagens de fogo" ou "Assim falou Zaratustra".

Atores globais (Letícia, Camila, Wagner, Monica, José, Tatá...) fariam uma performance carregando feixes de trigo, foices e martelos, como numa obra do realismo socialista. 

Um ventilador estrategicamente colocado sopraria os cabelos de Lula, como num anúncio de xampu.

Moro apenas leria as perguntas, cuja formulação ficaria a cargo da defesa.

Lula deverá ter o tempo que quiser para responder.

Não poderá ser interrompido.

A não ser pelos aplausos da claque e por transmissões ao vivo das manifestações e quebra-quebra nos arredores.

Se Moro não aceitar, estará cerceando os direitos do acusado.

Se comportando pior que os milicos da ditadura.

Sua parcialidade estará escancarada.

E, claro, quando houver recurso (haverá recurso), este deverá ir direto para a segunda turma do STF.

Eduardo Affonso

Eduardo Affonso

É arquiteto no Rio de Janeiro.

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