Historicamente a nação brasileira está dividida em uma intensa luta de classes onde o grupo dominante (minoria) ganha sempre e distribui as quirelas geradas no aparelho produtivo, às vezes de forma generosa, outras vezes nem tanto. Esses dois lados também têm suas divisões: os muitos ricos, os ricos e a classe média alta, de um lado; do outro lado, estão a classe média baixa, os pobres e os miseráveis.
O grande problema social, do ponto de vista psicológico, está no miolo: a classe média baixa quer subir de categoria, a qualquer custo, e sonha com as benesses do consumo e do conforto que vislumbra nas classes superiores. A classe média alta, por sua vez, se apavora em pensar que pode cair para um degrau a baixo e vende a alma ao diabo na tentativa de subir um pouco mais, ou de permanecer onde está. Nessa ânsia incontida tornam-se massa de manobras nas mãos dos políticos que só querem as benesses do poder.
Os pobres e os miseráveis carregam consigo a revolta (contida a duras penas) e se sujeitam às humilhações do sistema. O perigo é que essa “panela de pressão” pode explodir e acompanhar qualquer aventureiro que se apresente como salvador da Pátria, como aconteceu com Fernando Collor Mello e com o Movimento de 1964. Nada é impossível quando a desesperança assume papel hegemônico – Jair Bolsonaro está aí na espera dessa calamidade.
Os muitos ricos e os ricos, chamados de elites, sempre estão tranquilos porque contam com a impunidade e o comando político da nação. Ganham sempre, algumas vezes trocam de papéis, outras vezes utilizam “testas de ferro” subservientes que se apresentam como líderes, mas nada são além de títeres manipulados. Esses donos do País (banqueiros, industriais, produtores rurais, grandes comerciantes) escolhem os políticos e se perpetuam no poder.
Nas cúpulas dos sistemas dominantes os pseudos adversários das facções partidárias se confraternizam nas disputas eleitorais, mas vendem a imagem de que são inimigos ideológicos ferrenhos. As lideranças incentivam a cizânia para que o povo (principalmente o povão menos esclarecido) se envolva na luta verbal e comportamental. Os que estão nas outras escalas sociais são olhados como verdadeiros criminosos, e são condenados pelo que pensam e não pelo fazem. Os que concordam com suas ideias são homenageados, mesmo quando seus comportamentos éticos sejam deploráveis.
Eduardo Cunha, Carlos Marum e Eliseu Padilha eram vistos pelos anti-petistas fanatizados como “bandidos do bem” porque lutavam pela cassação de Dilma Rousseff e pela prisão de Lula. Os que diziam que não existe bandido do bem nem bandido do mal, todos são apenas bandidos, eram automaticamente taxados de petista vagabundo, defensor do Lula, sem mais nem menos. Quando não eram sumariamente chamados de corruptos. Por outro lado, os defensores de Dilma não deixavam por menos: os adversários eram os coxinhas golpistas.
E o que dizer das sentenças do TSE e do STF?
Os trabalhadores, em julho de 1917, não suportando mais as adversidades impostas pelas elites brasileiras, decretaram uma greve geral e paralisaram a cidade de São Paulo por 30 dias. Os grevistas, inicialmente, exigiam aumento de salários, e o governo reagiu com violenta repressão policial que a todos assustou. Os ânimos se acirraram de tal forma que o governo abandonou a capital paulista, mas antes concedeu um aumento salarial considerado irrisório e insuficiente.
O Comitê de Defesa Proletária, as ligas, as corporações operárias e o Comando de Greve estabeleceram, então, 11 reivindicações básicas: libertação de todas as pessoas detidas por motivo de greve; respeito ao direito de associação para os trabalhadores; que nenhum operário seria dispensado por ter participado do movimento grevista; que seria abolida a exploração do trabalho de menores de 14 anos nas fábricas e oficinas; que os trabalhadores menores de 18 anos não seriam ocupados em trabalhos noturnos; abolição do trabalho noturno para as mulheres; aumento de 35% nos salários inferiores a $5000 (cinco mil réis) e de 25% para os mais elevados; que o pagamento dos salários seria efetuados pontualmente a cada 15 dias, ou ao mais tardar, 5 dias após o vencimento; manutenção de trabalho permanente para os operários; jornada de oito horas e semana inglesa; aumento de 50% em todo trabalho extraordinário.
Como o movimento grevista se expandia para outras importantes capitais do País, as elites patronais em comum acordo com o governo, se comprometeram a atender algumas reivindicações de imediato. As demais seriam avaliadas para implantação paulatinamente, no curto prazo. Amenizado o movimento, a classe patronal não cumpriu com o prometido e a nação desembocou nos conturbados anos 20.
Outro importante movimento que desencadeou outra histórica greve foi a “Campanha da Denúncia do Dissídio Coletivo” sustentada pelo Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema em 1978, em separado da Federação dos Metalúrgicos do Estado de São Paulo. O movimento se espalhou rapidamente pelo ABC paulista e por outras cidades do Estado. A maior surpresa dos patrões e do governo foi a não inclusão do índice de reajuste salarial na pauta de reivindicações. Foi o início de uma nova estrutura sindical.
Ao se avaliar a desastrada última paralisação, a do dia 28 de abril, percebe-se que os posicionamentos humanos às vezes se tornam irracionais e inconsequentes. Os excessos cometidos por alguns manifestantes não podem ser contabilizados para os trabalhadores em geral, porque muitos deles não concordavam com as lideranças do movimento. Entretanto, para os empresários, principalmente os ruralistas, os grevistas são vagabundos desonestos, o que não é verdade. Confundem o comportamento dos “pelegos” que comandam as centrais sindicais com as justas reivindicações das massas trabalhadoras desta espoliada Pindorama.
Os lideres sindicais que desfrutam as benesses geradas pela contribuição sindical agradecem esse comportamento inconsequente. Seria muito bom para a Nação que a contribuição sindical fosse extinta, assim como também seria bom que se extinguisse a contribuição para o sistema S.
Talvez o ínclito e sapientíssimo Gilmar Mendes, o homem do Supremo, possa decretar uma solução salvadora como fez no caso de Eike Batista.
LANDES PEREIRA. Economista com doutorado; é professor de Economia Política.
Landes Pereira
Economista e Professor Universitário. Ex-Secretário de Planejamento da Prefeitura de Campo Grande. Ex-Diretor Financeiro e Comercial da SANESUL. Ex-Diretor Geral do DERSUL (Departamento Estadual de Estradas de Rodagem). Ex-Diretor Presidente da MSGÁS. Ex-Diretor Administrativo-Financeiro e de Relações com os Investidores da SANASA.