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Na contramão da história MPF proíbe fazenda de fazer encenação sobre escravidão
04/05/2017 às 10:44 Ler na área do assinante
Uma fazenda no Vale do Paraíba foi proibida de proporcionar uma visita guiada que era uma imersão nos tempos dos senhores do café (veja aqui notícia sobre o assunto).
O motivo: racismo.
Onde estava o racismo: no fato de os visitantes serem servidos por atores negros, vestidos como escravos.
Não, não havia pelourinho.
Nem chibatadas.
Nem abusos.
Nem ofensas raciais.
Era uma espécie de viagem no tempo: não se visitava apenas a fazenda, mas o tempo em que a fazenda viveu seu apogeu.
Era uma encenação. Era teatro.
Como o que se faz na Serra Gaúcha com a imigração italiana, a cada Festa da Uva.
Aguarda-se que a qualquer momento o Ministério Público proíba também as novelas de época, os filmes que tratem do período da escravidão.
E destrua as gravuras de Debret e Rugendas.
E mande rasgar os livros de Machado de Assis (em "Dom Casmurro", há páginas hediondas em que Bentinho manda "um preto" dar um recado, compra cocadas de uma escrava para dar a Capitu, e ele próprio vive do trabalho de negros adquiridos para tal finalidade).
E, claro, não se esqueça de banir também as encenações da Paixão de Cristo - porque assim deixam de existir o domínio romano, a perseguição aos judeus, as execuções na cruz.
Como em "1984", já está criado (informalmente) o "Ministério da Verdade", para reescrever a História.
Sem escravos, que deixam oficialmente de existir.
Eduardo Affonso
Eduardo Affonso
É arquiteto no Rio de Janeiro.