A propósito do quê mesmo é essa ‘greve geral’ deste dia 28 de abril?
Ah, sim, é contra a reforma trabalhista, essa que vai tirar os direitos do trabalhador brasileiro.
Posso estar muito errado, mas acho que o maior direito do trabalhador é o trabalho.
Todo o resto (décimo-terceiro, férias, aviso-prévio, FGTS, seguro desemprego etc) é decorrência desse direito primordial - pelo único e bom motivo de que, sem trabalho, nada disso existe.
O que a reforma pretende é conter o desemprego, facilitar novas contratações. Ela vai beneficiar o desempregado (que precisa recuperar o emprego), e desonerar o empregador, para que ele possa empregar mais.
Quem já está de carteira assinada perde o direito a férias remuneradas? Não.
Perde o aviso prévio? Não.
Perde o décimo terceiro? Não.
Perde o fundo de garantia? Não.
Perde o seguro desemprego? Não.
Haverá, isso sim, relações mais flexíveis, possibilidade de fracionamento de férias, aumento da jornada de trabalho (remunerada) e um freio na indústria dos processos trabalhistas (antes de entrar com uma ação na Justiça do Trabalho será necessária conciliação prévia, o que é a coisa mais óbvia do mundo, já que só se deve judicializar uma causa após esgotadas as possibilidades de negociação).
(Uma vez, em Cuba, conversei com uma senhora, daquelas que defendiam o regime de Castro com unhas e dentes. Ela usou um argumento que me sensibilizou, à época: “No comunismo, não tenho manteiga, mas todos têm pão”.
Os esquerdistas daqui, que vão contra a reforma trabalhista, querem é garantir a manteiga, e que se danem o padeiro e quem ainda não tem pão.)
A greve também é contra a reforma da previdência, que vai nos fazer trabalhar até meia hora antes da missa de sétimo dia.
Posso também estar muito enganado de novo, mas a questão da previdência é matemática.
E, até onde sei, não existe matemática de direita e matemática de esquerda.
Num país em que há cada vez mais pessoas se aposentando e vivendo mais, e o número dos que contribuem não aumenta na mesma proporção, a conta não fecha nem a pau.
O rombo da Previdência já é bilionário. Sem a reforma, chegará a proporções dílmicas (uma coisa dílmica é uma coisa absurda, sem noção).
Todos terão que trabalhar mais e contribuir mais, se quiserem manter os benefícios para si e para os que estão na fila.
Claro que poderia haver um refresco se os grandes devedores da Previdência fossem cobrados, se acabassem os privilégios dos políticos, se houvesse mais controle sobre as fraudes. Mas chegaremos lá.
A greve, que pretende parar o Brasil, quer é isso mesmo: parar o Brasil. Impedi-lo de andar.
É feita por gente que apoiou quem nos jogou nesta crise, e não se dispõe a fazer qualquer sacrifício para nos tirar dela.
Ambas as reformas (trabalhista e previdenciária) são necessárias faz tempo, e foram empurradas com a barriga por FHC, Lula e Dilma – muito mais interessados na ‘governabilidade’, na popularidade e na reeleição do que em garantir um futuro sustentável.
A greve deste dia 28 de abril é pelo Brasil de ontem, organizada por quem acha que erro pouco é bobagem.
(Ironicamente, quem vai fazer o que tem que ser feito é o Temer, um vice decorativo (como Itamar), sem ambições eleitorais (como Itamar), herdeiro de um caos político e econômico (como o Itamar).
Itamar nos legou o Plano Real, o bote salva-vidas que nos resgatou dos naufrágios de Sarney e Collor.
Temer pode fazer o mesmo, depois da Sodoma e Gomorra de Lula e do apocalipse de Dilma.
Algo me diz que devemos prestar mais atenção aos vices, esses inúteis. Inúteis até que se precise deles).
Esta greve, na véspera de um feriadão, misturando no mesmo saco quem quer cruzar os braços com quem não quer trabalhar, é de um oportunismo exemplar.
É também um ato de desespero. Vai que com as reformas o Brasil melhora, e fica provado, mais uma vez, que estivemos por treze anos no caminho errado?
Eduardo Affonso
Eduardo Affonso
É arquiteto no Rio de Janeiro.