A etnomatemática e suas críticas relacionadas ao ensino tradicional da matemática
15/04/2017 às 14:57 Ler na área do assinanteA etnomatemática está inserida no histórico-cultural da matemática, e que deve ser compreendida no contexto social do aluno. A etnomatemática surgiu na década de 70 e baseia-se em críticas sociais relacionadas ao ensino tradicional da matemática. Cunhada com a junção dos termos techné, mátema e etno, esta proposta educacional defende que a matemática deve ser explicada e entendida dentro de um contexto cultural próprio tendo Ubiratan D’Ambrósio como precursor e idealizador no Brasil.
A matemática e o ambiente cultural do aluno
A etnomatemática não pode ser considerada uma nova ciência e nem um método de ensino, mas sim uma proposta educacional que aborda as relações interculturais. Muitas vezes, a influência recíproca entre duas ou mais culturas não é levada em consideração na historiografia da matemática, o que traz implicações na educação. Existe a enorme tendência de se trabalhar a matemática da cultura
predominante, sem a influência do ambiente cultural do aluno.
Neste contexto, eis que surge a etnomatemática, que possui como finalidade o reconhecimento da cultura plural, responsável pela constituição do país, e que deve, sim, ser levada em consideração para a elaboração que responda aos anseios de sua população. Trata-se de uma abordagem histórico-cultural da matemática, em que a disciplina deve ser compreendida para além da constituição social, mas também como construção histórica e política.
Existe a matemática vivenciada pelos vendedores de praças públicas, pelo artesão, donas de casa, costureira, na geometria da cultura indígena etc. Cada situação é completamente distinta, pois está em função do contexto cultural e social na qual estão inseridas. Assim sendo, para ampliar a compreensão da realidade, é necessário ultrapassar a noção de matemática apenas como uma maneira de resolver questões de ordem prática.
A didática pedagógica no contexto da etnomatemática
A etnomatemática defende que se enfatizem as ações pedagógicas construídas dentro do contexto sociocultural dos educandos, levando-se em consideração os distintos grupos culturais. Assim sendo, são enaltecidos os conceitos matemáticos informais desenvolvidos pelos alunos através de seus conhecimentos, fora da vivência escolar. Nesta perspectiva, os conteúdos e os objetivos devem variar de acordo com a cultura, as necessidades, as aspirações e a realidade social de cada grupo.
Os povos em suas diferentes culturas possuem inúmeras maneiras de trabalharem o conceito matemático e todos os conhecimentos produzidos pelos grupos sociais são válidos. A etnomatemática valoriza as diferenças e defende que toda construção do conhecimento matemático está intimamente relacionado com a tradição, sociedade e cultura de cada povo.
O estudo das atividades fora da sala de aula proporciona um rico conhecimento prático do educando e que não perde o caráter acadêmico desta ciência dos números. A linguagem matemática está presente nas mais diversas atividades humanas, como nas artes, arquitetura, música, dança, esporte, engenharia etc., e faz parte do contexto da sociedade na qual o indivíduo está inserido, estando, assim, relacionada ao social e cultural. O ensino da matemática na perspectiva etnomatemática contempla as experiências cotidianas e, por isso, enriquece a relação entre teoria e prática.
Valdivino Sousa é Professor, Matemático, Contador, Bacharel em Direito e Escritor. Pesquisador sobre Engenharia Didática em Matemática; Modelagem; Construção do Conhecimento em Matemática; Modelos Matemáticos e suas Aplicações. Site: http://www.valdivinosousa.mat.br