Pentecostes é um termo grego que descreve uma festa judaica, mas para os cristãos diz respeito à descida do Espírito Santo sobre os seguidores de Jesus, conforme descrito na Bíblia. Os pentecostais consideram que seu movimento reflete o mesmo tipo de poder espiritual, estilo de adoração e ensinamentos da Igreja primitiva, dos tempos em que o Mestre estava entre os encarnados. O pentecostalismo inclui uma vasta gama de perspectivas teológicas e organizacionais, não tendo um órgão central (uma igreja única) que dirija o movimento. No Brasil os protestantes históricos (luteranos e presbiteranos, entre outros), os pentecostais e os neopentecostais se autoidentificam com o termo evangélico, criando certa confusão de identidade para os adeptos de outras religiões ou movimentos filosóficos.
A Assembleia de Deus (doutrina do batismo no Espírito Santo) chegou à Belém (Pará) em 1910, trazida pelos missionários suecos Gunnar Vingren e Daniel Berg, vindos dos EUA, onde a “igreja” já estava consolidada. O movimento trouxe consigo muitas divergências internas. A nova doutrina expandiu-se para o norte e o nordeste, principalmente entre as camadas mais pobres e desassistidas da população, chegando ao Rio de Janeiro em 1922 e, logo depois, a São Paulo. A igreja se multiplicou em várias ramificações que, não necessariamente, dialogam harmoniosamente entre si, apesar da forte influência sueca.
A Assembleia de Deus no Brasil passou a ter autonomia com o concilio realizado em 1930 na cidade de Natal, sem perder os vínculos fraternais com a igreja sueca. A partir de 1936 teve maior colaboração das ADs dos EUA por meio dos missionários enviados ao país. Desde 1980 a organização passou por diversas cisões dando origem a diversas “convenções e ministérios” autônomos, que só os adeptos conseguem distinguir claramente. O mais expressivo desses ministérios é o de Madureira (bairro carioca), fundado pelo pastor Paulo Leivas Macalão em 1930, e por ele presidido até 1982, ano de sua morte.
O neopentecostalismo (terceira onda do pentecostalismo), um movimento sectário surgido nos anos 50, é representado, no Brasil, pela Igreja Universal do Reino de Deus (Edir Macedo), Igreja Internacional da Graça de Deus (R. R. Soares), Igreja Renascer em Cristo (Estevam Hernandes e Sônia Hernandes), Igreja Mundial do Poder de Deus (Valdemiro Santiago), Igreja Apostólica Fonte da Vida (Cesar Augusto Machado de Souza e Rúbia Pinheiro Fernandes de Souza, Ministério Nova Jerusalém (Pr. Samuel), Igreja Nacional do Senhor Jesus Cristo (Valnice Milhomens), Ministério Internacional da Restauração, Sara Nossa Terra, Comunidade Cristã Paz e Vida. Os pastores dessas organizações prometem curas milagrosas e exigem contribuições materiais de seus adeptos.
Os evangélicos, a exemplo dos católicos, discretamente enveredaram para a política partidária, elegendo vereadores e deputados, O radialista Alziro Zarur, no final da década de 50, criou um movimento religioso (Legião da Boa Vontade) e, no início dos anos 60, tentou fundar o Partido da Boa Vontade, lançando-se candidato a governador do Estado da Guanabara. Zarur mantinha um programa na Rádio Mundial, onde prometia curas milagrosas. Em São Paulo o pastor Manoel Mello, dissidente da Assembleia de Deus, fundou a igreja O Brasil para Cristo, pelas rádios Piratininga e Tupi, também prometia curas de todas as ordens. Foram os inspiradores do hoje poderoso bispo Edir Macedo (fundador do PRB de Crivela), de Silas Malafaia, e de outros tantos milagreiros que povoam o território nacional.
A igreja Católica e todas as correntes evangélicas apoiaram o movimento militar de 1964, com medo do comunismo ateu. Em contrapartida os novos governantes retribuíram com isenções de impostos e outras formas de benesses. Mais tarde, quando José Sarney decidiu acrescentar um ano ao seu mandato constitucional, os parlamentares “religiosos” o apoiaram em troca de concessões de emissoras de rádios e, até, de televisão. Esses políticos também pressionaram o governo pós-militar e foram favorecidos com empréstimos a “fundo perdido” para suas igrejas.
Alguns deputados estaduais e outros federais são membros das Assembleias de Deus e a representam institucionalmente junto aos poderes públicos, supervisionados pelo Conselho Político Nacional das Assembleias de Deus no Brasil, com sede em Brasília (DF), que coordena todo o processo político da Convenção Geral das Assmbleias de Deus no Brasil. Há também vereadores e prefeitos, todos sob a chancela de igrejas pentecostais e neopetencostais. No Pleito de 2010, 22 deputados Federais assembleianos foram eleitos e, estrategicamente, algumas facções ficaram com Dilma, outras com José Serra e um terceiro grupo acompanhou Marina Silva.
Essas igrejas são adeptas da Teologia da Prosperidade (doutrina usada pelos televangelistas para arrecadação de recursos materiais). Segundo Alan B. Pieratt, "Os ensinos da prosperidade não tiveram origem no pentecostalismo. Todavia, a tendência das denominações pentecostais de aceitarem as afirmações de autoridades proféticas criou um espaço teológico onde a doutrina da prosperidade pode afirmar-se e crescer. Nossa primeira conclusão histórica, é que o pentecostalismo foi o portador desta doutrina, mas ela necessariamente não faz parte das crenças pentecostais".
Depois da invasão de Pindorama pelos portugueses, muita coisa estranha acontece por aqui, e o povo tudo aceita, por mais esdrúxula que seja a proposta. Consta entre os teólogos não ortodoxos que Deus ao fazer Pindorama colocou em seu território o que havia de melhor em seu estoque de bondades: terras férteis, água em abundância, clima propício à vida e região protegida contra catástrofes naturais. São Pedro teria perguntado ao Criador: “Senhor, não é muito privilégio para o povo que aí vai habitar?” A resposta foi terrível: “Espere pelos políticos que porei para administrar esse paraíso”.
A Terra de Santa Cruz foi por muito tempo subjugada à doutrina católica, com discreta participação dos protestantes luteranos e calvinistas. Depois chegaram os pentecostais e agora está ameaçada pelo vertiginoso crescimento neopentecostal. Na política partidária os católicos ainda são maioria, mas os autodenominados evangélicos crescem a passos largos, elegendo vereadores, deputados, senadores e prefeitos.
O sistema partidário vigente abre as portas para a desordenada criação de partidos. O PRB foi criado por Edir Macedo (Igreja Universal do Reino de Deus, da qual o prefeito do Rio de Janeiro é bispo) com o apoio de Silas Malafaia (líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo e irmão de Samuel Malafaia, deputado estadual do Rio de Janeiro. Eduardo Cunha faz parte dessa facção religiosa) e outras lideranças pentecostais e neopentecostais. Agora chegou a vez do deputado Ronaldo Fonseca (Pros), líder da Assembleia de Deus Ministério de Belém, encabeçar o movimento de criação do Partido Republicano Cristão, o partido pró-família tradicional.
A Assembleia de Deus é a maior igreja evangélica do Brasil. O censo de 2010 registrou que 30% dos 43 milhões de fiéis pertencem a ela. É um fantástico patrimônio eleitoral que ora está sendo usado na coleta de assinaturas para a criação do PRC (486 mil eleitores, ou 0,5% dos votos válidos na última eleição para a câmara; 300 mil assinaturas já foram registradas em cartório). O deputado Ronaldo Fonseca estima que o partido já saia com uma bancada de pelo menos 20 deputados, antes das eleições.
O Brasil tem 35 partidos registrados no TSE, e 56 propostas de criação de novas siglas aguardam na fila na expectativa de se tornar a 36ª legenda. Desses agrupamentos seis trazem a palavra “cristão” no nome proposto. Os organizadores sonham com os fartos recursos do Fundo Partidário (que o Congresso Nacional quer aumentar). Alguns querem um dia se tornar parlamentar, mas outros se contentam em serem “donos” das siglas para negociarem o aluguel das mesmas.
Segundo Ariovaldo Ramos, presidente da Visão Mundial, e de Nilza Valeria Zacarias, secretária-geral da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, as igrejas neopentecostais têm um projeto de poder, um projeto de transformação da democracia brasileira em um “Estado Evangélico”.
LANDES PEREIRA. Economista com doutorado; é professor de Economia Política.
Landes Pereira
Economista e Professor Universitário. Ex-Secretário de Planejamento da Prefeitura de Campo Grande. Ex-Diretor Financeiro e Comercial da SANESUL. Ex-Diretor Geral do DERSUL (Departamento Estadual de Estradas de Rodagem). Ex-Diretor Presidente da MSGÁS. Ex-Diretor Administrativo-Financeiro e de Relações com os Investidores da SANASA.