Reclamamos dos petistas, dos seus dogmas, mantras e ‘raciocínios’ em looping, e acabamos por não nos aperceber de quantas vezes agimos da mesma forma.
Um dos nossos dogmas de fé é acreditar que Lula mente.
Sempre.
Repetidamente.
Irremediavelmente.
Em moto perpétuo.
E não é bem assim.
Quando Lula diz uma verdade, é bom parar e ouvi-lo.
Por mais que doa (e dói) nos nossos corações e mentes.
Lula disse: ‘Nem o Moro, nem o Dallagnol, nem o delegado da Polícia federal têm a lisura, a ética e a honestidade que eu tenho nestes 70 anos de vida’.
Nós, coxinhas, nos arrepiamos dos pelinhos da canela até os da virilha. E erguemos os olhos e as mãos aos céus, clamando por misericórdia (mesmo eu faço isso, mirando o céu de Darwin, Copérnico, Freud e Galileu). Mas por quê, se é a mais pura verdade?
Ninguém tem mesmo a lisura, a ética e a honestidade do Lula.
Nem o François Duvalier, que saqueou o Haiti, tinha a honestidade do Lula - porque, por ser o Haiti tão miserável, não havia tanto o que saquear quanto aqui.
Nem o Jean-Bedel Bokassa, que se proclamou imperador da miserabilíssima República Centro-Africana, e fez construir para si um trono de ouro, tinha a ética do Lula - porque ele jamais negou que seu trono e seus palácios fossem seus.
Nem o Berlusconi, o das festinhas de bunga-bunga, nomeou a amante para chefiar o escritório da presidência (talvez por ele ser Primeiro Ministro, mas dá na mesma).
Nem a Cristina Kirchner armou palanque e fez discurso eleitoral no velório do marido.
Para nossa alegria, nem o Moro, nem o ‘moleque’ Dallagnol nem o delegado da PF têm a lisura, a ética e a honestidade do Lula.
É o que nos salva. Já pensou se tivessem?
Eduardo Affonso
Eduardo Affonso
É arquiteto no Rio de Janeiro.