Em dezembro de 1992, a morte da atriz Daniella Perez, chocou a sociedade brasileira, tendo recebido ampla cobertura da imprensa, causando uma imensa comoção popular.
Daniella, que à época fazia a telenovela De Corpo e Alma, onde era Yasmin, foi assassinada por Guilherme de Pádua, que fazia par romântico com a vítima na trama, e por Paula Thomaz, esposa de Guilherme.
O corpo da atriz foi encontrado numa região de floresta na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, com 18 golpes de punhal, que causaram sua morte.
O caso chocou o Brasil pelos envolvidos serem artistas muito conhecidos e que trabalhavam juntos. A primeira notícia do caso veio a público um dia depois, em 29 de dezembro de 1992, quando foi noticiada juntamente a outra grande notícia de repercussão nacional, a renúncia do ex-presidente Fernando Collor de Mello. Os dois assassinos foram condenados por júri popular e libertados em 1999.
Quando se trata de violência contra as mulheres, temos que inserir nessa equação os homens, para discutir os sentidos do que seja a masculinidade e de como a violência é importante para a constituição da masculinidade na sociedade brasileira.
Sem dúvidas, a sociedade como um todo e a imprensa em particular têm um papel fundamental no debate sobre como a reprodução de estereótipos gera barreiras à efetivação de direitos, desestimula a denúncia, culpabiliza a mulher pela violência sofrida e a revitimiza.
É preciso debater com a juventude, abordar as masculinidades e formas como as desigualdades de gênero se reproduzem inclusive nas escolas.
Entre as ações para mudar este quadro, especialistas enumeram: é necessário envolver os homens na superação dessa cultura violenta; reconhecer e dar atenção para as formas institucionais de violência perpetradas pelo Estado; assegurar o protagonismo das mulheres por meio de políticas públicas de educação, autonomia econômica e financeira, equidade no trabalho doméstico e no trabalho remunerado; cobrar respostas do Poder Público e da iniciativa privada nesse sentido; assim como garantir o investimento na expansão com qualidade da rede de atenção e enfrentamento à violência.
Não quero entrar na discussão religiosa quanto à escolha dele como alguém que esta atuando em uma igreja evangélica, acho que a realidade pessoal que ele abraça e professa, é algo que não comento, por entender que cada um de nós, tem a liberdade de crer e confessar a sua fé, mas, isso, não é álibi para promover Guilherme de Pádua, a uma identidade isenta do seu passado.
Quando perguntado se acha que pagou por seu crime, Guilherme de Pádua disse que nem se morresse seria possível pagar a dor da família. Mas ressalta que a mudança de vida é o melhor resultado que se pode esperar de alguém que cometeu um crime desse tipo. Comparando seu caso com o de outras pessoas condenada por homicídio, e que vivem sem serem perseguido, ele desabafou: “Sofro perseguição há 20 anos. Quantos outros condenados por homicídio estão andando por aí e tendo suas vidas normais? Se formos pensar por esse lado, eu pago mais do que qualquer outro”.
Ele concluiu a entrevista dizendo que não comenta mais sobre o crime porque prefere trazer à memória as coisas que o dão esperança, e ressalta que cumpriu o que a lei determinou a ele como pena e que nunca se colocou contra as determinações da justiça sobre o caso.
Considero que não podemos por um ponto final nesta reflexão, afinal, ele matou uma pessoa, destruiu uma família inteira, embora tenha hoje uma realidade que confessa publicamente, quero frisar que o sentimento que ele diz abraçar quanto à sua fé, não o isenta de ser réu, condenado a uma pena perpétua, da qual jamais se livrará.
Acho que as demonstrações de uma vida diferente da parte dele, não podem encobrir o seu passado turbulento, sujo, eivado de morte e assassinato.
Ele sempre será homicida, e para aqueles que dizem que Deus o perdoa, eu perguntaria, se caberia o perdão a alguém que destruísse toda uma relação familiar.
No tocante as interpretações teológicas, sempre haverá lugar para a ideia de dar o perdão, mas, daí, achar que de forma graciosa quem mata, não tem a marca da culpa, eu diria que, tudo o que o homem semeia, ele colhe.
Imagino que à luz do Direito, do Código Penal, ele tem o seu nome escrito no livro dos réus, disso ele não pode fugir.
Ainda que ele tenha uma mudança de postura, e confesse o seu arrependimento, ele não tirará da família que ele destruiu a dor, a saudade, o vazio que ele deixou, ao eliminar uma vida.
Enfim, se julgarmos esse caso à luz da fé, haveriam caminhos múltiplos de interpretação quanto ao desfecho final desta estória, mas, entendo que é mister, seguir a lei e aplicar o justo, aquilo que preceitua a norma, e se alguém achar que Deus não perdoa, eu diria, que Ele é misericordioso e justo, mas, ao ímpio, não o toma por inocente.
Pio Barbosa Neto
Professor, escritor, poeta, roteirista
Pio Barbosa Neto
Articulista. Consultor legislativo da Assembleia Legislativa do Ceará