Estuprador e estuprada se reencontram e escrevem livro
20/03/2017 às 08:07 Ler na área do assinanteEla foi estuprada quando tinha apenas 16 anos, no ano de 1996, após uma festa natalina. O estuprador, o namorado, 18 anos, após apenas um mês de namoro e uma bebedeira regada a rum.
Thordis Elva, uma garota islandesa, passou mal. Tom Stranger, um rapaz australiano, a levou para casa e cometeu o ato. O crime aconteceu em Reykjavik, capital da Islândia
Na época, Thordis não denunciou o estupro. ‘Eu tinha 16 anos e estava apaixonada pela primeira vez na vida. Fiquei machucada e chorei muito por semanas, mas tudo era muito confuso para mim. Tom era meu namorado, não um lunático. E o estupro ocorreu na minha cama, não em uma viela. Quando finalmente concluí que havia sido estuprada, Tom já tinha voltado para a Austrália, ao final de seu programa de intercâmbio’
Quando completou 25 anos, Thordis escreveu uma carta para Stranger. Surpreendentemente a resposta foi uma confissão e a oferta de fazer ‘o que fosse necessário’ para tentar reparar o erro. Como o crime já estava prescrito, a dupla se uniu em torno de um livro, onde relatam o ocorrido.
A participação de Thordis e Stranger como palestrantes de um evento em outubro de 2016, foi assistida por 2,7 milhões de pessoas.
A transcrição da palestra chama a atenção pela franqueza do diálogo entre agressor e vítima. Stranger conta que sufocou deliberadamente as memórias do estupro e que dias depois da agressão tinha plena noção de que havia feito ‘algo muito errado’.
‘Repudiei o ato mesmo quando o cometia. Mas contei para mim mesmo uma mentira, a de que havia sido sexo, não estupro. Negligenciei o imenso trauma que causei a Thordis. E a mentira me deixou com uma culpa atroz’, diz.
Desde então, Thordis e Stranger participam de eventos ao redor do mundo.
Thordis, que atualmente vive na Suécia com o marido e um filho, diz não estar fazendo recomendações para outras vítimas, mas tentando enfatizar a responsabilidade do agressor por meio do que chama de "desmonstrificação" de perpetradores.
"A demonização dos agressores pela mídia atrapalhou minha recuperação. O fato de Tom não ser um monstro e, sim, uma pessoa que tomou uma decisão terrível tornou ainda mais difícil para mim reconhecer seu crime. Não quero receitar uma fórmula às pessoas. Ninguém tem o direito de dizer a uma vítima de estupro como lidar com a dor. Mas a violência sexual não pode ser tratada apenas como assunto feminino. Homens cometem a maioria dos ataques, mas suas vozes não estão representadas proporcionalmente nessa discussão."
"Precisamos ousar enfrentar esse problema juntos. Imaginem quanto sofrimento podemos ajudar a evitar", afirma ela.·
Stranger, porém, foi acusado de se beneficiar do sucesso do livro. A questão monetária foi levantada em vários países e houve organizações exigindo que a dupla revelasse a divisão de direitos autorais. O australiano fica com uma parte minoritária do dinheiro das vendas, mas prometeu repassá-lo a ONGs envolvidas com vítimas de violência sexual.
da Redação
Fonte: Terra