1. O comunicado oficial da BRF (leia-se Sadia e Perdigão), lido ontem em horário nobre na TV e publicado hoje nos jornais, parece ter sido escrito pelos intelectuais que querem a volta do Lula.
É gente que não sabe distinguir "esse" de "este" ("O que vai pautar ESSE comunicado") e despreza o subjuntivo ("A BRF não compactua com nada que COLOCA em risco...").
Os intelectuais do Lula e os marqueteiros do frigorífico também são ótimos em promessas inexequíveis: segundo o comunicado, os 100 mil colaboradores da RBF "comunicarão pessoalmente aos consumidores qualquer desvio individual e isolado".
Ou vão de porta em porta avisando os 200 milhões de brasileiros sobre a carne podre, vencida e aditivada com ácido ascórbico e papelão, ou assumem que não há desvios individuais e isolados, e que tudo é obra de uma quadrilha.
2. A mulher do Cabral ganhou direito a prisão domiciliar porque tem filhos (de 11 e 14 anos) para cuidar.
Essa liberalidade será estendida a todas as presidiárias do país, ou é algum tipo de foro privilegiado que a gente ainda desconhecia?
3. A escritora Simone Campos (alguém já leu? já ouviu falar?) vive num mundo de fantasia e arrogância, típico da esquerdinha.
Conta que quando o marido viajou para os Estados Unidos, instauraram (assim mesmo, com sujeito oculto) um processo de impítimã; quando ele pousou de volta, "já tinham botado um retrato de velho no lugar".
Isso não é gerontofobia? Dilma por acaso ainda era impúbere, ou já havia deixado a menopausa pra trás há muito tempo?
E ainda reclama do seu doutorado na UERJ, que não anda porque "o Estado não repassa a verba devida". Só esquece que "o Estado", no seu caso específico, atende pelos nomes de Lula, Dilma, Cabral e Pezão.
A escritora, segundo o suplemento de literatura d'o Globo, prepara, em parceria com uma desenhista, uma história em quadrinhos de ficção científica e "abre um caderno de apontamentos sobre a sua mudança do país".
Ela está indo morar nos EUA ("o LUGAR DO DINHEIRO", assim mesmo, em capisloques), onde "vou poder correr e pedalar na rua, pois na Califórnia o porte de spray de pimenta é legalizado".
O inferno (e também o purgatório) são sempre os outros.
4. "O gato angorá tem uma bronca danada de mim porque eu não o deixei roubar, querida. É literal isso: eu não deixei o gato angorá roubar na Secretaria de Aviação Civil. Chamei o Temer e disse "Ele não fica. Não fica!".
(Exma. Sra. ex Presidenta Dilma Rousseff, em entrevista ao "Valor Econômico", sobre Moreira Franco).
Parabéns por não deixar o gato roubar.
Pena que não tenha tido a mesma atitude com relação aos ratos.
5. "Porque o Temer é isso que está aí, querida. Não adianta toda a mídia falar que ele é habilidoso. Temer é um cara frágil. Extremamente frágil. Fraco. Medroso. É um cara que não enfrenta nada"
(A mesma Exma. Sra. ex Presidenta Dilma Rousseff, na mesmíssima entrevista, sobre seu então vice - a quem, na ocasião, cumulava de elogios, e que foi seu companheiro de chapa em duas eleições vitoriosas).
O cara frágil, fraco e medroso que não enfrenta nada está enfrentando (e vencendo) a crise que a madame do coraçãozinho valente - e que trata repórter de "querida" - tão diligentemente cultivou e nos deixou de herança.
6. Já que não dá pra acabar com o foro privilegiado, que tal democratizá-lo e estendê-lo a todos os cidadãos?
E com direito ao pedido de vista do ministro Toffoli, pro processo não andar depressa demais.
Eduardo Affonso
Eduardo Affonso
É arquiteto no Rio de Janeiro.