Estou pessimista para 2018? Claro que sim, até porque, em política, pessimismo é sempre o melhor conselho.
Meu pessimismo se prende a ver uns a defender fulano porque é ‘muito macho’ e vai resolver tudo na porrada, outros a querer a volta do ‘pai dos pobres’ (e mãe dos ricos, mas essa piada é velha e mais da metade da população jamais a entenderá), enquanto as distorções que levam o Estado brasileiro a custar muito e fazer pouco seguem no mesmo lugar.
Sou tão pessimista que tenho dito a amigos: se, durante o curso de minha vida, isso aqui não virar uma União Soviética ou algo pior, posso me considerar um sujeito de sorte.
Entra ano, sai ano, entra eleição, sai eleição, e seguimos assim:
1. Judiciário caríssimo e ineficiente. A jabuticaba Justiça do Trabalho segue custando o dobro do valor das causas que julga, a justiça criminal segue condenando uma pequena fração dos que cometem crimes. As varas cíveis seguem lentas e pouco atentas a sua finalidade: garantir a sacralidade dos contratos; no Brasil, a esperteza compensa.
2. Lei de Execuções Penais extremamente permissiva e fora da realidade. Estatuto da Criança e do Adolescente achando que alguém com 17 anos pode matar e estuprar e segue merecendo tratamento de anjo incompreendido.
3. Sistema de saúde caro e ineficiente. Há boas soluções, como as Unidades de Pronto Atendimento com gestão privada, mas as boas soluções não são copiadas, não se difundem além de um caso ou outro. Enquanto isso, a ANS engessa demais o mercado de planos de saúde privados, inviabilizando a participação da maioria da população nesse sistema.
4. Educação ruim e caríssima. Um aluno do Pedro II, colégio federal, custa mais do que a mensalidade mais cara de uma boa escola privada, e sai do ensino médio tendo aprendido apenas que o mercado (e qualquer atividade produtiva) é feio e cruel, e só o socialismo é bom. Formar um aluno na universidade pública custa 10 vezes formar o mesmo aluno no Prouni (sistema de voucher), e a qualidade da universidade pública só cai. Enquanto isso, conta-se nos dedos os cursos superiores que se equiparam a seus pares no estrangeiro e o país não para de passar vergonha no PISA, o exame comparativo global da educação básica.
5. Gastos irresponsáveis em todas as esferas de governo, legislativos caríssimos, supersalários, aposentadorias e pensões privilegiadas, especialmente no Judiciário, e nem o menor sinal de mudança disso, pois são fatos conhecidos por menos de 10% da população e menos de 1% desses 10% têm interesse no assunto, exceto se for para lutar para ter sua própria boquinha.
E por aí vai. Em todo canto, só leio discursos inflamados, à esquerda e à direita, à espera de um líder salvador da pátria ou que as sentenças de um juiz resolverão todos os problemas, quando o próprio juiz já disse que não é assim.
Há no Brasil uma despreocupação atávica para com o óbvio ululante, para evocar Nelson Rodrigues. Os problemas reais, os privilégios nojentos de uma casta que se diz preocupada com os pobres e simpatiza com o socialismo, as jabuticabas que deveriam nos envergonhar e parar de nos orgulhar de nossos recordes negativos, a baixa produtividade, a falta de liberdade de mercado, tudo isso nunca passa pela cabeça da grande maioria, grande maioria que acha que há soluções simples para problemas complexos, sem sequer se dar conta dos problemas simples. Pode sair boa coisa disso para 2018? Bem, milagres acontecem, quem sabe?
Aurélio Schommer