PF cria sério atrito interno por conta da investigação da briga envolvendo Alexandre Moraes

27/10/2023 às 14:52 Ler na área do assinante

Parece que as coisas saíram fora do controle na Polícia Federal.

A confusão havida no aeroporto internacional da Roma - envolvendo o ministro Alexandre de Moraes, seu filho, Alexandre Barci, o empresário Roberto Mantovani, sua mulher Andréa Munarão e o genro, Alex Zanatta – está criando um grande embate interno dentro da própria Polícia Federal.

Há duas versões para o episódio. Segundo o relato do magistrado, ele foi xingado e seu filho, agredido. Já os acusados - Roberto Mantovani, Andrea Munarão e Alex Zanatta - confirmam que houve a discussão, mas negam que a agressão tenha ocorrido.

As imagens do episódio chegaram ao Brasil, mas não estão sendo colocadas ao conhecimento público. O que é realmente muito estranho.

A conclusão dos agentes encarregados da investigação, que obviamente tiveram acesso a imagem, não confirma absolutamente nada.

Diz que o filho do ministro foi alvo de uma “aparente agressão” consumada por um “aparente tapa”.

A conclusão totalmente vaga gerou um debate no âmbito da Polícia Federal.

Uma reportagem publicada na Revista Veja esclarece minuciosamente a confusão que está ocorrendo:

“Por determinação do diretor-geral do órgão, a corregedoria abriu um processo disciplinar para apurar a conduta do perito Willy Hauffe Neto, presidente da Associação dos Peritos Criminais Federais (APCF). Motivo: a entidade divulgou uma nota questionando o fato de a análise das imagens do aeroporto ter sido realizada por um agente, o que, além de incomum, comprometeria a qualidade e a isenção do trabalho.
´É preocupante que procedimentos não periciais possam ser recepcionados como se fossem ‘prova pericial’, uma vez que não atendem às premissas legais, como a imparcialidade, suspeição e não ter, obrigatoriamente, qualquer viés de confirmação, que são exigidas dos peritos oficiais de natureza criminal.’
Antes de determinar a instauração da sindicância, o delegado Andrei Rodrigues, diretor-geral da PF, fez chegar aos peritos que eles estariam ajudando a ‘defesa dos agressores’ ao pôr em xeque os métodos utilizados na investigação. Em manifestação apresentada à corregedoria na quinta-feira 19, Hauffe alegou que as ponderações sobre a falta de perícia no caso envolvendo o ministro Alexandre de Moraes é uma posição de toda a categoria e que a abertura do procedimento disciplinar representa uma ‘interferência’ no funcionamento da associação, ao constranger suas lideranças, que apenas cumpriram o dever funcional. A PF diz que decidiu não solicitar a perícia técnica nas gravações por considerar que não há dúvida sobre a autenticidade das imagens.
‘A polícia fez apenas um storyboard do que se queria ver, como um viés de confirmação. A questão é que, se houvesse uma perícia, talvez sequer fosse possível atestar a existência de um tapa, uma agressão física de verdade’, disse a VEJA, sob reserva, um dos peritos da PF. Não é um debate saudável. A Polícia Federal é um órgão de Estado e não pode permitir que prospere qualquer desconfiança, por menor que seja, de que ela age ou deixa de agir guiada por interesses políticos. Um inquérito tem o objetivo de apurar a prática de um crime, deve seguir todos os procedimentos legais, independentemente se eles vão beneficiar ou prejudicar quem quer que seja. No caso da agressão, o relato do ministro, por óbvio, merece toda a credibilidade, mas a prova técnica não pode ser desprezada, sob pena de, aí sim, favorecer quem o abordou. Alexandre de Moraes contou que estava na sala vip do aeroporto de Roma, retornando de uma palestra, quando foi xingado de bandido, comunista e comprado. Durante a confusão que se formou, seu filho, segundo o ministro, foi atingido por um tapa no rosto. Os agressores afirmam que eles foram insultados, o que gerou uma discussão acalorada.
As imagens do aeroporto serviriam, portanto, para confrontar as versões conflitantes, poderiam ajudar a esclarecer o que houve ou no mínimo subsidiar uma conclusão mais assertiva. Não foi o que aconteceu. O relatório do agente que analisou o vídeo, que não tem som, descreve que Andrea ‘aparentemente’ discute com o filho do ministro e que Roberto ‘parece’ dar um tapa no rapaz. Com base no laudo, o delegado concluiu que, além da agressão, ‘Roberto Mantovani Filho e Andrea Munarão provocaram, deram causa e, possivelmente, por suas expressões corporais mostradas nas imagens, podem ter ofendido, injuriado ou mesmo caluniado o ministro Alexandre de Moraes e seu filho Alexandre Barci de Moraes’.
O embate entre policiais e peritos, como era de esperar, será explorado pela defesa dos acusados. ‘O que garante que esse agente, por um engano técnico, não apagou alguma imagem? O que garante que eventualmente não houve até uma ação intencional de apagar algumas imagens?’, diz o advogado Ralph Tórtima, que defende a família Mantovani, ressaltando que, ao analisar o vídeo, a polícia italiana constatou que o único contato físico entre o empresário e o filho do ministro foi quando, durante a discussão, o braço de Mantovani impactou ‘levemente os óculos de Alexandre Barci’. Na terça-feira 24, o inquérito ganhou uma novidade que está provocando outra polêmica. O ministro do STF Dias Toffoli, relator do caso, autorizou que o próprio Alexandre de Moraes atue como assistente de acusação. O magistrado deve designar um representante de sua confiança que poderá inquirir testemunhas e propor novas diligências. O Ministério Público se manifestou contra a medida, argumentando que não há previsão legal para a existência de assistente de acusação nessa fase do processo. O que era para ser simples está ficando cada vez mais complicado.”

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