O ativista do MTST Guilherme Boulos foi ‘vítima’ nesta quinta-feira (9) de duas expulsões.
Foi expulso pelo prefeito João Dória do acampamento que montou na avenida Paulista, em São Paulo (veja aqui). E foi expulso dos quadros do jornal Folha de S.Paulo, onde mantinha uma coluna, há dois anos.
Gentilmente, o jornal alegou para o ativista, dublê de ‘agitador’, segundo ele próprio escreveu em seu derradeiro artigo, que a decisão de despedi-lo tratava-se de uma renovação natural, uma rotatividade de colunistas.
Não é verdade. A ‘Folha’ mentiu.
Boulos foi despedido por absoluta falta de leitores. Sua coluna não era lida.
A ‘Folha’, apesar dos pesares, como qualquer jornal, quer leitores, quer retorno. Boulos não dava retorno. Um verdadeiro fracasso.
da Redação
Abaixo, para quem quiser ler, a última coluna de Boulos:
Última Coluna
Recebi nesta quarta-feira (8) uma ligação da direção da Folha dizendo que esta seria minha última coluna. Não estranhei. Estranhei, na verdade, que essa ligação tenha demorado tanto tempo para acontecer. Tenho posições antagônicas às do jornal e, principalmente, uma militância que incomoda a maior parte dos leitores e anunciantes que o mantém.
O argumento dado foi de uma renovação "natural", uma rotatividade de colunistas. Pode ser. Porém, até pelo momento em que ocorre, me parece impossível não relacionar o gesto ao acampamento do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) na Paulista, com todas as reações de hostilidade que gerou em empresários e associações sediadas naquela avenida.
A gritaria de desqualificação da luta do movimento acaba dando o tom na maioria do leitorado da Folha, cada vez mais conservador. Sucumbir a esta grita é tentador.
Saio pela porta da frente, sem ter recuado em nenhuma de minhas posições nesses mais de dois anos escrevendo para o jornal. Devo dizer também que em nenhum momento houve intervenção no conteúdo do que publiquei.
Quando decidi aceitar esta coluna, numa decisão tomada junto com meus companheiros de militância, foi pelo esforço de dialogar com um público mais amplo do que aquele que está próximo dos movimentos sociais.
Funcionou, para o bem e para o mal. Frequentemente meus textos tornaram-se objeto da ruminação rançosa dos comentadores de internet. É o que sabem fazer. Como disse Criolo, cada um dá o que tem, quem tem ódio dá ódio. Mas os textos também chegaram em gente que lê com espírito aberto e ajudaram a quebrar preconceitos sobre a luta do movimento popular.
Tenho o maior respeito e amizade por vários colunistas da Folha. Gente da qualidade de Gregório Duvivier, Vladimir Safatle, Laura Carvalho, André Singer, Juca Kfouri e tantos outros. Nem tantos, na verdade, alguns...
Não é porque deixo de escrever esta coluna que mudarei minha opinião sobre a importância dos textos desses escritores para o debate público. Tenho também grande respeito pelos profissionais jornalistas que trabalham ali.
Seguirei meu caminho, sem transigir um passo. Continuarei escrevendo textos, em outros lugares. E principalmente continuarei lutando, junto com meus companheiros, por moradia e igualdade social, ocupando e resistindo.
Se isso constrange e incomoda parte dos leitores da Folha e seus anunciantes é apenas mais uma demonstração de que estamos em lados opostos. Até que durou bastante, muito mais do que esperava.
A vida é feita de escolhas. Quando um jornal que pretende ser equilibrado toma a decisão de reduzir seu já restrito grupo de colunistas afinados com o pensamento de esquerda e manter um batalhão de colunistas conservadores e de direita, aprofunda sua opção por um certo tipo de público. Sinal dos tempos.
Aos leitores cativos desta coluna podem continuar acompanhando o que escrevo através de minha página no Facebook e, em breve, em algum novo front.