Assim como existem o bom e o mau colesterol, FHC quer que acreditemos que há o Caixa 2 do bem, além daquele malvado Caixa 2 nosso velho conhecido.
O ‘Caixa 2 do Bem’ seria, na verdade, um ‘Caixa 1 e ½’. É 2 porque veio por fora, mas também é 1 porque foi para a campanha, não para o bolso. Tirando a média...
Trata-se, claro, de uma falácia.
Se o dinheiro é legal, pode ser doado e recebido legalmente. Só escoa pelo Caixa 2 o dinheiro sujo, aquele que não ousa dizer a origem.
E usar dinheiro sujo na política não é mais que uma tentativa de lavá-lo – lembrando que lavagem de dinheiro, quaisquer que sejam a lavanderia, o sabão e o amaciante, é crime.
FHC, do alto de sua vasta sabedoria, pretende que tenhamos a sensibilidade de distinguir o joio assumido do joio que finge ser trigo. Mais ou menos o que fazemos com quem rouba para o lazer e quem rouba para comer. Mas não cola.
Se o Caixa 2 vai para o bolso ou para a urna, é indiferente. A urna é só um pit stop – quem usa dinheiro roubado para se eleger vai acabar embolsando esse dinheiro mais adiante.
Outro sábio, o sr. Luís Inácio, conseguiu convencer muita gente (inclusive alguns ‘intelectuais’) de que os fins ilícitos justificam os meios escusos; que a corrupção em nome da Esquerda é menos corrupta que a da Direita.
Que o desemprego e a recessão provocados pelo PT de Dilma não são tão desemprego nem tão recessão quanto os provocados pelo PMDB de Sarney. Se a Esquerda é por mim, quem será contra mim?
Como na foto em que se abraçam no Sírio e Libanês, em alguns pontos FHC e Lula se tocam, se apoiam, olham juntos na mesma direção: a de livrar a própria barra.
Os petistas viveram seu purgatório na Lava Jato e usaram todo o seu arsenal de contorcionismos para tentar escapar da lei. Agora, com a delação da Odebrecht, é a vez dos tucanos irem suar um pouquinho no mármore do inferno. E nessa hora seus discursos se afinam, uma mão tenta desesperadamente lavar a outra.
FHC, exatamente como Lula, quer nos convencer de que há o Bom Ladrão e o Mau Ladrão.
Nem pense em perdoá-los, Moro. Eles sabiam o que faziam.
Eduardo Affonso
Eduardo Affonso
É arquiteto no Rio de Janeiro.