A experiência de guardar certas imagens na alma nasce de maneira livre, espontânea, especialmente quando nutrimos um caso de amor com alguém ou com algo que nos arrebata num misto de paixão e encanto, assim, é o meu caso de amor com São Paulo.
Mais que um grande pedaço de terra com milhões de pessoas, prédios e indústrias, São Paulo na verdade, é um espaço gigantesco onde há um turbilhão de energia correndo em suas veias. Percorrendo suas ruas, vejo em cada rosto a imagem de uma história de vida.
Tudo em São Paulo é majestoso, suas ruas largas, são imensas passarelas por onde desfilam milhões de veículos, uma cidade exponencial dotada de mais de 130 mil vias. Difícil é traduzir São Paulo, outrora feudo dos barões do café, as margens do imponente Tietê, onde deságuam de forma lenta e inibida suas águas dantes poluídas, cidade cortada por um leito flumíneo, cercado de capinzais, de trânsito caótico, de veículos a rodar sempre em ritmo célere, apressado, terra da garoa, capital da fumaça, retratada em verso e prosa, cidade de onde brotou a arte de Adoniram, afirmando que é bamba no samba, berço dos nacionalistas.
Andando pelas ruas, percebo ruídos, pessoas a largos passos a passar por mim, velozes, gente de todo jeito, de todo gene, estereótipos, tipos estranhos.
A pressa imprime ritmos, onde ambulantes nas ruas, no calçadão do mercadão da 25, cantam preços, vendem canetas gravadas, doces, gravatas.
E em meio à evolução do trem, do metrô, do trabalho, a miséria, reside na conturbação do tempo, do espaço, de tudo, reunindo num mundo todo, num ponto do mapa, matizes, cores de uma urbe de contrastes, de tradições, de riqueza e pobreza, de fartura e carências, no seu bucolismo que encanta cheia de romance e lirismo.
Urbe vaidosa, onde o agito de suas avenidas, volúvel, atrevida, insegura, concentra espigões pichados, casas, favelas, à mercê de bandidos.
Cidade de brasileiros, lusitanos, escravos africanos, imigrantes italianos, japoneses, árabes e judeus, múltipla sociedade de opções, autêntica miscelânea de raças e credos, formada à luz da obra jesuíta, missionária, mas também como toda metrópole, repleta de imensos contrastes, de paisagens de rua munidas de violência e despudor, trazendo nas sombras da noite, o desabrochar de uma triste realidade, onde meninas vendem o corpo, prá sobreviver.
E embora as últimas lembranças sejam amargas, roupagens sujas que o dia esconde e que a noite traz aos olhos prá quem quiser ver, nada, porém, aplaca a nostalgia desta cidade, imortalizada na voz de Caetano, no cruzamento da Ipiranga e Avenida São João cartão postal das artes no MASP, centro de comunicação mundial, com suas antenas estendidas a desafiar imensos espigões eretos em plena avenida.
Como esquecer o reduto dos cartolas em Vila Maria, a acirrada disputa política eleitoral, o nível cultural de suas escolas, os ônibus elétricos da Aclimação, o Brás, com seu comércio de máquinas e madeiras, o apetite do bom glutão no Bexiga?
Como uma chama fulgurante, que se mantém acesa, talhada para ser líder, esta cidade por si só é um desafio, que seduz, encanta, apaixona até mesmo alguém como eu, acostumado a viver emoções tão distintas, porém, como esta, difícil é entender ou até mesmo explicar o que senti quando cruzei os céus da grande cidade e sentei meus pés em seus termos.
Nada mais desperta a alma, do que lembrar cheia de encantamento e deslumbre a cidade que elegi por adoção, num pedaço do peito, no meu coração, urbe de meus sonhos, misto de saudade e paixão – São Paulo, meu amor.
Certamente, o país não precisa viver o sectarismo, a ironia de uma divisão que não nos interessa como brasileiros.
No obstante, São Paulo, seja uma capital que proporciona enormes empreendimentos, que se frise que a sua expansão e visibilidade, se dá pela presença de diferentes povos, vindos das mais diferentes regiões do Brasil, especialmente, o Nordeste brasileiro.
Enfim, a quem interessa dividir um estado que acolhe a todos sem distinção de raça, cor, credo, religião? São Paulo é referencia para o Brasil, mas, não existe sozinho, sem apoio e lideranças advindas de diversas formações raciais e povos.
A cultura paulista, é miscigenada, por influência de ritmos, cores e ideologias que se mesclam e assim, em São Paulo, podemos ver várias gentes dos mais distantes lugares do mundo a viver neste lugar, dando o melhor de seu talento e vida por uma região que abraça o mundo e a todos nós.
Não considero a ideia de dividir o Brasil, como se esta fosse à razão dos problemas que emergem em todos os recantos do país, que derivam da corrupção endógena que enlameia e envergonha a todos nós brasileiros.
O Brasil é único! São Paulo é de todos nós, não é posse, nem propriedade de quem quer que seja mesmo por que, filhos adotados são legítimos também, e assim, somos parte deste lugar, e quem nos exclui, está banindo da história, o direito que temos de ser cidadãos livres, a serviço de uma grande cidade que sempre será a razão maior do amor de todos os brasileiros.
Eu sou cearense, amo minha terra, mas, não desejaria tê-la para mim tão somente, ela é patrimônio daqueles que aqui, investem suas vidas com trabalho, suor, esforço, do mesmo modo, percebe São Paulo, como este legado nosso, que indivisível sempre será, pois é pedaço de nossa vida, do nosso Brasil, e nada pode separar brasileiros de seus iguais. Separatismo não é a solução, União sim!
Pio Barbosa Neto
Professor, escritor, poeta, roteirista.
Pio Barbosa Neto
Articulista. Consultor legislativo da Assembleia Legislativa do Ceará