No teatro do sistema não existe monólogo!

24/09/2023 às 06:44 Ler na área do assinante

O dia 21 de setembro poderia ser alçado no Brasil como o DIA DO TEATRO em substituição ao dia 27 de março.

Numa sequência bem ensaiada, a justiça, o PT e a Globo, encenam um dramalhão que se apresenta num palco multifacetado, a serviço de muitas ações e para muita gente. Os holofotes estão afinados.

No enredo, o PT, via sua presidente Gleisi Hoffmann, vem e ataca o TSE, dentro do processo auto vitimizador que é peculiar à sua legenda, questionando a existência da instituição eleitoral e que é também muita cara, insinuando seu fechamento. Carregada de hipocrisias, a atriz petista consegue se contradizer, mostrando suas diversas caras de ocasião. Mas, todas bem previamente elaboradas. Talvez seja a vocação de artista que tem.

A seguir, o presidente do TSE, que também é o todo poderoso do STF, Alexandre de Moraes, entra em cena e publica uma nota oficial, cheia de retóricas e discursos velhos de narrativas de 2022, lambuzada de mel contra o ataque sofrido. Tadinho do PT!!! Segundo a nota, Moraes classifica as mensagens do ataque como “falsas” e “errôneas”. O ingrato, nem cita o nome daquela que contracena com ele. Se o ataque viesse de outros atores, aqueles do núcleo “mau” da peça, a esta altura a Polícia Federal já teria invadido sua casa, quebrado sigilos e seria incluído em algum dos seus inquéritos. De incitadores antidemocráticos, agressores de instituições da república, passando por golpistas, e terroristas, podia escolher qual deles, à sua disposição. A nota, em si, direciona sua bazuca, de forma subliminar, mais a Bolsonaro e a turma da direita do que ao eventual “agressor”. Leia o que diz um trecho da nota: “A vocação pela Democracia e a coragem de combater aqueles que são contrários aos ideais constitucionais e aos valores republicanos de respeito à vontade popular permanecem nesses 91 anos de existência da Justiça Eleitoral, como demonstrado nas eleições de 2022.” Para não me acusarem de tirar o trecho de contexto, leia a nota na íntegra - https://www.tse.jus.br/comunicacao/noticias/2023/Setembro/nota-oficial

E no Gran finale, vem a Globo, principal protagonista do núcleo de consolidação da trama, e publica seu editorial do dia (não é uma simples opinião de um jornalista qualquer. É um EDITORIAL - orienta todas as ações do grupo de comunicação). Ali, a floreia e maquia os conceitos passados ao público, encapsula a verdade, inoculando um veneno quase letal para a sociedade. Enaltece as contradições do petismo para inglês ver (ou brasileiros e americanos, sei lá, entende?). Mas dá aquela cutucada com ferro em brasa na atual oposição. Num trecho do editorial, transcende nossas fronteiras para isso: “Já se sabe, porém, que a firmeza do TSE nos momentos críticos foi fundamental para o país resistir à tormenta. Graças ao TSE e à Justiça, o Brasil tem combatido ataques à democracia com mais eficácia que os Estados Unidos, país que enfrentou ameaça similar.”

No palco dos três protagonistas, para dar sustentação à ficção, coadjuvantes e figurantes passeiam pelo cenário apenas para dar movimento, fugindo assim da monotonia. É composto por outros veículos de comunicação e suas vozes, e subcelebridades da internet. Ainda tem aquelas figurinhas carimbadas, que só aparecem no fundo, quase como relâmpagos, mas que de forma sutil, vem para dar aquela envernizada e ares de dramaticidade. “Oh, querem acabar com o país!”, diriam eles. A peça tem até orquestra para tocar os hits do momento. “Cálice (cale-se), afasta de mim esse cálice” (sem querer inverter a ordem histórica da canção). 

Da coxia, os editores e autores da peça, efusivamente se deleitam com a reação do público. Quase em êxtase! Os críticos teatrais, muitos deles escolhidos a dedo, aplicam sua dose de ironia, malícia e maldade, quase que numa escala industrial, bem manipulada por seus contratantes.

O elenco principal, ao final da peça, faz sua deferência à plateia e volta para os bastidores, quer dizer, para os camarins. Avaliações para a performance são sempre úteis. E depois, o tradicional chazinho das 17h00.

Ah, e o ingresso é gratuito!

Atenções desviadas, toca-se o barco do terror para o país!

Alexandre Siqueira

Jornalista independente - Colunista Jornal da Cidade Online - Autor dos livros Perdeu, Mané! e Jornalismo: a um passo do abismo..., da série Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa! Visite:
  http://livrariafactus.com.br

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