Salvador Allende, 50 anos de inverdades da esquerda chilena

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Há 50 anos, em 11/09/1973, Salvador Allende, presidente do Chile, foi deposto por militares liderados pelo Gen. Augusto Pinochet.

Desde então, a história é contada como se houvesse sido uma luta entre o bem e o mal: Allende seria o anjo do bem e Pinochet, um demônio. Mas um olhar honesto enxerga duas verdades de fácil comprovação: uma é que Pinochet submeteu o Chile a uma tirania das mais opressivas; outra é que Pinochet impediu que Allende impusesse ao Chile a mais cruenta tirania.

Os inegáveis horrores do governo Pinochet são conhecidos de sobejo. Mas é preciso também desmascarar as narrativas mentirosas que escondem o mau caráter e os atos de alta traição de Salvador Allende, moleque de recado de Fidel Castro e, como se verá, um lacaio pago por Moscou.

O que segue é apenas um flash da truculência do odioso regime que ele impôs ao Chile e se revela, já sem disfarçar o ódio revolucionário, nas palavras de Carlos Altamirano (extremista de esquerda, Secretário-Geral do Partido Socialista, deputado e senador) pronunciadas no teatro Caupolicán, em 10/01/1973: "Esta é uma guerra não declarada. Um Vietnã calado, como disse o companheiro Salvador Allende."

A 04/02/1971, em Valparaíso, Allende admitiu: "(...) no soy hipócrita, yo no soy presidente de todos los chilenos." O governo só começava e ele reconhecia ser presidente da Unidade Popular (UP), frentão de esquerda, e que governava com e para essa gente e contra "a burguesia". E fato é que, ao assumir, ele apressou-se em anistiar os militantes do Movimiento de Izquierda Revolucionaria (MIR), organização voltada para a luta armada, presos por diversos crimes. Só então o MIR passou a integrar a UP, cujo programa previa transformar o Estado em um Estado Popular.

Aliás, o MIR ofereceu ao projeto revolucionário uma pauta com 10 pontos fundamentais, incluindo: a luta pela dissolução do Parlamento e a criação de órgãos do Poder Popular a partir dos Conselhos Comunais de trabalhadores e camponeses; a desapropriação imediata de todas as empresas norte-americanas; o controle operário de todas as empresas privadas; e a expropriação de todas as empresas-chave da indústria.

A implantação do totalitarismo avançava. Em menos de três anos, 80% da economia estava em poder do Estado. Quando Allende assumiu, um dólar valia 20 escudos e, ao ser deposto, já estava a 2.500: em torno de 12.000% de inflação. E dos cerca de 3 mil produtos domésticos básicos,

2.500 não eram encontrados pelo povo. Quatro dias antes de cair, Allende admitiu que havia farinha de trigo somente para mais três dias.

Além do caos econômico, a população também sofreu com a violência dos métodos revolucionários. Em menos de três anos, foram 96 mortos, 919 feridos, 165 sequestrados e 18 torturados, num total de 1198 vítimas.

Também houve 68 expropriações a bancos, 34 mil ocupações de indústrias e empresas privadas e 9 mil ocupações de fazendas e casas na área rural.

Mas esse desastre era previsível. Em 1967, na cidade de Chillán, no Congresso do Partido Socialista Chileno (partido de Allende), aprovou-se uma Resolução Política que dizia: "(...) A violência revolucionária é inevitável e legítima (...). Só destruindo o aparato burocrático e militar do Estado-burguês pode consolidar-se a revolução socialista", diretriz que foi confirmada no Congresso de 1971, na cidade de La Serena. A escolha da violência revolucionária estava de acordo com os protocolos adotados em 1966 em Havana, na Conferência Tricontinental, quando foi aprovada por todas as 27 delegações presentes a proposta levada por Allende de criar a OLAS, Organização Latino-Americana de Solidariedade, organismo criado para fomentar revoluções no continente.

Em 1967, Allende se tornou presidente da OLAS. A partir de então, eclodiram no Chile e noutros países da região os primeiros atentados, assaltos e assassinatos. Mas foi em 1970 que teve início a verdadeira guerra subversiva (só extinta no Chile em 1976 pelas Forças Armadas chilenas, debeladas que já estavam no Brasil desde 1974).

Nos anos 1960-70 o mundo vivia o pesadelo da Guerra-Fria. Disputando hegemonia com os EUA, a União Soviética tentava tomar a América Latina através de Cuba, seu posto avançado, que alastrava a guerrilha e o terrorismo na região. Fidel Castro e Che Guevara muito alardearam que os Andes se converteriam na "Sierra Maestra do continente" e que surgiriam "vários Vietnãs". E é ilustrativo que, ao ser morto em 1967, Guevara estivesse na Bolívia comandando guerrilheiros cubanos. um grande desembarque de armas clandestinas foi descoberto e frustrado na Venezuela. E, regidos pela "inteligência cubana", os Tupamaros (no Uruguai), os Montoneros (na Argentina), o MIR (no Chile), assim como os terroristas Marighela e Lamarca no Brasil, metiam o terror na população.

Restará alguma dúvida? Em 03/07/1998, Fidel Castro, discursando no encerramento de um seminário sobre "Globalização" em Havana, promovido pela "Associação de Economistas da América Latina", reconheceu seu papel de promotor da guerrilha em todo o continente nos anos 60. Hoje está claro que Allende obedecia a Fidel, que, por sua vez, era um esbirro da União Soviética, que pretendia dominar o continente.

Seguindo essa lógica, A segurança de Allende (presidente) não estava a cargo das Forças Armadas ou da Polícia, como ocorre em todos os países, mas do chamado Grupo Amigos do Presidente (GAP), um grupo armado de combatentes com instrução militar completa, recebida em Cuba, formado por militantes do MIR e do Partido Socialista e chefiado por um membro do Serviço de Inteligência cubano (sic!) - guerrilheiros, óbvio.

E tem a cereja do bolo. Em 21/09/2005, o jornal britânico The Times publicou um resumo do livro "O Arquivo Mitrokhin", de Vasily Mitrokhin (um desertor da KGB) e Christopher Andrew (historiador), revelando que Allende era um agente pago do serviço secreto soviético. O pagamento era feito por Svyatoslav Kuznetsov, agente da KGB. Sim, o Allende beatificado pelas esquerdas estava a serviço de Moscou! Aliás, quem denunciou essa indignidade por aqui foi Olavo de Carvalho em artigo publicado no Jornal do Brasil sob o título "O Mensalão de Allende", em 22/09/2005. Parece, pois, que não foi por ser boca suja e temperamental que Carvalho se tornou odiado pelas esquerdas...

Allende se elegeu presidente sem obter maioria absoluta dos votos, com apenas 36%. E só teve sua eleição confirmada pelo Congresso após assinar um termo declarando que respeitaria a Constituição. Está visto que não respeitou. Em 22/08/1973, a Democracia Cristã aprovou uma resolução, na Câmara dos Deputados, declarando "ilegal" o governo de Salvador Allende.

Ato contínuo, a Câmara informou aos ministros e às Forças Armadas que Salvador Allende estava na ilegalidade por grave quebra da ordem constitucional e legal.

Diante do descalabro, os generais do Exército, em sua maioria, pensavam levar Allende a ceder o poder às Forças Armadas formando um Ministério somente de militares ou mesmo a renunciar: teria sido um golpe brando, menos traumático. Porém, o que veio naquele 11/09/1973 foi um golpe duro ou, quem sabe, um contra-golpe, já que Allende, rasgando a Constituição e se colocando a serviço de Moscou, como se sabe agora, havia dado um golpe em seu próprio país e estava por fazer ainda mais.

Qualquer chileno esclarecido e honesto, que respeitasse a democracia, repudiava a truculência de Salvador Allende. Fica fácil, pois, imaginar um apoio majoritário ao contra-golpe, o que não significa, de modo algum, carta branca aos atos criminosos que vieram depois.

A ditadura de Pinochet, reação à ditadura de Allende, ao menos no plano político mais se assemelhou do que se diferenciou do autoritarismo socialista: é que a concentração de poder descamba para o abuso. E os que hoje, para defender o socialismo, fazem de tudo para ocultar a história do Chile, negam a lição mais importante que ficou: para haver democracia é preciso um sistema que seja social e politicamente aberto.

E isso não existiu com Pinochet e jamais existirá no socialismo.

Foto de Renato Sant'Ana

Renato Sant'Ana

Advogado e psicólogo. E-mail do autor: sentinela.rs@uol.com.br

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