Quando Temer mantém os ataques a Dilma, mesmo elogiando Lula, ele diz indiretamente que o PT pode ser o problema, e não a figura imaginária do presidente. Ou seja, Inácio pode ser boa pessoa para o cidadão mais ignorante, mas subjetivamente, é visto como incompetente nas suas escolhas. Ao enfatizar que se houve algum golpe, esse golpe “Foi de Sorte”, o ex-presidente mostra uma certa ironia, ao rir quando lhe perguntam sobre a reeleição do molusco.
Ao pedir para que não prendam Bolsonaro (acompanhando declaração de Lira) é porque monitora os efeitos da perseguição de Trump, e imagina que o mesmo aconteceria aqui. Bolsonaro perseguido politicamente seria canonizado como figura política, se consolidando como oposição a esquerda pelos próximos anos, sem compartilhar o protagonismo disso. Com o capitão livre, atacado pela mídia todos os dias, rende-se mais para o Vampiro, que corre pela lateral das polêmicas.
Nisso, todo o estamento político vigente concorda que Bolsonaro traria muito prejuízo para os bolsos do sistema, tentando salvar os contribuintes e a nação, enquanto que Lula também traria prejuízos, privilegiando grupos políticos no sentido de isolar o legislativo e aumentar sua influência nos blocos socialistas da América do Sul.
Cabe então preparar a parte liberal da tesoura, que atende os interesses da Faria Lima, ao mesmo tempo que esgana a pauta conservadora, sem falar disso publicamente. Um dos ovos chocados foi trocado, e ninguém vai se importar com o que vai acontecer com a galinha, depois que a Serpente quebrar a casca. Todo mundo sabe quem é o candidato ideal do vampirão, mas a esquerda trabalhista woke aceitou o risco, e vai pagar pela sua inocência mais uma vez.
A história recente mostrou o que o pessoal do centro é capaz de fazer quando se planeja o poder. E claro que o MDB sempre está nesse planejamento. Toda vez que que vejo uma declaração polêmica do Temer, lembro dessa imagem.
Um retrato do passado, do presente… e talvez, do futuro.
Victor Vonn Serran
Articulista