Conjuntura é o encontro de todos os acontecimentos em um mesmo momento histórico (pode ser a conjunção dos elementos que determinam a situação político-social-econômica do país). Estrutura, neste caso, é o conjunto de elementos (concretos e abstratos) que compõem uma nação politicamente organizada. Infraestrutura é o conjunto das relações econômicas de produção que, historicamente, serve de base à superestrutura (diversas formas de pensamento, organização jurídica, cultural ou política das sociedades). Infraestrutura, praticamente, pode ser enfocada como sendo o conjunto de serviços públicos de uma nação (sistema educacional, sistema de saúde, abastecimento de água, rede de esgotos, geração e distribuição de energia elétrica, coleta de águas pluviais, rede telefônica, gás canalizado, sistema de transporte, sistema prisional, etc.).
No caso de Pindorama a estrutura, a infraestrutura e a superestrutura são extremamente deficientes e, pior ainda, é o que acontece na conjuntura. Lamentável, mas tudo isso decorre, ou é consequência, da desumanidade comportamental (ética e moral) dos políticos que se apropriaram do país.
Ninguém pode negar que os seres humanos são iguais, biologicamente, da concepção ao pós-morte. Entretanto, do ponto de vista social há incompreensíveis desigualdades decorrentes do egoísmo, do orgulho, da vaidade, do ciúme e da ganância das pessoas. Os filósofos costumam apregoar que a cooperação e a fraternidade são preceitos fundamentais para a liberdade e o exercício da cidadania. Mas não é assim que as coisas acontecem por estas bandas do hemisfério.
Mesmo assim os pensadores tupiniquins não desistem. Na última semana a mais lúcida “Confraria Política” do centro oeste brasileiro (cujos membros, em termos ideológicos, situam-se do centro direita à esquerda moderada) reuniu-se no Vitorino’s Bar e Restaurante, sua sede social nº 1, para uma imparcial análise dos últimos acontecimentos que assolaram (e massacraram) Pindorama.
A estratégia metodológica adotada foi a de elencar os fatos e depois proceder-se um frio e imparcial diagnóstico. As conclusões dessa complexa fase foram quase que unânimes: o aparelho produtivo está em perigosa recessão, o desemprego é avassalador e tende a crescer, a taxa de juros continua sendo a maior do mundo, a inflação (apesar de uma pequena desaceleração) continua alta, a política cambial e a conjuntura internacional não são promissoras para o comercio internacional tupiniquim, a distribuição da renda é uma das piores registradas nos últimos trinta anos (só perde para o governo de José Sarney), a riqueza continua exageradamente concentrada.
No aspecto social o quadro é preocupante, uma vez que a educação e a saúde pública encontram-se totalmente sucateadas e mal administradas. A segurança é uma calamidade, as desigualdades são indescritíveis. Quanto à política partidária, o descrédito em relação aos políticos é vergonhoso: a corrupção e o descaramento grassam soltos.
Concluiu-se, também, que o atual governo não representa a maioria dos membros da Confraria que, por sua vez, não aceita a hipótese de o retorno do lulo-petismo ou de qualquer regime autoritário (de esquerda ou de direita). Todos discordam da hipocrisia demonstrada pelos políticos que se apoderaram do Congresso Nacional e demais estâncias do Poder Constituído.
No que diz respeito ao prognóstico (as projeções de médio e longo prazo) as conclusões foram relativamente consensuais. Em síntese, pode-se dizer que se as coisas continuarem como estão será o caos para as gerações futuras. Até aí tudo transcorreu, de certa forma, tranquilamente (o que é uma característica pétrea dos confrades). O problema está em quando e onde interferir, considerando que as diretrizes naturais e políticas que regem a organização social estabelecem normas de direitos e deveres individuais e coletivos para os cidadãos (todo indivíduo que convive em sociedade).
O exercício da cidadania pode ser definido como a condição do ser humano que vive de acordo com as leis que regem uma comunidade politicamente organizada. As Leis, neste contexto, deveriam ser válidas (igualmente) para todos. O exercício da cidadania pressupõe a conscientização e o respeito de todos os direitos (educação, saúde, moradia, trabalho, lazer, livre pensamento, liberdade para escolher seus governantes) e obrigações (cumprimento das leis, educação e respeito aos semelhantes, proteção às pessoas e à natureza, proteção do patrimônio público) previstas constitucionalmente em todo o território nacional e em todos os momentos da vida da sociedade.
Os ânimos se acirraram quando da discussão de propostas para a formulação de um programa político-econômico-social de curto, médio e longo prazo para tirar Pindorama do lamaçal em que se encontra. O ponto inicial foi unanimidade: convocação de uma Assembleia Constituinte sem a participação dos atuais políticos. Entretanto, pairou um questionamento: como fazer isto?
A proposta de consenso, a de eleições gerais (de vereador a presidente da República) ainda em 2017, em que o Congresso, depois, se transformaria em Assembleia Constituinte precisava ser detalhada. Entretanto, como se evitaria a participação dos políticos atuais? O confrade Correinha esclareceu que poderia ser pela “intervenção militar constitucional” (antes da Assembleia Constituinte).
Aí o “bicho pegou feio” porque até entre os que apoiavam a ideia da intervenção houve discordâncias: havia os que a aceitavam sem nenhum condicionamento, e os que impunham condições prévias. O confrade Noel disse que tal hipótese somente seria plausível se surgisse um general com as características ideológicas do almirante Carlos Pena Boto (histórico udenista que presidiu a Cruzada Brasileira Anticomunista na década de 1950). Outro confrade (por whats app) alegou que as características ideológicas do militar para liderar a intervenção deveriam ser a do marechal Henrique Batista Duffles Teixeira Lott (que deu sustentabilidade ao governo de Juscelino Kubistchek). O pessoal da esquerda rejeitou a proposta, com veemência.
Os debates se acirraram e vários confrades se inscreveram, entre eles Paulo, Zé Maria, Juraci, Geraldinho e Zuza. Nesse momento, para surpresa geral, o confrade Vitorino comunicou que o estabelecimento iria encerrar suas atividades e que o tempo só permitiria mais uma rodada de ideias. Apesar dos protestos contra essa arbitrária atitude, marcou-se uma nova reunião para conclusão dos trabalhos.
LANDES PEREIRA. Economista com mestrado e doutorado. É Professor de Economia Política.
Landes Pereira
Economista e Professor Universitário. Ex-Secretário de Planejamento da Prefeitura de Campo Grande. Ex-Diretor Financeiro e Comercial da SANESUL. Ex-Diretor Geral do DERSUL (Departamento Estadual de Estradas de Rodagem). Ex-Diretor Presidente da MSGÁS. Ex-Diretor Administrativo-Financeiro e de Relações com os Investidores da SANASA.