“A psicologia do indivíduo corresponde à psicologia das nações. As nações fazem exatamente o que cada um faz individualmente; e do modo como o indivíduo age a nação também agirá. Somente com a transformação da atitude do indivíduo é que começara a transformar-se a psicologia da nação”. (Carl Jung - Psicologia do Inconsciente, 1ª edição).
Em 1919, Monteiro Lobato, criador de nossa Literatura Infantil e de obras relacionadas ao regionalismo, publica o livro de contos “Cidades Mortas” e nele denuncia o abandono do meio rural, a ineficiência da máquina estatal e o desperdício do dinheiro público “na burocracia absurda para uns, e generosa para outros”.
Monteiro Lobato, nessa obra, com humor inigualável, cria historias onde aponta a alienação dos que moram no interior do Brasil.
Em 1920, o escritor João do Rio, um dos principais cronistas cariocas, publicou o livro “Rosário da Ilusão”. Nele o autor destaca a vida do homem brasileiro nas cidades e procura captar a essência de seu pensamento, comportamento e o que move esses homens dentro desse universo.
João do Rio, em sua obra, tece críticas irônicas sobre os moradores e nos fala sobre a inversão de valores, fraude e da luta pela sobrevivência nas capitais.
No dia 10 de fevereiro de 1980, um grupo heterogêneo de politiqueiros, formado por militantes de oposição à Ditadura Militar, sindicalistas, intelectuais, artistas e católicos ligados à Teologia da Libertação, no Colégio Sion, em São Paulo, fundam o PT, partido politico de ideologia marxista.
Esses militantes antigos da esquerda brasileira, entre eles ex-presos políticos e exilados que tiveram seus direitos devolvidos pela lei da anistia, ainda hoje mentem ao povo brasileiro afirmando que foram eles que trouxeram a democracia ao Brasil e exigem pagamento (bolsa ditadura) pela guerra que nunca travaram, pois lutavam abertamente para instalar uma espécie de “ditadura do proletariado” nos moldes de Cuba e Rússia no lugar da ditadura dos militares.
No livro de Monteiro Lobato, “Cidades Mortas”, aparece o conto “Um Homem de Consciência”, cujo personagem João Teodoro que “nunca fora nada na vida, nem admitia a hipótese de vir a ser alguma coisa”, morava em Itaoca na região norte do Vale do Paraíba, onde segundo Lobato: "Tudo foi e nada é. Não se conjugam verbos no presente. Tudo é pretérito."
-“Chamava-se João Teodoro, só. O mais pacato e modesto dos homens. Honestíssimo e lealíssimo, com um defeito apenas: não dar o mínimo valor a si próprio. Para João Teodoro, a coisa de menos importância no mundo era João Teodoro.
Nunca fora nada na vida, nem admitia a hipótese de vir a ser alguma coisa, e por muito tempo não quis nem sequer o que todos ali queriam: mudar-se para terra melhor... João Teodoro entrou a incubar a idéia de também mudar-se, mas para isso necessitava dum fato qualquer que o convencesse de maneira absoluta de que Itaoca não tinha mesmo conserto ou arranjo possível”.
No livro de João do Rio, “Rosário da Ilusão”, surge o conto “O homem da cabeça de papelão”. Antenor é o nome da personagem principal, “morava no país que chamavam de Sol, apesar de chover, às vezes, semanas inteiras, Não era príncipe. Nem deputado. Nem rico. Nem jornalista. Absolutamente sem importância social”.
“... E o povo que a habitava julgava-se, além de inteligente, possuidor de imenso bom senso. Bom senso! Se não fosse a capital do País do Sol, a cidade seria a capital do Bom Senso! Precisamente por isso, Antenor, apesar de não ter importância alguma, era exceção mal vista.
Desde menino, a sua respeitável progenitora descobriu-lhe um defeito horrível: Antenor só dizia a verdade. Não a sua verdade, a verdade útil, mas a verdade verdadeira”.
Na fundação do PT, em 1980 os intelectuais precisavam de um “inocente útil”, (haviam saturado a sociedade brasileira com a ideologia de esquerda, apossando-se de jornais, Universidades, Escolas de 1º e 2º graus, sindicatos, movimentos sociais e estavam prontos para iniciar a luta pelo poder).
Como já afirmei, precisavam de “um inocente útil”. Mas não qualquer tipo de “inocente útil”. Eles procuravam um malandro semi-analfabeto, cachaceiro, cheio de palavreado oco, um “sem-noção” que topasse tudo, ligado a um sindicato que estivesse em evidencia. Então acharam Lula e disseram a ele que o verdadeiro fundador do PT era o dito cujo. Ele acreditou piamente e até hoje divulga em entrevistas que criou um partido político. Então os sindicalistas, intelectuais, artistas e católicos ligados à Teologia da Libertação, militantes antigos da esquerda brasileira, entre eles ex-presos políticos começaram a espalhar pelos 4 cantos do país que este era o verdadeiro partido do povo, porque era representado por um semi-analfabeto.
Desde que foi fundado o PT trabalhou contra todos os governos, afirmando a nação que era o partido da ética, que eles deveriam governar, eram os únicos que sabiam administrar o país, pois tinham um homem do povo em sua presidência. Em 2002, finalmente, tomaram o poder. Então os malandros mostraram sua verdadeira face. De éticos passaram a partido dos trambiqueiros, dos caras-de-pau, origem dos maiores escândalos políticos jamais vistos na história deste País. O malandro escolhido a dedo pelos intelectuais, Lula, chamou a rapina geral da Nação feita pelos petistas e por outras legendas agregadas “de pequenos erros dos companheiros”.
No conto um “Homem de Consciência”, João Teodoro precisava de um fato, apenas um para abandonar a cidade de Itaoca que decaia e estava tomada pela corrupção. E o fato aconteceu:
- “Um dia aconteceu a grande novidade: a nomeação de João Teodoro para delegado. Nosso homem recebeu a notícia como se fosse uma porretada no crânio. Delegado, ele! Ele que não era nada, nunca fora nada, não queria ser nada, não se julgava capaz de nada...
Ser delegado numa cidadinha daquelas é coisa seriíssima. Não há cargo mais importante. É o homem que prende os outros, que solta, que manda dar sovas, que vai à capital falar com o governo. Uma coisa colossal ser delegado – e estava ele, João Teodoro, de-le-ga-do de Itaoca!...”
No conto de João do Rio, “O homem da cabeça de papelão”, encontramos Antenor que só falava verdade um homem que a princípio era ético, justo, verdadeiro, procurando sempre o porquê das coisas erradas.
- “Antenor foi trabalhar, entretanto... Ao cabo de um ano, dois meses, estava na rua. Por que mandavam embora Antenor? Por quê? É tão difícil saber a verdadeira razão por que um homem não suporta outro homem!
... Ele via os erros, as hipocrisias, as vaidades e dizia o que via. Ele ia fazer o bem, mas mostrava o que ia fazer. Como tolerar tal miserável? Antenor tentou tudo, juvenilmente, na cidade. A digníssima sua progenitora desculpava-o ainda... Em todas as profissões vira os círculos estreitos das classes, a defesa hostil dos outros homens, o ódio com que o repeliam, porque ele pensava, sentia, dizia outra coisa diversa.
- Mas, Deus, eu sou honesto, bom, inteligente, incapaz de fazer mal...
- É da tua má cabeça, meu filho... A tua cabeça não regula.
Antenor começava a pensar na sua má cabeça, quando o seu coração apaixonou-se. Era uma rapariga chamada Maria Antônia, filha da nova lavadeira de sua mãe. Antenor achava perfeitamente justo casar com a Maria Antônia. Todos viram nisso mais uma prova do desarranjo cerebral de Antenor. Apenas, com pasmo geral, a resposta de Maria Antônia foi condicional.
- Só caso se o senhor tomar juízo.
Como tomar juízo? Como regular a cabeça? O amor leva aos maiores desatinos. Antenor pensava em arranjar a má cabeça, estava convencido.
Nessas disposições, Antenor caminhava por uma rua no centro da cidade, quando os seus olhos descobriram a tabuleta de uma “relojoaria e outros maquinismos delicados de precisão”. Achou graça e entrou. Um cavalheiro grave veio servi-lo.
Era um lugar onde se consertava relógios e cabeças, então Antenor que se sentia desconfortável, rejeitado e era um fracasso social e profissional resolve “tomar juízo” e pede ao relojoeiro que conserte sua cabeça desajustada. Como solução o relojoeiro dá a ele uma cabeça comum, feita de papelão enquanto a dele era inspecionada para conserto.
“Dois meses depois, Antenor tinha uma porção de amigos, jogava o pôquer com o Ministro da Agricultura, ganhava uma pequena fortuna vendendo feijão bichado para os exércitos aliados. A respeitável mãe de Antenor via-o mentir, fazer mal, trapacear e ostentar tudo o que não era. Os parentes, porém, estimavam-no, e os companheiros tinham garbo em recordar o tempo em que Antenor era maluco.
Antenor não pensava. Antenor agia como os outros. Queria ganhar. Explorava, adulava, falsificava. Maria Antônia tremia de contentamento vendo Antenor com juízo. Mas Antenor, logicamente, desprezou-a propondo um concubinato que o não desmoralizasse a ele. Outras Marias ricas, de posição, eram de opinião da primeira Maria. Ele só tinha de escolher. No centro operário, a sua fama crescia, querido dos patrões burgueses e dos operários irmãos dos spartakistas da Alemanha. Foi eleito deputado por todos, e, especialmente, pelo presidente da República — a quem atacou logo, pois para a futura eleição o presidente seria outro. A sua ascensão só podia ser comparada à dos balões. Antenor esquecia o passado, amava a sua terra. Era o modelo da felicidade. Regulava admiravelmente”.
Durante 16 anos que esteve no poder, Lula e seus partidários aparelharam o Estado brasileiro, do Supremo até os pequenos cargos de carteiros. O bem público é detalhe. Os eleitores são coisas, mercadorias de trocas por votos. Nunca existiu ideologia, apena roubalheira, avacalhação a exercitação da gatunagem desbragada, sem escrúpulo ético algum. Geraldo Barboza de Carvalho no texto “Apologia da Malandragem”, afirmou:
- “A malandragem é a ideologia do político brasileiro. Sua mente é preparada para pensar, idealizar, praticar o roubo sem remorso nem crise de consciência. Ele é aético, um monstrengo antropológico, uma aberração sociológica, agente do espírito mau como o malandro. Por isto, este serve de modelo para os políticos e magistrados, do Presidente da República ao Governador de Estado, do Presidente do Congresso e assembléias legislativas às câmeras dos vereadores, do deputado federal, estadual ao vereador, do Presidente do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Regionais aos Tribunais estaduais, autoridades em geral e boa parte da população, todos estão imbuídos do espírito diabólico e aético, bebem da água suja da proverbial esperteza do malandro”.
No texto de Monteiro Lobato, “Um Homem de Consciência”, o personagem principal tinha um dilema: aceitava o cargo, mesmo sabendo que nada sabia ou desistia de tudo e aceitava o fato de que não tinha competência para a responsabilidade e que tudo aquilo era um absurdo.
- “João Teodoro caiu em meditação profunda. Passou a noite em claro, pensando e arrumando as malas. Pela madrugada botou-as num burro, montou no seu cavalinho magro e partiu. Antes de deixar a cidade foi visto por um amigo madrugador.
– Que é isso, João? Para onde se atira tão cedo, assim de armas e bagagens?
– Vou-me embora – respondeu o retirante. – Verifiquei que Itaoca chegou mesmo ao fim.
– Mas, como? Agora que você está delegado
– Justamente por isso. Terra em que João Teodoro chega a delegado eu não moro. Adeus.
E sumiu."
No conto de João do Rio, o personagem principal agora atua de forma esplêndida e se torna rico com sua cabeça de papelão:
-“Passaram-se assim anos... Então Antenor passeava de automóvel pelas ruas centrais, para tomar pulso à opinião, quando os seus olhos deram na tabuleta do relojoeiro e lhe veio à memória.
- Bolas! E eu que esqueci! A minha cabeça está ali há tempo… Que acharia o relojoeiro? É capaz de tê-la vendido para o interior. Não posso ficar toda vida com uma cabeça de papelão! Saltou. Entrou na casa do negociante. Era o mesmo que o servira.
- Tem-se dado bem com a de papelão?
- Assim…
- As cabeças de papelão não são más de todo. Fabricações por séries. Vendem-se muito.
- Mas a minha cabeça? Consertou-a?
- Não.
- Então, desarranjo grande?
O homem recuou.
- Senhor, na minha longa vida profissional jamais encontrei um aparelho igual, como perfeição, como acabamento, como precisão. Nenhuma cabeça regulará no mundo melhor do que a sua. É a placa sensível do tempo, das ideias, é o equilíbrio de todas as vibrações. O senhor não tem uma cabeça qualquer. Tem uma cabeça de exposição, uma cabeça de gênio, hors-concours.
Antenor ia entregar a cabeça de papelão. Mas conteve-se.
Optou por ficar com a cabeça de papelão e explicou
- Pode ser que V., profissionalmente, tenha razão. Mas, para mim, a verdade é a dos outros, que sempre a julgaram desarranjada e não regulando bem. Cabeças e relógios querem-se conforme o clima e a moral de cada terra. Fique V. com ela. Eu continuo com a de papelão.
E, em vez de viver no País do Sol um rapaz chamado Antenor, que não conseguia ser nada tendo a cabeça mais admirável — um dos elementos mais ilustres do País do Sol foi Antenor, que conseguiu tudo com uma cabeça de papelão”.
Novamente o PT está no poder. Os mesmos larápios que assaltaram a nação, não no século passado, mas ontem, há pouquíssimo tempo, como todos podem ter olvidado? De tal forma aparelharam o Estado que os crimes foram esquecidos pelos “homens que possuem cabeça de papelão” através da propaganda e da justiça, mas não pelos homens de consciência.
Os textos de Monteiro Lobato e João do Rio foram escritos há 103 anos e nos mostraram os mesmos defeitos dos dias de hoje, os comportamentos diversos: João Teodoro seguiu sua consciência e Antenor preferiu usar a cabeça de papelão para praticar crimes e mais crimes, assim ficou rico.
Afinal, quem somos nós? Somos Macunaímas, como escreveu Mário de Andrade? Nunca vamos evoluir? Somos heróis sem caráter? Somos o país da impunidade, dos assaltantes, sonegadores, do contrabando, da fraude fiscal? Dos maus exemplos que veem das autoridades? Do jeitinho brasileiro?
Ou apenas seguimos lideres corruptos e nos espelhamos em seus atos?
Carlos Sampaio
Professor. Pós-graduação em “Língua Portuguesa com Ênfase em Produção Textual”. Universidade Federal do Amazonas (UFAM)