Preparem o lombo, pois Zanin vai passar. A não ser que...

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Tenho ouvido e lido muitos comentários sobre as sabatinas no Senado Federal, desde o início da república, desde de sua implantação em 1889. Tudo por ocasião, que se aproxima, da sabatina do advogado Cristiano Zanin, que nunca foi juiz de nada, portanto mais um sem carreira na magistratura, indicado pelo ex-presidiário.

Num trecho do livro PERDEU, MANÉ! de minha autoria, podemos extrair que (página 39): 

Na composição do STF de 1894, o então presidente da república, Marechal Floriano Peixoto, indicou cinco nomes para nossa mais alta corte. E um a um, foram rejeitados. São eles: o médico Cândido Barata Ribeiro, os generais Ewerton Quadros e Innocêncio Galvão de Queiroz, o advogado Antônio Sève Navarro e o diretor-geral dos correios Demosthenes da Silveira Lobo.
No entendimento dos senadores à época, quatro deles não tinham “notório saber”, por exercerem atividades fora da área jurídica, ainda que o general Galvão de Queiroz tivesse formação em direito. E o único advogado atuante dessa lista foi rejeitado por entendimento da maioria dos senadores, possivelmente por questões políticas. Por conta desse episódio, a partir das constituições que se seguiram, foi acrescido o termo “jurídico” no requisito, assim ficou estabelecido que a exigência seria “notável saber jurídico”, como também as sessões no Senado passaram a ser públicas, com a cobertura da imprensa.

De lá para cá, passados 129 anos, nunca mais aconteceu de o senado rejeitar algum nome. Observe que à época uma das exigências era o limitado e famigerado “notório saber”, e após esses eventos de rejeição, foi alterada a expressão, que passou a exigir “notável saber jurídico”.

Tem razão o advogado e comentarista Tiago Pavinatto, quando traz à discussão a diferenciação entre notório e notável, que cabe aqui lembrar. Notório: adjetivo que qualifica algo que é público, de conhecimento geral, fácil de ser notado. Notável: diz respeito a algo que é ilustre, insigne, admirável, extraordinário. É como se pudéssemos falar que uma característica de uma fruta é notória, mas não que seja notável. De Zanin podemos afirmar que é notório sua proximidade com o presidente da república (que o indica), mas não que seja notável seu saber jurídico (sob ponto de vista de um julgador).

A respeito destas tantas e tantas sabatinas sem que nenhuma reprovação tenha acontecido, a constatação que temos é que não existe o menor comprometimento e constrangimento dos sabatinados nas sessões. Falam o que querem, mentem, iludem, ludibriam e manipulam os sabatinadores, e quanto muito um deles se rebela e o reprime, a preocupação é mínima, pois sabem que são minoria. À sociedade, o desprezo. A sessão é pachorrenta, vira uma chacota, quase um programa de auditório a lá Chacrinha - quem quer bacalhau!

Lembra-me a música “Deixa isso pra lá”, um clássico dos compositores Alberto Paz e Edson Menezes, interpretada como ninguém na voz e coreografia de Jair Rodrigues. À parte o tema da canção com sua entonação romântica, trazemos à baila a conotação política das sabatinas. Mesmo porque, lançada em 1964, a música também foi entoada para dar um recado ao povo justo quando os militares assumiram o poder naquele ano.    

Deixa Isso Pra Lá

Jair Rodrigues

Deixa que digam
Que pensem
Que falem
Deixa isso pra lá
Vem pra cá
O que que tem?
Eu não estou fazendo nada
Você também
Faz mal bater um papo
Assim gostoso com alguém?
Deixa que digam
Que pensem
Que falem
Deixa isso pra lá
Vem pra cá
O que que tem?
Eu não estou fazendo nada
Você também
Faz mal bater um papo
Assim gostoso com alguém?
Vai, vai por mim
Balanço de amor é assim
Mãozinha com mãozinha pra lá
Beijinhos e beijinhos pra cá
Deixa que digam
Que pensem
Que falem
Deixa isso pra lá
Vem pra cá
O que que tem?
Eu não estou fazendo nada
Você também
Faz mal bater um papo
Assim gostoso com alguém?
Deixa que digam
Que pensem
Que falem
Deixa isso pra lá
Vem pra cá
O que que tem?
Eu não estou fazendo nada
Você também
Faz mal bater um papo
Assim gostoso com alguém?
Vem balançar
Amor é balanceio, meu bem
Só vai no meu balanço quem tem
Carinho pra dar

Como tudo caminha para que o nome de Zanin seja aprovado, mesmo porque não há até aqui nenhuma manifestação do STF quanto a questão da impessoalidade da indicação (fator utilizado pelo ministro Alexandre de Moraes para impedir que Jair Bolsonaro indicasse Alexandre Ramagem para a Polícia Federal - incoerência agora?), digo que “a não ser que...”, por dois motivos. Que os senadores não queiram ser responsabilizados por seus votos (serão 28 anos de Zanin no STF) e que tenham um mínimo de serenidade, cumplicidade e empatia com o povo brasileiro.

Meu único pedido é que tenham lucidez! Em suma, que tomem vergonha na cara

Foto de Alexandre Siqueira

Alexandre Siqueira

Jornalista independente - Colunista Jornal da Cidade Online - Autor dos livros Perdeu, Mané! e Jornalismo: a um passo do abismo..., da série Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa! Visite:
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