O forte depoimento de Roberto Jefferson e o fato inusitado que surge no caso
30/05/2023 às 17:44 Ler na área do assinanteO ex-deputado federal Roberto Jefferson, preso desde 2022, deu seu primeiro depoimento e admitiu, nesta sexta-feira (26), que atirou cerca de 50 vezes e que arremessou três granadas de luz e som contra os quatro policiais federais que foram prendê-lo em 23 de outubro de 2022, mas que não teve a intenção de matá-los.
Apesar de totalmente condenável e extremamente perigoso, tem que ter muita coragem (ou loucura) para trocar tiros com a PF.
A atitude absolutamente irresponsável de Bob Jefferson, causos estragos muito além do pequeno município carioca de Levy Gasparian. O PTB foi destruído e a campanha de Jair Bolsonaro foi fortemente abalada, já que Jefferson era um aliado (indesejado, mas ainda um aliado).
Jefferson pediu desculpas publicas aos policiais que foram a sua casa (dois deles foram feridos) e se disse arrependido por todo incidente que decorreu de uma ordem de prisão expedida pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Jefferson foi interrogado por cerca de duas horas na Justiça Federal de Três Rios. Ele responde pelos seguintes crimes:
- tentativa de homicídio contra os quatro agentes federais;
- resistência qualificada;
- posse ilegal de arma e de três granadas adulteradas.
“Eu estava no meu quarto no celular quando vi os policiais chegarem pela câmera de monitoramento. Peguei a carabina que fica do lado da minha cama e a bolsa com os três artefatos. Fui pra varanda. Eles disseram que foram me prender e fazer busca na minha casa. Eu disse que não ia, que estava sendo perseguido pelo Alexandre de Moraes, e falei pra eles [policiais] saírem de lá. Um policial pulou o portão”.
Ato continuo, o réu declarou que mostrou a granada de luz para os policiais e disse que iria arremessá-la.
“Aí eles correram, se abrigaram. E eu só lancei depois. Depois eu disparei no para-brisa, na capota, no giroflex. Dei uns 45, 50 tiros”.
E aí ele revelou um dado surpreendente:
“Eles não tinham colete [à prova de balas], por isso eu tive cuidado. Mirei todos os tiros na viatura”.
Quem autorizou a ida de um grupo de uma dúzia de policiais federais ir até a casa de um suspeito que sabidamente tinha armas de fogo em seu poder (Jefferson havia postado fotos armado nas redes sociais) sem o mínimo de equipamento de segurança?
Indagado se estava arrependido, Jefferson disse que “sim”.
“Hoje eu não repetiria. Estou preso, afastado da minha casa, da mulher que eu amo”.
Antes de Jefferson, foi ouvido o depoimento de Jeferson Evangelista Corrêa, perito criminal aposentado da Polícia Federal.
Ele foi ouvido na qualidade de assistente técnico da defesa e trouxe um novo fato ao caso. O perito disse que a cena do crime foi alterada antes da perícia de local da Polícia Federal.
“A cena perdeu vestígios até que a perícia fosse feita. O isolamento da área foi precário. Isso torna o laudo vulnerável”.
O perito afirmou que do local onde estava, Jefferson teria facilmente conseguido matar os agentes da PF, se tivesse intenção.
“As lesões nos policiais foram leves. Foram atingidos por estilhaços de alguma coisa. Não foram tiros de fuzil direcionados a eles”.
Após a audiência, a juíza federal Abby Ilharco Magalhães abriu prazo para alegações finais do MPF e da defesa. Em seguida, ela vai decidir se Jefferson vai a júri popular.
Um episódio triste de um personagem polêmico da história recente do Brasil.
Eduardo Negrão
Consultor político e autor de "Terrorismo Global" e "México pecado ao sul do Rio Grande" ambos pela Scortecci Editora.