Oito anos atrás, em artigo neste jornal, saudei a posse de Barack Obama. Dizia na ocasião que: " pela primeira vez, está posta a possibilidade de um líder global, que baseia sua força, não no arsenal bélico que comanda, mas na sintonia com o tempo em que vive e na liderança moral que foi construindo na sua campanha, lavando a alma de jovens, de excluídos, de celebridades do mundo das artes, de cientistas, de ambientalistas, de libertários e humanistas de todos os matizes, do mundo inteiro. [...] Todas as mudanças anunciadas são possíveis e o mundo inteiro torce por elas. Estará o líder americano à altura dessas expectativas e desafios? "
Em seu discurso de despedida, Obama apontou que a economia voltou a crescer, superando a crise de 2008, que os salários e as aposentadorias voltaram a subir e a pobreza voltou a diminuir. Que o desemprego é o mais baixo em dez anos e que os ricos estão pagando uma parcela mais justa de impostos inclusive financiando a expansão do sistema de seguros de saúde, o ObamaCare que incorporou cerca da 18 milhões de pessoas, antes sem nenhuma cobertura assistencial.
Na frente internacional acabou com a tortura em Guantánamo, mas, por oposição do Congresso republicano, não conseguiu fechar a prisão, colocou os EUA no Acordo do Clima, fez a reaproximação com Cuba, retirou tropas do Iraque e, parcialmente, do Afeganistão e distensionou a relação com o Irã na questão nuclear.
O primeiro presidente negro dos EUA assumiu o mandato com 84% de aprovação e terminou-o festejado por uma aprovação de 60% da população, uma das mais alta entre todos os presidentes americanos. Alguns críticos, entretanto, apontam que o seu maior legado, negativo, foi a eleição do multimilionário extravagante, racista e xenófobo Donald Trump, hoje, com aprovação de apenas 40% dos americanos. Tendo perdido a eleição no voto universal foi eleito presidente em decorrência do esdrúxulo sistema eleitoral do país.
Sua posse em vez de festa, tornou-se um momento de protesto de intelectuais, artistas, lideranças políticas e de grande número de cidadãos nas grandes cidades americanas.
Eleito com os votos dos deserdados da globalização, principalmente trabalhadores brancos que perderam seus empregos no médio oeste americano, onde a indústria automobilística se transformou no "cinturão de ferrugem", uma região estagnada, onde o populismo xenófobo fez enorme sucesso, principalmente por conta do desemprego, pelo qual culpa os imigrantes e a China.
Mais, não são os chineses que estão roubando postos de trabalho em todo o mundo, é a indústria que está se robotizando em decorrência da incorporação da tecnologia de quarta geração, altamente poupadora de mão de obra. As plantas antigas das indústrias automobilísticas jamais serão recuperadas, pois a reconversão produtiva, destas, é antieconômica. A economia nova sempre surgirá do zero em novas regiões. Isso nós já assistimos também no Brasil.
Acabou também o espaço para economia autóctones reguladas a partir de ditames dos governos nacionais e dos seus bancos centrais, não há mais como distinguir a nacionalidade do capital. O capital financeiro está no controle de tudo e flui pelo globo na busca da otimização de seus ganhos, inclusive na China. Os chineses, hoje, são donos de parcelas expressivas dos títulos da dívida pública e de empresas americanas. Já chegou até a Hollywood. Parece estar chegando ao fim o império americano.
Quem mandou Trump não ler o Manifesto Comunista de 1848, onde Marx profetizava "em lugar do antigo isolamento de regiões e nações que se bastavam a si próprias, desenvolvem-se um intercâmbio universal, uma universal interdependência das nações. E isto se refere tanto à produção material como à produção intelectual". É o capitalismo, simples assim.
FAUSTO MATTO GROSSO
Engenheiro e Professor da UFMS