Durante anos, senadores e deputados ignoraram o país, mudos e impassíveis.
Senado e Câmara deixaram praticamente de existir, enquanto um presidente era ofendido, atacado, e uma ditadura se instalava bem debaixo de seus narizes.
Hoje, quem paga o preço de sua covardia é Deltan.
Por enquanto, é Deltan Dallagnol que paga. Mas o precedente está aberto, escancarado. Amanhã, será qualquer um que ouse desafiar o(s) ditador(es) de plantão. Foi o silêncio covarde dos parlamentares que permitiu a abertura dessa porteira, e hoje estão diante dela, atônitos.
Deltan é só um apoiador de Bolsonaro, dirão aliviados. Como Daniel Silveira, Jefferson. Porém...e existe o porém...a marca registrada desse desgoverno violento é a de passar como um trator por cima de quem quer que ouse desafiá-lo. Amigos, inimigos, não importa.
Fato: no filme, bandidos fazem papel de bandidos. É sua genética, seu script. Mas quando os supostos mocinhos se calam, curvados e silentes, o final só pode ser infeliz. Não adianta tentar mudar esse final esbravejando tardiamente, culpando apenas os bandidos.
A responsabilidade sobre essa situação lamentável é dos que tinham o poder -e obrigação-de evitá-la e nada fizeram, por covardia, conveniência ou seja o que for. Lição histórica, como é histórica a omissão desses poderes que, eleitos pelo povo, deveriam estar ao seu lado.
Com a cassação de Deltan, quase 350 mil vozes foram caladas na marra. Imediatamente, sem recurso algum. É apenas o começo. Quem não enxerga isso também não enxerga, em sua cegueira, que o silêncio antes voluntário agora será imposto. Compulsório. Um país de surdos e mudos.
Marco Angeli Full
https://www.marcoangeli.com.br
Artista plástico, publicitário e diretor de criação.