Menos de dois anos após sua surpreendente vitória em julho de 2021, o presidente do Chile, Gabriel Boric, sofre uma derrota eleitoral arrasadora.
Partidos de direita venceram a eleição para o Conselho Constituinte do Chile (uma espécie de assembleia constituinte). O país foi às urnas neste domingo (7). O novo conselho contará com 50 pessoas e será responsável por redigir a nova Constituição chilena.
O Partido Republicano, a legenda que representa os conservadores no Chile, liderado pelo ex-candidato presidencial conservador José Antonio Kast, ficou na liderança, com 35,5% dos votos.
Sendo assim o Partido Republicano conseguiu mais de dois quintos das cadeiras disponíveis no Conselho. Somados aos votos conquistados pelo Chile Seguro – coalização da direita tradicional, que conseguiu 21,1% dos votos – os partidos de direita conseguiram o controle sobre a discussão do novo regimento.
"Hoje é o primeiro dia de um futuro melhor, um novo começo para o Chile", disse Kast.
A Unidad para Chile, a coalizão de esquerda do presidente chileno Boric ficou num distante segundo lugar, com pouco mais de 28%. Os demais votos foram para partidos centristas.
Os artigos precisarão de uma maioria de três quintos do Conselho para serem aprovados. Os conselheiros eleitos começarão a redigir o novo texto em junho, com base em um projeto compilado por 24 especialistas constitucionais nomeados pelo Congresso em março. Os eleitores aprovarão ou rejeitarão a nova proposta ainda neste ano, em dezembro.
O plano do esquerdista radical Boric era reescrever a Constituição chilena a seu bel prazer a exemplo de Hugo Chaves na Venezuela ou na Daniel Ortega na Nicarágua. Em 2020 com a popularidade em alta por ter sido eleito o presidente mais jovem da história do Chile, Boric induziu quase 80% dos chilenos a votarem por uma nova constituição, após violentos protestos contra a desigualdade. Mas desde então seus índices de aprovação despencaram, em meio às dificuldades enfrentadas pela economia chilena e com o aumento da criminalidade se tornando as principais preocupações dos eleitores.
Ressabiado pelas derrotas, o jovem presidente declarou:
"O governo não se intrometerá no processo e respeitará a autonomia da entidade em suas deliberações", disse Boric, a repórteres na manhã de domingo após a votação, acrescentando que o governo atuará como fiador e apoiará as solicitações do novo Conselho.
O ex-lider estudantil pediu unidade política, pedindo aos conselheiros "que não pensem nas próximas eleições, mas na próxima geração".
Eduardo Negrão
Consultor político e autor de "Terrorismo Global" e "México pecado ao sul do Rio Grande" ambos pela Scortecci Editora.