General se insurge contra o "sistema" e rompe o silêncio sobre 8 de janeiro

03/04/2023 às 16:31 Ler na área do assinante

Em nota divulgada sobre o dia 31 de março, o general Maynard Marques de Santa Rosa, não mede as palavras e aproveita para fazer duras críticas sobre o desfecho dado aos acontecimentos ocorridos no dia 8 de janeiro.

Sem papas na língua, o militar afirma o seguinte:

“Os infaustos de 8 de janeiro parecem ter sido maquinados para justificar o obscurantismo de uma repressão implacável e ilegal. 
Centenas de inocentes seguem ainda confinados, à margem das garantias constitucionais, para exemplo perverso a milhões de outros brasileiros descontentes”.

O general disse ainda:

"Inibindo o povo de exercer a própria soberania, instalou-se no país a paz dos pântanos, polífica de miasmas de ódio, insegurança jurídica e desesperança. Nestas condições, não pode haver harmonia e, menos ainda, governabilidade”. 

Leia a nota na íntegra:

31 DE MARÇO DE 1964 – PATRIOTISMO, DECISÃO E CORAGEM

A memória de 1964 permanece tão presente quanto reprimida pela insegurança dominante. A tentativa que se faz de suprimir parte da História imita a prática do regime estalinista, durante os expurgos da década de 1930.

Provado está que uma ideia só pode ser superada por outra ideia melhor. E, ainda, não há substituto para o ideário de 1964, que começou com o movimento tenentista dos anos 1920, ficou represado no Estado Novo e desaguou no dia 31 de março, concretizando o anseio por um país soberano, moderno e próspero, uma sociedade livre, justa e fraterna.

A instabilidade política no Brasil intensificou-se após o suicídio de Getúlio Vargas, em 24 de agosto de 1954. Entre 1956 e 1961, a habilidade de JK proporcionou ao PSD um oásis de governabilidade fugaz, que se extinguiu com a transferência do poder para a UDN.

A renúncia de Jânio Quadros, em 25 de agosto de 1961, abriu a caixa de pandora da crise. O hiato parlamentarista, entre 1961 e 1963, aplacou as expectativas do que viria a tomar corpo após o plebiscito de 6 de janeiro de 1963, quando um presidente fraco e errático buscou apoio em partidos filiados ao movimento comunista internacional, que lhe impuseram a agenda temerária das reformas de base “na lei ou na marra”. A crise institucional de cúpula, em sincronia com as pressões de base estudantil e sindical, paralisou a economia do país e determinou a queda do governo João Goulart.

O Brasil virou peça no tabuleiro geopolítico da Guerra Fria. A solução da crise dos mísseis, em 1962, obrigara os Estados Unidos a aceitarem o fato consumado do regime cubano. O condicionamento americano à “teoria do dominó”, que levou à intervenção no Vietnam, jamais permitiria uma replicação comunista na América do Sul, intenção sinalizada com a presença de uma força do Corpo de Fuzileiros Navais navegando “offshore”, nas proximidades da costa brasileira.

No início de 1964, o caos institucional e a anarquia empurravam o Brasil para o cenário da Guerra Civil Espanhola. A reação começou por iniciativa de lideranças civis do Estado de Minas Gerais. Os chefes militares da época não se omitiram de assumir os riscos inerentes ao desafio, e agiram com coragem moral e decisão, afastando a ameaça.

Em 15 de abril de 1964, o marechal Castello Branco foi empossado na presidência pelo Congresso Nacional, sob a plena vigência da Constituição de 1946. Graças ao planejamento estratégico, a economia teve um crescimento contínuo e sem precedente, a despeito da subversão comunista e das crises do petróleo de 1973 e 1978. Em 20 anos, o Brasil saltou do 47º para o 8º lugar no ranking mundial.

Passado o ciclo revolucionário, a ausência de um projeto de futuro deu espaço às políticas errantes de cunho populista que vêm transformando o nosso país em uma autarquia clientelista de fundo fascista.

O legado de desprendimento, coragem e patriotismo de 31 de março de 1964 permanece vivo e inapagável, para exemplo da honra de uma geração às gerações futuras.

31 DE MARÇO DE 1964 – Uma lição histórica

O Brasil de hoje vive uma realidade kafkiana, um cenário impossível, que se tornou real. Os infaustos de 8 de janeiro parecem ter sido maquinados para justificar o obscurantismo de uma repressão implacável e ilegal. Centenas de inocentes seguem ainda confinados, à margem das garantias constitucionais, para exemplo perverso a milhões de outros brasileiros descontentes.

Inibido o povo de exercer a própria soberania, instalou-se no país a paz dos pântanos, polífica de miasmas de ódio, insegurança jurídica e desesperança. Nestas condições, não pode haver harmonia e, menos ainda, governabilidade.

Apesar das tênebras, no entanto, resta viva a semente plantada por milhares de anônimos que, na humildade da mensagem revestida da Bandeira nacional, traduzia a insatisfação manifesta com os desmandos e o anseio por justiça, liberdade e autonomia.

Decorridos 59 anos do 31 de março de 1964, permanecem latentes os motivos de repulsa ao patrimonialismo atávico de um mecanismo renitente, e persistem frustrados os mesmos anseios das gerações anteriores.

Como não pode um sonho intenso, um raio vívido de amor e esperança permanecer eternamente sufocado, após a catarse em curso e sob o influxo do exemplo histórico, haverá novamente de brilhar o sol da liberdade em raios fúlgidos, para que o Brasil reencontre o caminho da fraternidade e do progresso.

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