O estranho encontro do assessor de Lula com ditador Maduro
15/03/2023 às 07:29 Ler na área do assinanteTentando justificar a injustificável visita à Venezuela do assessor especial da Presidência, Celso Amorim, a imprensa engajada soltou um "balão" de ensaio que Amorim teria ido cobrar a dívida de quase 682 milhões de dólares (R$ 3.558,06 bilhões) que a Venezuela tem com o governo brasileiro.
O primeiro resultado prático dessa visita é a desmoralização total do Ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, pois em contato oficial entre o 1º escalão, o Brasil deveria ser representado pelo mandatário (Lula) ou pelo chefe do Itamarati.
"Não sei se é dívida só com o BNDES. Há uma questão de seguro de crédito. Mas não fui com uma missão técnica, fui apenas com dois assessores diretos.
Não houve nenhum esboço de negação da dívida e há total disposição de acertar. Não me cabia conversar se vai acertar em uma vez, duas vezes, mas há disposição em reprogramar e ressarcir", afirmou Amorim a um grande jornal paulistano.
A ditadura venezuelana nem sequer cogita pagar qualquer credor e mesmo que quisesse não dispõe de divisas para tanto.
O que nos leva a verdadeira questão sobre essa viagem, afinal o que uma pessoa da confiança pessoal de Lula foi fazer na Venezuela?
O país comandado com mãos de ferro pelo ditador Nicolas Maduro, onde todas as liberdades individuais, imprensa livre e liberdade de expressão foram suprimidos com muita violência. A Venezuela, um país repleto de riquezas naturais e com grande potencial econômico, vive a sua pior crise da história.
A carestia é imensa no país, faltam alimentos, remédios e até papel higiênico. Mais de 20% da população deixou o país, cerca de 7 milhões de venezuelanos fugiram, muitos a pé. A maior crise de refugiados do mundo – porém o assunto não ganha as manchetes globais porque muitos governantes têm relações impróprias com o regime Maduro, incluindo aí a França, a Espanha, a Rússia e o próprio Brasil.
A Venezuela também tem a maior inflação do mundo com mais de 156% ao ano. Como um governo assim se mantém em pé?
Com as Forças Armadas totalmente aparelhadas, não existe um oficial no exército, aeronáutica ou marinha que não seja 100% alinhado com Maduro – os que divergiam foram presos, executados ou fugiram do país.
Amorim insistiu na narrativa para o Estadão:
"Falamos de todos os assuntos. Eu não fiquei questionando-o (Maduro), mas ele sabia que eu iria me encontrar com a oposição e não criou nenhuma dificuldade para isso", afirmou Amorim.
Como se cobra 3,5 bilhões de reais sem questionar o devedor?
"Foi uma visita para ter o contato, mostrar que a gente tem interesse em ter uma relação importante, contribuir com uma retomada, na medida das nossas possibilidades econômica; conversar sobre estabilidade política e também sobre a democracia. É um processo que já está em curso, o diálogo", afirmou Amorim, ministro das Relações Exteriores durante os dois primeiros mandatos de Lula, de 2003 a 2010.
Estou certo que Celso Amorim e o ditador da Venezuela, Maduro, que trataram de muitos assuntos importantes e sigilosos para o PT, mas pagamento de divida e democracia não foram pautas dessa reunião.
Eduardo Negrão
Consultor político e autor de "Terrorismo Global" e "México pecado ao sul do Rio Grande" ambos pela Scortecci Editora.