Em "massa", jornalistas estão deixando a Globo por falta de "perspectivas"
03/03/2023 às 14:17 Ler na área do assinanteNatália Ariede, repórter respeitada na Globo, com 17 anos de casa, foi poupada das centenas de demissões que a emissora fez em 2022 – mas para a surpresa de todos, ela agora, voluntariamente, acaba de pedir demissão. Basicamente, ela disse que seu ciclo na emissora estava encerrado.
Não faz muito tempo que os coleguinhas jornalistas ‘se matavam’ por uma vaga na poderosa Globo. Isso mudou.
"Cada dia mais pessoas têm saído da Globo por falta de oportunidade de crescimento", revela uma pessoa de dentro da emissora que não quis se identificar.
Outra questão é que os mesmos jornalistas que se sentiam a vontade para bater no ex-presidente já não se sentem tão confortáveis em defender o governo Lula, especialmente com erros grosseiros de posicionamento, declarações e decisões econômicas.
Por outro lado, voltando no tempo, vale lembrar o caso da apresentadora alagoana Michelle Barros, que vinha em franca ascensão na emissora, inclusive ancorando a transmissão do Carnaval de SP. Para surpresa de todos, em maio do ano passado, ela pediu demissão.
E assim explicou sua saída:
"Já havia um tempo que percebi que estava chegando a uma posição que não teria muito mais para onde ir. Percebi que chegou o momento de encerrar o ciclo e me lançar em novos desafios".
Razões semelhantes levaram Elaine Bast a deixar a Globo, na mesma época. Apesar de trabalhar como jornalista, Bast é economista de formação e queria crescer com quadros de jornalismo econômico, mas suas sugestões foram ignoradas. Sentindo-se desprestigiada, pediu demissão.
Recuando ainda mais no tempo, Rosana Jatobá rompeu com o canal por falta de oportunidade, em 2012. Em entrevista no ano passado, ela contou que não encontrou espaço para uma editoria de sustentabilidade.
"Quando eu cheguei para o meu chefe na época com uma editoria de sustentabilidade pronta, projetos escritos e tudo bonitinho, não havia interesse da TV aberta em divulgar essas questões", explicou Jatobá.
A verdade é que a Globo ainda está presa num passado analógico, ela se recusa a interagir com sua audiência e com seus colaboradores. A corporação ainda tem ilusão de recuperar o monopólio do discurso que ela teve nos anos 70, 80 e 90.
Até nisso a direção da empresa compactua com o discurso de Lula que acha que pode reverter a revolução causada por aplicativos como Uber ou iFood, apelando aos jurássicos sindicatos.
Ambos perderam o bonde da história.
Eduardo Negrão
Consultor político e autor de "Terrorismo Global" e "México pecado ao sul do Rio Grande" ambos pela Scortecci Editora.