Da triste realidade, onde política e corrupção se fundem desgraçadamente, todos os outros crimes se originam. Quando o crime organizado se institucionaliza, de forma tão abrangente e vergonhosa como se tem visto, acaba inevitavelmente, ferindo de morte nossa autoestima e principalmente, nos faz desacreditar de vez na classe política, que, por prudência e pelo descredito merecido, fica difícil fazer exceções. É mais prudente o descrédito coletivo, que esperar a decepção da próxima lista de indiciados, delatados, etc.
A promiscua relação do financiamento político no Brasil por Estatais e grandes empreiteiras de diversas áreas, aponta para um gigantesco ralo por onde escoam vultosas somas dos recursos públicos. Onde, indefinidamente opera vasto trafego de influência, que como se mostra, nas delações da Força Tarefa da Lava Jato, não se limita a um ou outro partido da base do Governo. Mas sim, está entranhado nos mais diversos políticos e seus partidos, quer sejam da base de apoio do Governo, quer seja de oposição.
A verdade é que vivemos a mais crítica crise moral da história política desse país! Qualquer discurso em tom acusatório que se faça por membros das duas casas do Congresso Nacional, perece ser um monologo cara a cara com o espelho. Muitas vezes o acusador é também o réu em várias frentes de investigação! Uma prova de que generalizar não é exagero, tem-se nos Presidentes das duas casas legislativas o exemplo disso: Renan Calheiros e Rodrigo Maia, tem seus nomes envolvidos em delações da Lava Jato. A cassação e prisão de Eduardo Cunha foi apenas a remoção de um pequeno cisco em meio a essa sujeira em que se tornou a política brasileira.
A sensação de que estamos jogados aos leões e lesados por quem deveria nos representar, está explicitamente evidenciada nas tentativas de calar juízes e promotores, aprovando a lei de responsabilidade por abuso de autoridade, aproveitando de forma sorrateira o desvio da atenção da imprensa e dos brasileiros em meio a comoção e luto nacional. Para completar o escarnio com os interesses do povo e conter as investigações da Lava Jato, desfiguraram de tal forma a Lei Anticorrupção, que a tornou irreconhecível. Das dez medidas propostas, apenas quatro foram aprovadas e mesmo assim parcialmente.
Por fim, ao mesmo tempo em que temos que conviver mesmo que indignados, com essa vergonha nacional chamada corrupção, que se enraizou nos mais diferentes segmentos e níveis de governo, ainda temos que administrar a contragosto, uma crise financeira de consequências sem precedentes e que ainda promete perdurar. Com a enxurrada de delações de executivos da Odebrecht, parece que teremos que viver com essa vergonha sem fim.
Autenir Rodrigues de Lima