"Sistema" implodindo de dentro para fora?

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Há uma frase emblemática que diz que o discurso convence, mas o comportamento ou o exemplo, arrastam.

Tenho mantido um silêncio defensivo com relação ao cenário político brasileiro, praticamente desde as eleições presidenciais de segundo turno de 2022.

Não gostei dos resultados nem da forma como a eleição foi conduzida. 

Já deixei isso claro em inúmeras postagens e manifestações públicas. 

A democracia – ainda que capenga como está a nossa – é o pior sistema, mas é o único possível. 

E exige paciência. 

Além do mais, a vida continua e se não sairmos do círculo vicioso que só critica, acabamos esquecendo de exercitar as ações, que em política são os fundamentos das mudanças que queremos que aconteçam, sempre pelo voto.  

Feitas essas considerações, é da nossa tradição dar uma trégua à gestão que inicia o mandato nos primeiros 100 dias – ainda que não seja aquela que seja do nosso agrado. 

Não sei de onde vem isso. Mas é saudável...

Contudo, tem situações que não podem passar em branco. 

O governo recém iniciado é um mostruário de indecências políticas. 

Mas sobre isso, vou me pronunciar no tempo certo. 

Nesta semana o ex presidiário deu uma declaração alegando que o impedimento de Dilma Rousseff foi um “golpe” orquestrado pelo vice-presidente Temer. 

Quem leu “Tchau, Querida!” de autoria do ex-Deputado Eduardo Cunha (Presidente da Câmara dos Deputados no impeachment de Dilma), sabe como as coisas aconteceram nas entranhas do poder, detalhadamente (tenho como um livro indispensável para entendermos o Brasil de hoje). 

Uma sujeirada! 

É óbvio que não foi um golpe. Foi um assepsia de uma pústula política que agora retorna como recidiva ao poder com Lula. 

O relevante desse fato é que Lula abriga em seu ministério, nada mais nada menos que 5 ministros que, quando parlamentares no exercício do mandato, votaram pela extirpação de Dilma. 

Então, por lógica, o descondenado acusa o “golpe” mas abriga golpistas?

Na cara dura? 

Coerência? Nix? 

De outro lado, em resposta à acusação de Lula, Temer disse que “se houve golpe, à nomeação de Moraes para o Supremo Tribunal Federal – feita por ele quando assumiu a presidência - é ilegítima” já que um governo nascido de um golpe não teria densidade nem legitimidade democrática em seus atos. 

Contudo, há uma sutileza nessa briga da cachorrada!

A dialética é um método científico de interpretar as falas e comportamentos, pelo contexto em que os diálogos acontecem, sempre com a análise lógica das ideias e conceitos pela qual se revelam as verdades e as mentiras de cada debatedor. 

Então, é de se perguntar: 

- Temer quis dizer com sua fala que sem Alexandre de Moraes no STF Lula não teria sido eleito? 

Se a resposta for sim, podemos chegar a outras conclusões que também envolvem a legitimidade da eleição do atual governo.

Essas divergências seriam as confissões tácitas da existência de um acordão para eleger o atual governo? 

E que atualmente há uma briga intestina nos corredores do poder, com quebra de compromissos por parte dos eleitos revelados pelas declarações boquirrotas do descondenado? 

Pensar faz bem! 

E perguntar não ofende! 

Ouvi de um experiente analista político que o desabrochar da verdade surgiria de dentro do próprio sistema.

Malandro demais dá nó nas pernas...

Será? 

Foto de Luiz Carlos Nemetz

Luiz Carlos Nemetz

Advogado membro do Conselho Gestor da Nemetz, Kuhnen, Dalmarco & Pamplona Novaes, professor, autor de obras na área do direito e literárias e conferencista. @LCNemetz

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