Instinto ou inveja
Das fraquezas humanas nas relações interpessoais
08/12/2016 às 12:10 Ler na área do assinanteO instinto pode ser um impulso espontâneo e independente de reflexão, por isso, não necessariamente decorre de uma má postura proposital, como há de ser quando a pessoa está em estado de necessidade e comete ato ilícito. Mas, também, pode ser uma aptidão inata da pessoa que, sem pressupostos justificadores de suas atitudes, leva-as a cabo por mero egoísmo.
Já, a inveja, é uma deformidade das qualidades basilares do caráter; uma maneira de admiração às avessas.
Excluo, pois, os boçais, os néscios e os doentes de capacidade cognitiva reduzida ou nula.
E nós, ainda hoje, nos surpreendemos com a realidade mais primitiva da raça humana: poucos são os amigos que temos.
Nossa necessidade gregária é só uma necessidade; nada além disso. E nossas crenças, educação, saber, ética, moral e instinto, instinto principalmente, nos empurram a relacionarmo-nos com muitas pessoas. Relação, pois, não implica amizade. São e serão poucos os amigos verdadeiros que estarão conosco até o fim.
A maioria que nos cerca tem sempre um interesse maior, que não é o de o ver feliz com o seu sucesso ou preocupado com as suas derrotas. Em suas consciências subjaz o desejo apaixonado de vê-lo em desalento para poder se apresentar como o seu consolador “ombro amigo”. E como o diabo mora nos detalhes, esses são os mais deletérios. Não importa o quanto você esteve a apoiá-los em várias ocasiões, porque quando chega o momento o instinto de sobrevivência sobrepõe-se a qualquer sentido de amizade e tudo se convola em concorrência.
Conte os seus sucessos para alguém! Se esse alguém se comprazer de sua alegria, pode contá-lo como amigo; caso se espante ou revele expressão miasmática, marque-o com uma estrela; não é seu amigo, é uma doença que o ronda. Infelizmente, mas verdadeiro, as pessoas estão se tornando cada vez mais utilitaristas, e no campo das “amizades” revela-se a primacial importância das relações interpessoais que se resume numa questão: – Como posso usar essa pessoa a meu favor? Não seria de todo ruim se essa frieza viesse condimentada com ética e moral, pois, esses são os freios civilizatórios; e há muita gente por aí desgovernada sem poder – ou sem desejar – interromper o movimento, pois, não tem a consciência da moderação e contenção que devem nortear posições e atitudes.
Não se trata de preconceito, mas de mera constatação da realidade. Aliás, preconceito “é um julgamento prévio, especialmente ao se caracterizar como prematuro ou apressado. Opinião preconcebida; viés favorável ou desfavorável; predisposição, especialmente com conotação desfavorável. Uma predileção ou objeção injustificada”. (Oxford, Dictionary).
Posso dizer, portanto, que o preconceito é um enorme engano prestes a se consolidar.
Santo Tomás de Aquino assentou que “toda pessoa, em tudo que faz, busca a própria felicidade, ainda que pratique o mal para alcançá-la (...)”.
O mar só parece calmo porque o observamos na superfície ignorando as correntes revoltas que potencializam a sua energia perigosa escondida nas suas profundezas; algumas pessoas – aqueles falsos amigos – são por fora um mar calmo que esconde perigos abaixo da superfície. Mas, tal como o mar, de repente exibem toda a sua hostilidade em ondas impacientes e devastadoras.
Termino por aqui, mas, não sem antes alertar que também nós próprios somos pessoas em relação às outras, com intensa e inescapável probabilidade de estarmos cometendo as mesmas falhas, por isso é imprescindível que nos vigiemos para corrigir a rota a tempo de evitar o desastre pessoal.
JM Almeida
JM Almeida
João Maurino de Almeida Filho. Bacharel em Ciências Econômicas e Ciências Jurídicas.