Não sei por que, não me perguntem por quê, lembrei-me desse bom e velho filme de 1973. Nele, os jovens Paul Newman e Robert Redford, no papel de vigaristas, vingam-se de Robert Shaw, responsável pela morte de um parceiro aplicando-lhe brilhante golpe de mestre, em que nada é como parece ser.
Ontem, 12 de dezembro de 2022, o verão diz a que vem em Porto Alegre e a temperatura deve elevar-se a 34 graus. Em Brasília, nublada como os tempos atuais, foi formalizada a entrega do atestado de óbito da moralidade em nosso país. É um ato necessário, preliminar às exéquias previstas para o dia 1º de janeiro.
Impunha-se a antecipação da formalidade ante as angústias suscitadas pela paciente e disciplinada pressão popular. No dizer da mídia adestrada, de pudor restrito, trata-se de pessoas “com cabelos brancos”, aposentadas, acomodadas em barracas e em cadeiras de praia. Ela os vê como desprezíveis, mas perigosos vovôs e vovós falando de valores inconciliáveis com os destinos que ela, mídia adestrada, anseia para a nação.
Nada sei dos próximos dias. Mas penso saber mais do que suficiente sobre os últimos anos, meses e dias para entender o acontecimento funesto de ontem. Os discursos não guardam qualquer semelhança com a realidade. Tudo se passou como se o ato não fosse fúnebre. Afinal, o empossado fez discurso político até no velório da esposa. Por que não o fazer de modo festivo, com gratificados tapinhas no rosto, como corifeu da miséria moral, quando a virtude recebe seu atestado de óbito?
Fim do filme?
Percival Puggina
Membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.