Neste Inglaterra x França pela Copa de 2022 é dever dos franceses pedirem perdão a Joana d'Arc

06/12/2022 às 16:47 Ler na área do assinante

Num ou noutro jogo desta Copa do Catar, o mundo viu gestos de protestos. Os jogadores do Irã não cantaram o hino de seu país. Na foto oficial em reprovação à censura, os jogadores da Alemanha tamparam a boca com a mão direita... E quis o destino, perto ou mais de sete Séculos depois, que Inglaterra e França se enfrentem na fase de quartas de final.

Inglaterra e França são dois países que têm covarde e triste história. Por mais de cem anos (1337-1453) os ingleses ocuparam o território francês. Tudo porque, no início do Século XIV, Eduardo III, rei da Inglaterra, por ser filho de Isabela, princesa da dinastia fundadora do Reino da França, se achava no direito absoluto de também assumir o trono francês, uma vez que seu avô materno era o rei Felipe IV, também chamado de "Belo".

E isso foi o bastante para que Eduardo III tenha se autodeclarado herdeiro do trono francês. Então, começou a guerra, um dos mais sangrentos e duradouros conflitos da História e que persistiu por 116 anos. Mas passemos adiante e vamos até Joana D'Arc.

Nascida em 6 de Janeiro de 1412, no vilarejo Domrémy-la-Pucelle, Jeanne d'Arc era filha de Jacques D'Arc  e Isabelle Romée, que viviam dos produtos de sua terra e da criação de ovelhas. O casal teve quatro outros filhos: três meninos e uma menina.

Aos 13 de idade o comportamento de Joana D'Arc mudou. Deixou de ser uma jovem como as demais de sua época e região e passou a rezar o dia inteiro e praticar gestos de piedade e compaixão para com o próximo. Foi quando começou a ter visões de anjos e santos e ouvir suas vozes, sobretudo de São Miguel, da Virgem Maria e de Santa Catarina. Visões e vozes a exortavam a libertar a França e seu rei, sob o jugo inglês.

E foi com a ajuda de um capitão francês - Robert de Baudricourt - que Joana conseguiu ser recebida pelo delfim que ouve os relatos da jovem sobre as vozes e as determinações e Joana lhe faz quatro profecias: os ingleses haveriam de levantar a ocupação de Orléans, o rei seria coroado em Reims, Paris retornaria ao poder real de Carlos (o delfim ) e o duque de Orléans ficaria livre de seu cativeiro na Inglaterra. Impressionado com a segurança que Joana demonstrava no que dizia, o delfim lhe concede então um pequeno exército para agir contra a invasão dos ingleses.

Vitoriosa, a França, enfim, foi libertada. Em 17 de Julho de 1429, Carlos VII é coroado rei da França na catedral de Reims.  Na ocasião da coroação, Joana D'Arc disse estas palavras ao lado do Rei:

"Nobre rei, assim é cumprida a vontade de Deus, que desejava que eu libertasse a França e vos trouxesse a Reims, para receberdes esta sagrada missão e provar à França que sois o verdadeiro rei".

Mas a heroína foi traída. Logo em seguida Joana D'Arc foi vendida para os ingleses que decidem julgá-la por um tribunal eclesiástico da tenebrosa e terrível Idade Média. A acusação: bruxaria. Em vista disso foi condenada a morrer na fogueira, barbárie que ocorreu na Place du Vieux-Marché, em Rouen, em 30 de maio de 1431, perante mais de 10 mil pessoas, como relatam os historiadores.

Passados 25 anos depois da execução, Joana é "reabilitada"!! pelo papa Calixto III. E em 1920, é canonizada por Bento XV e desde então é a padroeira da França.

A história é longa. E aqui está resumida a fim de dizer que nesta Copa do Mundo de Futebol, jogadores da França - e também da Inglaterra (por que não?) - e também por todos os torcedores que estiverem no estádio do Catar, todos têm o dever de render, antes da partida, um minuto de silêncio em homenagem, em respeito, em desagravo e louvor a Joana D'Arc. Ou, então, uma salva de palmas à "la Poucelle" (donzela, em francês) de Domrémy. 

Queira ou não queira esta nojenta, repugnante e podero$a FIFA - presidida pelo suiço-italiano Gianni Infantino, que esteve no Brasil para o velório dos jogadores da Chapecoense, mas não derramou uma  lágrima. E nem deu um centavo de doação para o amparo das famílias dos atletas mortos. Queiram ou não queiram as federações de futebol de França e Inglaterra. É um dever cívico, de gratidão... É outro pedido de perdão àquela jovem francesa de 19 anos que libertou a França do jugo dos ingleses e que depois acabou morrendo viva na fogueira justamente pela vitória alcançada.

Jorge Béja

Advogado no Rio de Janeiro e especialista em Responsabilidade Civil, Pública e Privada (UFRJ e Universidade de Paris, Sorbonne). Membro Efetivo do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB)

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