O jornal Estadão traz o escandaloso caso da conhecida FGV, alvo da Operação Sofisma da Policia Federal que constatou movimentações financeiras suspeitas na casa de R$ 487 milhões de reais, totalmente incompatíveis com os ganhos dos diretores e ex-diretores da instituição envolvidos.
Pior, quebras de sigilo identificaram o envio de pelo menos R$ 36 milhões de reais ao exterior para contas em paraísos fiscais.
Porque professores e pesquisadores precisavam de contas em paraísos fiscais? É um mistério.
Uma investigação dessas com valores na casa dos U$ 90 milhões de dólares seria manchete em qualquer lugar do mundo. No Brasil, não apenas a mídia silencia sobre o fato mas ninguém questiona a decisão de suspender as investigações pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes. Até porque o inquérito ainda corre em 1ª instancia e como a Fundação Getúlio Vargas, nem seus diretores dispõe de ‘foro privilegiado’ não seria matéria para o STF.
Apenas o ex-vice-presidente Sergio Franklin Quintella teria um saldo de R$ 34 milhões nas Ilhas Granadinas, no Caribe. Porque um diretor de universidade precisa ter contas num paraíso fiscal tão remoto?
O atual diretor executivo da FGV Projetos, Luiz Carlos Guimaraes Duque é suspeito de receber R$ 5,6 milhões entre 2011 a 2016 (época do Governo Dilma) via empresas de fachada.
No seu despacho que suspendeu as investigações, o ministro Gilmar Mendes, determinou ‘imediata devolução’ de celulares e computadores apreendidos e justificou dizendo que a Justiça Federal carioca não tinha competência para conduzir a investigação.
É incrível como toda investigação contra corrupção no Brasil quando envolve ‘peixes grandes’, são sempre conduzidas no foro errado? A Lava-Jato por exemplo, mesmo acompanhada por um ministro do STF desde o início (Teori Zavascki num 1º momento depois Edson Fachin) , após a conclusão, de bilhões de reais recuperados, dezenas de bilionários e políticos presos, delações comprometedoras – magicamente descobriu-se que foi conduzida no Foro errado e todo mundo foi liberado.
Um dos argumentos usados foi que a FGV é uma ‘entidade internacionalmente reconhecida, que há muito contribui com para o desenvolvimento da pesquisa no Brasil’. É possível, mas as instituições são ‘reconhecidas’ até deixar de sê-lo.
A própria empreiteira Odebrecht também era ‘internacionalmente reconhecida’. A empresa energética americana ENRON também era, até protagonizar uma fraude que provocou uma crise mundial em 2008. O banco nova-iorquino fundado no século XIX, Lehman Brothers, era infinitamente mais reconhecido internacionalmente do que a FGV e isso não o salvou de ir a falência por fraudes no mercado imobiliário.
Ou seja, sua integridade passada não é salvo conduto para ilegalidades futuras.
Eduardo Negrão
Consultor político e autor de "Terrorismo Global" e "México pecado ao sul do Rio Grande" ambos pela Scortecci Editora.