Sem foro, tem Moro!

Ler na área do assinante

É inadmissível o que está acontecendo no Palácio do Planalto. Contrariando as demandas urgentes de um país à margem da conflagração, o presidente Michel Temer insiste atender exclusivamente aos interesses privados — e criminosos — de seu grupo político e revelar profundo desprezo pelo Brasil. Cresce, paulatinamente, o risco de uma grave e violenta insurreição popular contra a elite política encastelada em Brasília.

A mixórdia alcançou seu apogeu na terça-feira, 22 de novembro, quando o líder do governo na Câmara divulgou um “documento de desagravo” ao ministro de Estado acusado de usar seu cargo para beneficiar um milionário empreendimento imobiliário na Bahia. Os principais líderes da base governista são signatários do instrumento e marcharam rumo ao Palácio do Planalto para, numa dependência institucional da República, aviltar princípios éticos basilares.

Definitivamente, está esgotada a paciência com o governo de Michel Temer. Como bem disse, em 2002, o saudoso ex-presidente Itamar Franco, “são percevejos de gabinete”. Ao invés de tentar curar os males, os atuais mandatários parecem investir na disseminação da fedentina e em sucessivas articulações para abafar escândalos e macular as investigações da Operação Lava-Jata e seus afluentes.

Desvergonha em larga escala, enquanto sustenta seres abjetos no alto escalão, o Palácio do Planalto está preocupado apenas com emojis de vômito nas redes sociais como forma de protesto contra Temer. Parece até piada, mas não é. De acordo com o colunista Lauro Jardim, de O Globo, o governo, na ausência de algo mais importante a fazer, procurou a administração do Facebook para descobrir como se livrar das carinhas enojadas, símbolo óbvio de um país que não suporta mais ser tratado como trouxa e convidado a pagar as contas caríssimas de Suas Excelências.

É preciso esclarecer o detalhe de maior envergadura nesta nauseabunda história: a inépcia da Presidência da República e a condescendência dos Três Poderes com os bandidos de colarinho-branco que ilustram seus quadros são diretamente proporcionais à excrescente prerrogativa de foro privilegiado. Como muito bem disse o Prof. Dr. Joaquim Falcão, da FGV, em entrevista ao jornalista Roberto D’Ávila na GloboNews, “hoje, o Supremo Tribunal Federal é o CEO das incertezas nacionais”.

Não por acaso, os cidadãos brasileiros já perceberam a diferença brutal entre políticos corruptos candidamente acolhidos pelo STF e o tratamento correto, legítimo, eficaz e, sobretudo, célere dado aos pilantras nacionais sem foro privilegiado pelo juiz federal Sérgio Moro e pela força-tarefa no Paraná e, agora, no Rio de Janeiro.

Também não é por acaso que as redes sociais consagraram uma nova e emblemática hastag, capaz de tirar o sono de nove em cada dez políticos brasileiros da atualidade, inclusive do atual presidente da República: #semFOROtemMORO!

HELDER CALDEIRA, Escritor.

www.heldercaldeira.com.br – helder@heldercaldeira.com.br

*Autor dos livros “Águas Turvas”, “O Eco”, “Pareidolia Política”, entre outras obras.

Foto de Helder Caldeira

Helder Caldeira

Escritor, Colunista Político, Palestrante e Conferencista
*Autor dos livros “Águas Turvas” e “A 1ª Presidenta”, entre outras obras.

Ler comentários e comentar