O último reduto de Lula e do PT: os ‘bolsa-famílias’

Ler na área do assinante

Os ‘bolsa-famílias’ é uma denominação aqui adotada para caracterizar os beneficiários dos programas sociais criados ou expandidos pelo PT, mediante a transferência de recursos em espécie. Envolvem, principalmente, os beneficiários do bolsa-família, da LOAS (Lei Orgânica de Assistência Social) que abrangem os idosos e os portadores de deficiência, sem outras fontes de recursos familiares, os aposentados por invalidez que recebem o piso e os aposentados rurais. Com exceção do bolsa-família, os beneficiários recebem pelo menos, um salário-mínimo. 

Esse segmento social que, em função do programa saíram da miséria para a pobreza, e passaram a ter capacidade de consumo de bens monetários, isto é, bens comprados em moeda, é profundamente grato ao PT e idolatram Lula, mostrado a eles como o grande benfeitor. Obrigados a votar, Lula é sempre a primeira opção. A segunda é quem ele indica ou apoia expressamente. Lula é o ídolo e qualquer colocação negativa sobre ele é interpretado por essa população, como intrigas, invejas, acusações de inimigos. É e será para a maioria dela, um santo imaculado. Se for preso será um mártir. Como foi Jesus.

Os ‘bolsa família’ podem ser desdobrados em dois subgrupos principais em função da localização: o primeiro ainda mora nas áreas rurais, mesmo quando próximas aos centros urbanos e o segundo já mora dentro das cidades, em geral nas periferias, em favelas e outros aglomerados precários. Subnormais na linguagem oficial.

Os primeiros, com os programas sociais se libertaram dos ‘coronéis’ ou ‘donos das terras’ que os submetiam a uma dependência econômica. Não dependem mais de uma produção rudimentar para subsistência, tendo ainda que pagar um ‘pedágio’ para o dono. 

Vivem da agricultura familiar que ainda representa um grande número de famílias e eleitores, com uma diferença entre as regiões acima e abaixo do paralelo 16 (cuja referência principal é Brasília). Abaixo a agricultura familiar é predominantemente a organização adotada pelos produtores rurais, com pequenas propriedades, mas com inovações tecnológicas, elevada produtividade e independentes dos programas sociais. Acima a agricultura familiar é a organização de sobrevivência, mantendo ainda práticas rudimentares. Dependem dos programas sociais.

Em função da dependência, o PT atuou fortemente com um ‘terrorismo eleitoral’, disseminando a falsa versão de que os adversários, uma vez eleitos, iriam acabar com o Bolsa Família e demais programas sociais. Essa atuação ‘desconstrutiva’ foi decisiva para a reeleição de Dilma e o controle político de alguns Estados. Bahia e Minas Gerais foram os casos mais conhecidos. 

No nível municipal, essa estratégia ameaçou os Prefeitos que não apoiassem, em 2014, a candidata do PT a serem descredenciados. Já em 2016, fora do Poder Central, essa ameaça perdeu força e o PT viu o número de Prefeituras sob seu controle, cair cerca de 2/3. 

O Governo Federal não só manteve o Bolsa Família, como promoveu um reajuste dos valores, dando sinais de que dará continuidade ao programa. Os ajustes para expurgar casos irregulares, podem ser usados pelo PT, como sinais de suspensão ou extinção do programa. O que vale para os beneficiários não é a realidade mas a imaginação e a versão. 

No entanto, o PT não estando no controle do Governo Federal e, portanto, da gestão dos programas, a estratégia de ameaça da extinção dos programas terá menos força. Para o PT resta apenas o carisma de Lula. Esse eleitorado estará na mira dos demais partidos, cada qual manifestando a permanência do programa e tentando oferecer algo a mais. Quais dessas propostas serão absorvidas pelos bolsa-famílias, transformando-se em votos. Por enquanto não apareceu nenhuma proposta concreta, fora intenções genéricas.

Nas avaliações sociológicas ou da ciência política, esse povo foi liberto do coronelismo, da dominação dos donos das terras, para passarem ao controle de um populismo partidário e até messiânico que distribui dinheiro, mas agora oficial e por meios eletrônicos. Nada mais a metade da nota, ou apenas um pé da bota. 

Livraram se de um ‘atraso’ para cair em ‘novo atraso’. Saem de uma fila, mas encontram outra na sequência. Não são mais miseráveis, mas não passam da pobreza.

Nas áreas urbanas, o cenário é outro. Não foram apenas os comerciantes e prestadores de serviços que se beneficiaram da injeção de recursos dos programas sociais nas comunidades. Há uma forte presença do tráfico e das milícias. O tráfico desenvolve o mercado, vendendo drogas baratas aos bolsa-famílias e coopta os meninos para serem ‘aviões’. As milícias vendem ‘proteção’ aos comerciantes, prestadores de serviços e até mesmo os próprios beneficiários para poderem receber os seus valores, sem risco de serem assaltados. 

Não está claro ainda - pelo menos para mim - o impacto político-eleitoral dessa ‘captura’ pelo tráfico e milícias das comunidades dos bolsa-famílias urbanos. Os indícios da eleição municipal de 2016 são de que foram desfavoráveis ao PT.

Jorge Hori

Foto de Jorge Hori

Jorge Hori

Articulista

Ler comentários e comentar